31.1.09

Esta RTP não nos pode deixar tranquilos (act.)

Como é possível aceitar que o dito "serviço público" de TV (que o seu director de informação propala aos sete ventos que é "independente", mas que depois não o consegue demonstrar), nos seus jornais das 12h (RTPN) e 13h (RTP1 - Jornal da Tarde) tenha omitido uma investigação que o Correio da Manhã estampa na primeira página de hoje e que vem trazer dados, que qualquer cidadão desejará ver completamente esclarecidos, sobre a pouca transparência de negócios imobiliários do primeiro-ministro, e agora também da sua mãe, com Offshores? À noite, foi mais do mesmo: o Telejornal voltou a omitir o assunto. João Adelino Faria, que apresentou, já está a ser deglutido pelo "sistema".

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Ex-secretário de Estado: o Serviço Público de Televisão que nunca existiu

Querido amigo e colega, Mário Vieira de Carvalho (Ex-secretário de Estado do actual governo) escreveu há dias um artigo no Público (10 de Janeiro), com o qual concordo em absoluto, e que diz o que é necessário ser dito: que esta RTP não presta o serviço público a que está obrigada, o que significa, digo eu, que não tem legitimidade. É preciso ter consciência que as práticas da RTP denunciadas no artigo têm sido, historicamente, perniciosas não só em relação à identidade cultural do país, como também em relação à formação de uma opinião pública forte e "descolonizada", e, por conseguinte, em relação ao desenvolvimento do país. É preciso que se diga que, de facto, a RTP é, historicamente, e genericamente, uma máquina difusora de mediocridade e de amesquinhamento dos valores e da cultura de Portugal e dos portugueses. A reflexão de Mário Vieira de Carvalho ("A cultura que nunca existiu") ajuda a compreender porquê:

«(…) A cultura. Há uma que existe. Há outra que nunca existiu: aquela que a comunicação social silencia.

«Tanto mais grave é a situação quando consideramos a missão de serviço público atribuída por lei à RTP. É o exercício dessa missão que justifica a indemnização compensatória do Estado. Caso contrário, a RTP seria uma estação igual às outras. (…)

«No entanto, não é fácil distinguir a RTP de qualquer outro dos seus concorrentes privados. As estratégias de informação e de programação são tão semelhantes que, por vezes, parece haver, até, uma inversão dos papéis, assumindo os privados responsabilidades que a estação pública enjeita. Assim acontece frequentemente com os eventos culturais: a RTP ignora-os como uma maçada do serviço público; os outros, pelo contrário, parecem descobrir aí uma oportunidade para o alargamento das suas audiências. É o mundo às avessas.

«Em nome da sua autonomia, os directores de informação e de programas ditam as regras. Mas esquecem-se de que a sua autonomia está vinculada por um compromisso específico, diferente daquele que vincula os seus congéneres das estações privadas: o serviço público. Se alguém, porém, invoca este para os criticar - seja a administração, seja a tutela, seja qualquer outra entidade pública ou privada -, acenam logo com o espantalho da “ingerência”... É a receita para a desresponsabilização de todos.

«Nos noticiários de prime time nunca falham as reportagens e entrevistas sobre desporto. Mas os omnipotentes directores decidiram que não deve haver a mesma preocupação com coisas da cultura. Decidiram que são mal empregados os recursos e os poucos minutos exigidos para cobrir diariamente a estreia de um novo filme português, ou de uma peça de teatro, de uma ópera ou de um espectáculo de bailado, a publicação de um livro ou de um disco, a abertura de uma exposição, etc., etc. Omissões de que resultam grandes perdas para os agentes culturais - inclusive mensuráveis em valor económico -, e ainda maiores para o comum dos cidadãos. Desmotivados, e na ignorância do que se passa, estes vão menos ao cinema e ao teatro, lêem menos, frequentam menos as actividades artísticas. O investimento público na educação, na ciência e na cultura não é potenciado.

«O canal 2 continua a desconhecer em larga medida a produção nacional, lusófona, europeia, ibero-americana. Só por excepção transmite em directo ou em diferido espectáculos importantes, não comerciais, realizados em Portugal. A própria Antena 2 deixou de cobrir sistematicamente, e com algum critério, a actividade musical. O vazio em registos audiovisuais de qualidade da nossa produção artística está a transformar-se num buraco negro: o da cultura que nunca existiu.»

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30.1.09

Agora ou nunca...

O projecto da TELECINCO constitui a derradeira oportunidade para o país dispor de uma televisão de qualidade (sic).

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Televisão Paraíso (act.)

"Não existe interferência política na RTP" (AO online, 28/1): «Não há interferência política na Informação, quer do Governo, quer da oposição. (...) A afirmação é de Pedro Bicudo, Director da Rádio e Televisão nos Açores, num comunicado enviado às redacções, em resposta às dúvidas que tem sido levantadas nos últimos dias.»

Entretanto... RTP/A: Chefe redacção processa líder PCP/A e subcomissão Trabalhadores da RTP Açores (OJE/Lusa/30/1): «O chefe de redacção da RTP/Açores, Victor Alves, anunciou hoje que vai processar o líder regional do PCP e a subcomissão de Trabalhadores da estação pública no arquipélago por alegadamente lançarem na opinião pública "falsas suspeitas".

«Victor Alves adiantou à agência Lusa que vai recorrer ao tribunal para se defender de "falsas suspeitas" relativas a alegadas pressões políticas na informação e alinhamentos noticiosos da RTP/Açores e de um claro "ataque pessoal".

«A polémica estalou depois de o líder regional do PCP/Açores, Aníbal Pires, ter alertado para o facto de a "qualidade da democracia açoriana e dignidade dos profissionais" da televisão pública no arquipélago terem "sofrido graves atentados", acusando o Governo Regional de "tentar alterar alinhamentos e conteúdos noticiosos2.

«O Governo Regional reagiu a 19 de Janeiro, classificando as afirmações do dirigente comunista de "desrespeitadoras das instituições, das pessoas e uma falsidade".

«Também a subcomissão de Trabalhadores da RTP/Açores se pronunciou, esta semana, sobre "uma série de eventos que abalam a estabilidade e prestígio" da empresa, nomeadamente a "cascata de demissões" entre a equipa directiva, os dados que comprovam a existência de "uma atitude de pressão arrogante e prepotente" do Executivo na estação televisiva e a criação de um Gabinete de Apoio às Operações Regionais (GAOR), em Lisboa. Em comunicado, os trabalhadores da empresa consideram "urgente" averiguar a alegada ingerência do poder político na informação e alinhamentos noticiosos, frisando que não têm provas concretas de que ela ocorra.»

Entretanto... O Governo regional acha que pode criticar o trabalho de um jornalista e pode exigir explicações à RTP, acrescentando que isso não representa qualquer tipo de pressão política. ... "Parlamento aprova resolução apara nova audição do director da RTP/Açores" (Sapo/Lusa, 30 de Janeiro): «A Assembleia Legislativa dos Açores aprovou hoje, por unanimidade, uma proposta do PS para os deputados voltarem a ouvir o director da RTP/Açores, na sequência das polémicas que envolvem a empresa.

«Hernâni Jorge, da bancada socialista, justifica a apresentação da proposta com "as notícias recentes" sobre alegadas pressões do Governo à rádio e televisão pública dos Açores e também com a demissão de algumas chefias da RTP.

«O PS quer ainda avaliar, como já o fez há um ano, qual o grau de execução do serviço público de rádio e televisão nas ilhas.

«Clélio Meneses, do PSD, concordou com esta nova audição a Pedro Bicudo, por entender que a RTP está a atravessar "um período conturbado", quer em termos de organização interna, quer em termos de financiamento, que justifica agora clarificar.

«A situação da rádio e televisão dos Açores "está pior do que há um ano", no entender do deputado Artur Lima, do CDS/PP, que lamenta que desde a primeira audição ao director da empresa nos Açores (há um ano), os problemas se tenham agravado em vez de terem ficado resolvidos.

«Também Zuraida Soares, do Bloco de Esquerda, entende que os últimos acontecimentos na RTP "descredibilizam" a empresa, além de provocarem "instabilidade nos profissionais", situação agravada pelo "centralismo paralisante" do conselho de administração e pela "falta de meios, pessoal e instalações".

«O deputado Aníbal Pires, do PCP, aproveitou o debate em plenário em torno da proposta do PS, para repetir as acusações de "ingerência do Governo na RTP", adiantando que "não vale a pena fazerem ameaças", porque não tem medo de "provar" as acusações "no local próprio".

«Acusações repetidas também por Paulo Estêvão, do PPM, que diz que a "situação vulnerável da RTP" deve-se, em parte, ao Governo Regional, que aproveita as fragilidades financeiras da empresa para exercer "pressões políticas" junto das chefias e "controlar" o trabalho dos jornalistas.

«André Bradford, secretário regional da Presidência, recusou prontamente estas acusações, explicando no Parlamento que não se deve confundir ingerência com uma eventual crítica ao trabalho de um jornalista.

«O Governo regional, como qualquer instituição, como qualquer cidadão, pode criticar o trabalho de um jornalista e pode exigir explicações à RTP", clarificou o governante, acrescentando que isso não representa qualquer tipo de pressão política.

«O director da RTP/Açores já foi ouvido pela comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho, em Fevereiro de 2008, e denunciou, na altura, a falta de meios materiais, humanos e financeiros para um adequado desempenho do serviço público de rádio e televisão na Região.»

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26.1.09

Ainda a procissão do 5º canal não chegou ao adro...

24.1.09

Pressões sobre o semanário Sol denunciadas na TVI

Felícia Cabrita, entrevistada em directo no Jornal da Noite (TVI) de hoje, denunciou fortes pressões sobre o semanário Sol para que o jornal não voltasse a tratar o caso Freeport. Espantoso foi ver que o pivot, Júlio Magalhães, não a questionou sobre essas graves pressões que Felícia Cabrita acabava de denunciar em directo (provavelmente por considerar que foram apenas "démarches", seguindo o glossário da ERC, que, segundo consta, não reconhece essa coisa pouco moderna a que alguns teimam em chamar "pressões").

A denúncia de Felícia Cabrita é uma das mais graves questões surgidas no âmbito do regresso do caso Freeport aos media e vem aparentemente dar razão ao que hoje mesmo, no Público, Eduardo Cintra Torres escrevia sobre a guerra pelo controlo do semanário Sol, com a interferência directa do BCP, como uma estratégia da "ditadura político-financeira" do PS.

Poder-se-ia dizer, sobre este caso, que "se non è vero, è ben trovato", mas a gravidade destes assuntos sobre o controlo dos media em Portugal, ganha entretanto uma dimensão demasiadamente preocupante para podermos descansar sobre a qualidade da nossa experiência política nestes tempos de crise, onde pesporrências múltiplas, anunciam, cada vez mais, não uma gestão transparente da crise, ancorada na virtude da cidadania, mas provavelmente, no reverso, um regresso mais rápido à descrença e aos tempos de brasa política e social.

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Aprovada Lei do Pluralismo "raquítico" (act.)

PS aprova sozinho lei do pluralismo e não concentração nos meios comunicação social (Público online/Lusa, 23.01.2009): «A maioria socialista aprovou hoje em votação final global a nova lei do pluralismo e da não concentração nos meios de comunicação social, com os votos contra de todas as bancadas da oposição (...) A lei impõe que o Estado, autarquias e governos regionais “não devem prosseguir actividades de comunicação social, excepto aquelas que se enquadram no serviço público de rádio e de televisão e da agência de notícias.»

Novas sobre o "pluralismo raquítico" do reino

Ainda sobre o “pluralismo raquítico”

32 meses depois... para que serve mesmo a ERC?

Pluralismo, Censura e Serviço Público de Televisão

Afinal andamos todos enganados... ou de como Santos Silva faria bem em ler M. M. Carrilho

Ou há moralidade... ou não há jornalismo

Pluralismo que rima com raquitismo

Serviço Público de Televisão, Pluralismo, Independência, TDT, 5º Canal…

Violação do dever de pluralismo da RTP (2002-2008)

Liberdade de expressão cai em Portugal

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TDT avança... por satélite

Quando a TDT avança... mas por satélite (La TDT echa mano del satélite para cumplir los planes de cobertura, El pais, 23/1): «Paradojas de la televisión. La tecnología digital terrestre echa mano del satélite para cumplir los compromisos de cobertura adquiridos por el Gobierno. El alto coste de llevar las señales a zonas de escasa población o de especiales dificultades orográficas está propiciando que el transporte de las nuevas señales se realice a través del satélite. Es el método más rápido, eficaz y barato. Pese a todo, la expansión de la TDT supondrá un fuerte desembolso económico. El Ministerio de Industria invertirá este año 75 millones de euros y las comunidades autónomas emplearán abundantes fondos públicos para que la televisión llegue a todos los rincones. Sólo en León, la diputación calcula que necesitará 12 millones de euros para llevar la TDT a 440 poblaciones desperdigadas, en las que viven alrededor 35.000 personas.»

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23.1.09

TDT: Sócrates repete erro de Cavaco

Novo canal entra num mercado onde a oferta já é maior que a procura (Jnegocios online, 23/1): «Actualmente, a oferta de "breaks" publicitários é já maior do que a procura dos anunciantes.

«"Os canais em sinal aberto que hoje operam chegam ao final de cada ano sem conseguir vender todos os minutos que têm disponíveis para publicidade. Ao contrário do que se verificou em Espanha com o alargamento do mercado televisivo a gerar crescimento do mercado publicitário, por cá o mercado está em letargia há já vários anos. Na última década, tivemos um crescimento acumulado de 5% que nem sequer conseguiu acompanhar a inflação", analisa André Freire de Andrade, CEO da agência de meios Carat.»

No fundo o que se está a fazer é repetir o erro de Cavaco em 1991, quando o governo autorizou dois canais generalistas num mercado que não os suportava. Daí para cá e em boa parte derivado a isso, a debilidade da paisagem mediática portuguesa tem se acentuado. Está à vista que este 5º canal agravará a muito precária situação dos media em Portugal, que se arrasta de forma mais acentuada desde o ano 2000.

BE: 5º canal agrava crise dos media

Canal Telecinco mais caro que o rejeitado de Rangel (DN, 23/1)

Filha de Rangel candidata-se (CM 23/1)

A crise e o "peditório" para a TDT (act.)

Umas quantas maldições sobre a coitada da TDT

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22.1.09

BE: 5º canal agrava crise dos media

Fernando Rosas admite que pluralismo pode ficar comprometido. Bloco de Esquerda criticou concessão de quinto canal televisivo (Público online/Lusa 22.01.2009):«O Bloco de Esquerda considerou hoje que a concessão do quinto canal televisivo é um erro estratégico. Segundo Fernando Rosas, a acção ameaça a qualidade da oferta televisiva e a sobrevivência da imprensa, e pode conduzir à redução do pluralismo informativo.

«A declaração foi feita durante o plenário da Assembleia da República, o deputado do BE criticou esta concessão, manifestando a sua preocupação perante as notícias que indicam que a Zon Multimédia se prepara para fazer uma “estação de televisão ‘low cost’”, para funcionar como “montra da televisão por cabo”.

«Para o deputado, o objectivo da Zon é ter uma estação de televisão sem produção própria, que funciona como montra para garantir o direito de antena na televisão aos anunciantes.

«"Pensar que se pode criar um verdadeiro canal televisivo, empregando 60 pessoas e com um orçamento três a quatro vezes inferior aos demais concorrentes privados é um embuste político e um atentado à qualidade da informação", sublinhou.

«Para Fernando Rosas a abertura de um novo canal nestes moldes "ameaça a qualidade da oferta televisiva e a sobrevivência de grande parte da imprensa e conduzirá a uma preocupante diminuição do pluralismo informativo". Além disso, continuou, levará ainda a uma degradação das condições do exercício profissional dos jornalistas e à diminuição da autonomia desta classe perante os poderes políticos e económicos.

«"Uma comunicação social sem meios de subsistência e com profissionais cada vez mais precarizados torna-se refém de todo o tipo de interesses. A começar pelos mais fortes. Os do Governo e os dos grandes grupos económicos", enfatizou Fernando Rosas.»

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Ex-ZON concorre com ZON?

ZON vai ter concorrência no concurso ao 5º canal (JNegocios online 22/1): «David Borges e Carlos Pinto Coelho, ex-jornalistas, entregaram esta tarde na ERC uma candidatura à licença para o quinto canal de televisão. Representam um grupo de vários investidores nacionais, sendo que o projecto do canal aposta na informação e estima criar 300 postos de trabalho. Emídio Rangel não está no projecto enquanto não quiser».

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Contra Informação volta ao horário nobre na RTP1

Depois de uma longa travessia do deserto pelas manhãs de sábado, o Contra Informação volta hoje ao prime time da RTP1. Não chega para a redenção do humor telecurralóide e preçocertóide instalado no canal.

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21.1.09

De Obama ao "rating" da República...

Abertura dos telejornais - RTP prefere medidas de Obama. Corte do "rating" domina abertura dos noticiários da SIC e TVI (Jornal de Negócios online 21/1): «A SIC e a TVI abriram os noticiários dos telejornais com a notícia desta tarde de que o Standard & Poor’s decidiu cortar o "rating" da Republica Portuguesa. O canal publicou optou por destacar as primeiras medidas de Barack Obama, que ontem tomou posse como presidente dos Estados Unidos.»

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Putting Viewers First

Inquérito sobre o Sociedade Civil (RTP2)

Pedia a vossa disponibilidade para participarem e/ou divulgarem este Inquérito que faz parte do plano de investigação de uma aluna do Mestrado em Cinema e Televisão da FCSH/UNL e tem como objectivo recolher dados para a dissertação intitulada: “Sociedade Civil – Um contributo para o estudo das percepções sobre o Serviço Público de Televisão em Portugal”. As informações recolhidas neste questionário são reservadas, confidenciais e anónimas, e serão utilizadas exclusivamente no desenvolvimento desta pesquisa.

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20.1.09

Boa noite, tristeza

Uma televisão de vazio (Nobre-Correia, DN, 17/1): «É uma tristeza… Mas a verdade tem que ser dita : globalmente, a televisão portuguesa é de uma grande miséria. Em termos de programação como de informação. E se fosse preciso resumir as suas principais características em apenas três palavras seria simples : telenovelas, populismo e palavreado.

«As telenovelas, de preferência brasileiras, constituem o género de programação dominante. De manhã, à tarde ou à noite há sempre uma (e até mais do que uma, ao mesmo tempo) para mobilar o tédio, a falta de curiosidade intelectual e a baixa formação cultural de grande número de espectadores. Espectadores que foram metodicamente, sistematicamente, habituados e ter por horizonte essas histórias incrivelmente medíocres e escandalosamente rebaixantes do nível cultural dos Portugueses.

«Há depois aquelas emissões com público. Emissões de jogos, de divertimento ou de debate. Com gente que aplaude, vocifera, apoia, protesta. Numa confrangedora ilusão de ágora, de fórum, de democracia participativa, de sociedade civil intervencionista, que mais não é que populismo e demagogia barata.

«Há sobretudo o palavreado. Com inúmeras emissões em que os mais diversos “comentadores” (que são aliás um pequeno círculo dos mesmos) vêm discorrer sobre tudo e sobre nada, as mais das vezes numa visível impreparação e, quantas vezes ?, numa grande inconsistência. Aos quais se vêm juntar toda uma série de convidados cuja preocupação é ocupar o mais tempo possível micros e câmaras…

«Mas há também esses inenarráveis telejornais que devem bater todos os recordes europeus em termos de duração e de “directos” (geralmente desnecessários, intermináveis e ocos). Com uma estranha hierarquização editorial (a supor que ela exista) em que é dado tratamento idêntico a temas com incidências sociais totalmente diferentes.

«Onde estão as produções originais ? As reportagens ? Os documentários ? As emissões culturais ? As emissões originais de história, de cinema, de música, de humor, de circo ? O vazio é enorme. E muito preocupante…»

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Obama via Current TV & Twitter

Zon chumba projecto de Rangel, mas avança (act.)

Zon chumba projecto de Emídio Rangel para o quinto canal de televisão (negociosonline, 20/1): "A administração da Zon chumbou o projecto de Emídio Rangel para o quinto canal de televisão. Em causa, confirmou o Negócios junto de fontes próximas do processo, está o investimento e os objectivos explícitos no modelo de Rangel, considerados irrealistas face ao actual cenário da economia. A empresa avançará todavia para uma candidatura no prazo definido, esta quinta-feira, com outro projecto".

Zon chumba Rangel e cria 5.º canal para a crise (DN, 21/1): "A Zon Multimédia, única candidata, até ao momento, ao novo canal generalista no âmbito da Televisão Digital Terrestre (TDT) optou por um modelo mais realista, face à crise que afecta os media e o mercado publicitário. Isto, apesar de, até ao fecho desta edição, não ter tomado decisão final".

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17.1.09

TDT: mercado com mais juízo que o governo

Quinto canal provoca divergências na ZON (Sol online, 17/1): «Os accionistas da ZON estão divididos quanto ao lançamento de uma candidatura ao concurso do 5º canal de televisão generalista, cujas propostas têm de ser entregues até à próxima quinta-feira, dia 22.

«O projecto da ZON, concebido por Emídio Rangel, já está nas mãos da gestão liderada por Rodrigo Costa, deverá implicar custos de lançamento na ordem dos 30 milhões de euros e, a avançar, poderá começar por estar presente apenas no cabo, apurou o SOL.

«Esta semana, o conselho de administração da empresa reuniu para deliberar sobre a candidatura, mas o encontro acabou por não gerar acordo. Em causa estão divergências quanto à oportunidade de lançar um projecto em altura de crise financeira, dificuldade de acesso ao crédito e retracção do mercado publicitário, com o BPI, o segundo maior accionista da ZON depois da Caixa – com uma participação de quase 8%, a liderar a oposição ao projecto.»

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A crise e o "peditório" para a TDT (act.)

BALSEMÃO CRITICA QUINTO CANAL (CM, 16/1): «Durante a apresentação do projecto da PT para a TDT, Francisco Pinto Balsemão aproveitou para criticar o lançamento do concurso para o quinto canal: 'O eventual aparecimento de um novo serviço de programas televisivos de acesso não condicionado livre vai influenciar muito negativamente a concorrência, prejudicar a qualidade da informação, das produções e da programação e afectar gravemente a indústria audiovisual portuguesa.'» O facto é que não virá só destruir e endividar mais ainda a paisagem audiovisual portuguesa.

Essa crise será extensiva à imprensa e à rádio. Aliás, ainda antes do 5º canal, o cenário já se apresenta com a rádio e imprensa no último trimestre de 2008 com uma queda do número de leitores em relação ao período homólogo de 2007, que não deixou nenhum segmento de fora, segundo o Bareme Imprensa da Marktest. Na Controlinveste as coisas não estão melhores... A administração da Controlinveste deu início a um processo de despedimento colectivo que abrange 122 colaboradores em diferentes áreas do grupo (Jornal de Notícias, 15/1). E na publicidade a coisa ainda está pior: as estimativas para 2009 do mercado publicitário são muito pessimistas, apontam para uma queda de 8,2% em relação a 2008 o que, segundo Luís Mergulhão (OMG) coloca o investimento ao mesmo nível do registado há 10 anos atrás. Daí o Presidente da Impresa vir dizer que o mercado registou “quedas acentuadas” nos últimos meses de 2008 - Balsemão junta-se ao apelo para apoios fiscais ao investimento em publicidade (Público online 161): “O incremento que se fizer na publicidade tem repercussão indirecta na comunicação social séria, que está em crise, mas prefere morrer de pé, a vender a alma ao diabo”. Mas não ficaria por aí. Depois disso, Balsemão pede benefícios fiscais (CM, 17/1) «em matéria de IRC, para as empresas que aumentem o seu investimento publicitário ao longo de 2009. "Não se trata de mais um subsídio, mas de um incentivo às empresas que, em vez de se deixarem mergulhar na crise e começar a cortar pelo mais fácil [a publicidade] façam um esforço de investimento no sector", disse Balsemão durante a conferência ‘A Libertação da Sociedade Civil – O Papel dos Media’, realizada no auditório da Adere–Minho, em Vila Verde.

«Em sintonia com os responsáveis da indústria publicitária, que defendem o mesmo apoio por parte do Governo, o líder da Impresa frisou que qualquer incentivo ao consumo através da publicidade "tem repercussão indirecta na Comunicação Social séria, que está em crise, mas prefere morrer de pé, a vender a alma ao diabo".

«No mesmo evento, Pinto Balsemão voltou a frisar a necessidade de retirar a publicidade comercial à RTP, tal como aconteceu em França. "O Estado, a quem compete criar as condições para o livre funcionamento do mercado, acaba por o condicionar ao entrar nele como concorrente."»

Entretanto o já tinham pedido outros apoios para, justamente, a TDT... Operadores pedem ao Governo incentivos para a TDT (negociosonline 13/1): «Os operadores de televisão querem receber por parte do Estado incentivos para os investimentos que estão a fazer para a Televisão Digital Terrestre (TDT). O aviso foi lançado pela SIC e pela TVI na apresentação do Fórum TDT, que ontem decorreu em Lisboa.»

Quem não acredita em crises é Mário Lino, que «frisou ainda "o enorme potencial" do projecto TDT para "a expansão da sociedade de informação" e o "grande impacto na economia e criação de riqueza" (CM, 13/1). Aqui no pasa nada, tudo normal. A TDT até já chegou à Madeira...

O novo riquismo instalado no país em plena crise leva a anunciar coisas que até o Novo Mundo (USA) teme: a antecipação do switch off. Mas aqui em Portugal é outra coisa - sempre em fuga para a frente, porventura até se chegar ao precipício:

TDT Arranca a 29 de Abril e vai chegar a 80% da população portuguesa no final do ano (negociosonline, 12/1): «A Portugal Telecom anunciou hoje que a Televisão Digital Terrestre vai arrancar com a fase de testes em Portugal no próximo dia 29 de Abril. No final deste ano o serviço já vai chegar a 80% da população portuguesa, disse Zeinal Bava, que pretende antecipar o fim das emissões analógicas.»

Pois é. Já que há tanta gente a citar Obama: O Presidente eleito Barack Obama, congressistas, cadeias de televisão e associações de consumidores nos Estados Unidos uniram-se num único objectivo: atrasar a data da mudança definitiva da televisão analógica para a digital, cujo switch off está agendado para 17 de Fevereiro (DN, 12/1).

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16.1.09

Mário Crespo "regressa" à RTP

Mário Crespo em entrevista ao CM - “Tenho um papel na Informação” (CM, 12/1)

Tem saudades da RTP?

Neste momento não. Não trocava a SIC por rigorosamente nada. Acho que as dificuldades que a indústria privada está a atravessar nos fazem redescobrir energias novas. Esta ida para o canal generalista é uma dessas iniciativas. A RTP foi uma época da minha vida. Houve um período em que pensei que podia fazer carreira na RTP. Mas a dependência estatal e sobretudo a dependência política é uma carga muito grande.

Essa dependência intensificou-se com o passar dos anos?

Quando vejo o ambiente em que trabalho, de total liberdade e não deve haver muitos órgãos de comunicação no mundo com este ambiente de autocrítica e troca de impressões do mais desinibido que há... A SIC e a SIC Notícias têm uma cultura muito própria que a RTP não tem.

Quer dizer que a RTP é complexada?

A RTP é mais do que complexada. Deixou-se subjugar durante décadas demais. Tem uma carga imensa de afectação ao poder político de que é muito difícil libertar-se, para quer que esteja lá a trabalhar. É uma espécie de estigma de que a RTP se conseguiu emancipar e tenta reinventar-se o que acaba por lhe retirar identidade. A SIC não tem essa necessidade de reinvenção.

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SIC à procura do tempo perdido

A SIC à procura do tempo perdido: (CM, 9/1) Mudanças para 2009 - Sete horas de informação diária na SIC. "Luís Marques, o novo director-geral da SIC, defende que o gosto dos telespectadores se alterou no último ano e que a Informação se tornou no género preferido dos portugueses."

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9.1.09

Lula e a azia

Lula não lê notícias porque causam azia (8/1): «O presidente Lula não lê notícias nem assiste reportagens na televisão. Em entrevista à revista Piauí deste mês, Lula afirma que prefere não lê jornais, revistas, nem sites de notícias e blogs, e também não assiste jornais na TV. O presidente argumenta que sofre de “problemas de azia” e que a leitura de notícias pode lhe causar mal estar.

«“Quando sai alguma coisa importante, a [assessora especial] Clara [Ant] e o [ministro da Comunicação] Franklin [Martins] me trazem o artigo, ou mesmo o vídeo de uma reportagem de televisão”, justifica Lula. “Recomendaria a qualquer presidente que se afaste dos políticos e da imprensa nos fins de semana”, completa.»

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8.1.09

A ERC e o "obsceno"

ERC faz queixa ao Ministério Público de utilizadores de teletextos da SIC e TVI (JNegócios, 8/1): «A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) participou ao Ministério Público (MP), numa queixa contra incertos, devido a mensagens de teor sexual explícito, "por vezes de carácter obsceno", detectadas nas salas de chat dos serviços de teletexto da SIC e TVI.» Mas... será que algum dia esta ERC conseguirá ver o obsceno na informação e na programação do serviço público de televisão?

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6.1.09

"Pensando na nobreza de serviço que (a RTP) poderia prestar ao país"

"Gostaria que a RTP examinasse seriamente o seu papel, a sua função cultural e a sua missão informativa, sacudindo a dependência estreita do Governo em que se colocou voluntariamente, pensando na nobreza do serviço que poderia prestar ao país, produzindo programas que não nos envergonhem e cultivando aquelas que poderiam ser as suas mais relevantes qualidades, a independência e a seriedade.” (António Barreto, "Gostaria", Público, 28/12/08).

"(…) Gostaria que alguém explicasse ao primeiro-ministro, ou que ele percebesse por si mesmo, que o excesso de propaganda, de demagogia e de publicidade enganosa pode ter efeitos contraproducentes, parecidos com os verificados durante a revolução de 1975, que se traduzem no facto de os governantes acreditarem no que eles próprios mandam dizer. De caminho, poderia também compreender que a crispação autoritária não se pode confundir com determinação. Mudasse ele esses atributos, trouxesse ele à vida pública um novo estilo, mais adequado às dificuldades dos tempos, e até talvez voltasse a ganhar as eleições."

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5.1.09

RTP1 sobre a Escola do Cerco: mais do mesmo

A Escola do Cerco voltou à RTP - Jornal da Tarde (4 JAN) nos mesmíssimos moldes em que por lá já havia andado [ver O TELEJORNAL igual à DREN (act.)]. Voltaram a ser ouvidos alunos, pais e o representante dos pais veio mesmo em repetição... E voltou-se a não fazer jornalismo, mas antes grave mistificação.

Da mesma maneira que Daniel Sampaio se referiu ao tema na Pública de domingo passado - Escola: mais do mesmo, também em relação ao tratamento da RTP1 é isso - "mais do mesmo". O que é profundamente lamentável da parte de um serviço público de televisão. Daniel Sampaio seria justamente um dos especialistas que a RTP deveria ouvir com toda a atenção sobre este assunto, que deveria ter merecido um tratamento tecnicamente rigoroso por parte da RTP. Vejam-se então as palavras de Daniel Sampaio:

“Os acontecimentos de uma escola do Porto, em que um aluno apontou um revólver de plástico a uma professora, foram de imediato desvalorizados por dirigentes do ME e classificados de “brincadeira de mau gosto”. Parece que o facto de ser uma arma a brincar tranquilizou a tutela, na linha de outras declarações oficiais em que a indisciplina é sempre vista separada da violência e como tal considerada de menor importância. O risco é evidente: se não valorizarmos o pequeno incidente de indisciplina, se não respondermos de imediato com medidas correctivas de responsabilização, a desordem cresce dia após dia. Sabe-se hoje que a degradação do clima na escola progride por estádios, desde a recusa de regras na turma e pouco trabalho, até actos graves de delinquência (agressão a professores, destruição de material escolar), com etapas intermédias de pequenos delitos, comportamentos provocatórios e desafios à autoridade que denunciam uma violência latente. Ora a pistola de plástico insere-se num estádio intermédio de provocação que prenuncia momentos em que as regras podem passar a ser a dos grupos violentos e intimidatórios, em vez de serem construídas na sala de aula, a partir de um regulamento da escola organizado com a participação de todos.

“(…) Se o comportamento causador de perturbação for cedo diagnosticado, a medida correctora impõe-se com coerência e será apoiada pela maioria dos alunos e seus pais. (…) Se, pelo contrário, tudo for remetido para o burocrático e aborrecido “Estatuto do Aluno” ou para o Ministério Público (não se vislumbra, até agora, qualquer sucesso na prometida e muito propagandeada acção desta estrutura), nada poderá melhorar. (…) Em derradeira análise, o episódio da pistola de plástico é mais um exemplo de como este ME se concentrou no acessório: enquanto se discutem grelhas de avaliação tornadas cada vez menos exigentes pela pressão dos protestos, os professores são deixados sozinhos e sem meios perante a indisciplina crescente. Ficará para a história da educação em Portugal esta oportunidade desperdiçada e este arrastar da degradação até... às próximas eleições.”

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3.1.09

O Telejornal e o Presidente

José Pacheco Pereira referia-se ontem, no Abrupto, ao tratamento da RTP1 ao discurso de Ano Novo do PR: "Como se torna uma mensagem dura para o Governo numa inócua afirmação de pacificação nacional? Através da magia do sítio habitual: noticiário das 13 horas da RTP".

Não vi o das 13h, mas o Telejornal das 20h trouxe, uma vez mais, o omnipresente ministro da tutela da comunicação social a comentar o que não necessitava de comentário, mais os representantes dos partidos e ainda o dirigente da CAP, apanhando a boleia de Cavaco e criticando o ministro da agricultura. E ponto final. Fica-se com a sensação de que o discurso de Cavaco tem para a RTP1 uma importância não muito diferente de uma conferência de imprensa de Jesualdo Ferreira, acompanhada do regresso dos seus pupilos ao trabalho, com a diferença da primeira poder ser mesmo muito incómoda para Sua Exª o Governo da Nação. O melhor então será... somar e seguir, a notícia seguinte, p.f...

A questão é que o essencial do discurso do Presidente da República (aliás, tal como já havia acontecido com o anterior, sobre o Estatuto dos Açores) acabou, como habitualmente, por não ter um tratamento minimamente aceitável por parte do principal canal do serviço público - a RTP1, dado que foi censurada a análise por parte de especialistas independentes sobre os temas centrais do discurso, nomeadamente - a questão política da "verdade", a exclusão social, o "crescimento explosivo" da gigantesca dívida de Portugal e a consequente hipoteca do futuro do país e das novas gerações com os megainvestimentos anunciados mas não justificados por uma análise custo/benefício.

Naturalmente, de um ponto de vista jornalístico, é isso que importa tratar de forma exaustiva e continuada, para que os portugueses tenham absoluta e total informação sobre essa dolorosa e muito crítica realidade do país, facto que está a ser continuamente censurado nos telejornais da televisão do Estado, inclusive quando é o PR a levantar o problema...

"Falar verdade" na política, mas fundamentalmente nos media, é hoje, para o futuro deste país, absolutamente vital, se nos quisermos livrar, enquanto é tempo, do "cadaveroso" reino que António Sérgio bem identificou.

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"RTP navega à bolina"

Fernando Sobral, Serviço público vs. audiências (CM, 2/1): "O serviço público precisa de um trabalho sério de reanálise. Mas ninguém está interessado nisso. (...) E por isso a RTP navega à bolina."

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2.1.09

Salazar, Caetano, RTP (vídeos/fotos)






























































Programa de História dos Media (2008-2009)

Pretende-se desenvolver nesta cadeira uma reflexão em torno da genealogia de estruturas histórico-comunicacionais, das respectivas mediações simbólicas e tecnológicas e do campo dos media. Do mesmo modo se fará a análise de contextos, práticas, regularidades, arquivos, das condições de produção histórica do real comunicacional e da lei dos sistemas que orientam o aparecimento de enunciados como acontecimentos singulares.

Na abordagem dos diferentes tempos históricos, procura-se problematizar a emergência de campos de mediação, designadamente a partir da interpretação das grandes mutações e na configuração das diferentes estruturas comunicacionais, tecnológicas e simbólicas. Serão considerados diferentes universos - as sociedades de cultural oral; a emergência da escrita; o universo tipográfico, o livro e a imprensa; a sociedade pós- industrial e os media de massa, analisando os dispositivos histórico-culturais das diferentes épocas históricas e/ou comunicacionais.

A cadeira de História dos Media está assim organizada em grandes capítulos, o primeiro dos quais - Epistemologia da História dos Media - tem uma preocupação fundamentalmente teórica e metodológica. Nele se procurará repensar as diferentes contribuições provenientes do âmbito da filosofia e da teoria da história, com relevância, quer para o trabalho historiográfico no campo dos media, quer para uma crítica da própria história enquanto 'grande narrativa' na encruzilhada de saberes em crise.

Os capítulos seguintes configuram-se necessariamente como um todo. A história dos media não é, no nosso entender, a história conjuntural de determinado 'fenómeno' ou campo mediático dado como totalidade inexpugnável, é sim uma figura global sempre em processo de mudança, um corpo de tensões, uma cadeia de interdependências recíprocas. Nessa medida, a história das mediações simbólicas e tecnológicas - das sociedades de cultural oral às dramaturgias da pós-modernidade - emerge como um universo fecundo de sentido, em constante actualização, sendo certo que quanto mais densos e aprofundados são os problemas e dependências recíprocas, mais se tornará visível a constituição de um dispositivo histórico-cultural comum pré- e pós-alfabético.

Trata-se portanto de provocar uma reflexão em torno da genealogia de estruturas comunicacionais, numa perspectiva fundamentalmente histórico-cultural. No estudo dos diferentes tempos históricos procurar-se-á problematizar o sentido da emergência - o sentido da história - de diferentes universos comunicacionais e respectivos campos mediáticos, a partir essencialmente da interpretação das grandes mutações observáveis nas linhas de fractura e na configuração das diferentes estruturas.

Em análise estarão quer os macro acontecimentos e as grandes estruturas históricas, quer os micro fenómenos comunicacionais, do fait-divers aos meta-acontecimentos e à actualidade trágica. Procurar-se-á conduzir à definição dos seus parâmetros isomórficos, na sua genealogia, e confrontar os mecanismos de regulação da produção simbólica nas diferentes épocas. Em acréscimo, propõe-se o aprofundamento da reflexão entre o campo de dominação e o campo de comunicação, analisando os dispositivos de dominação propriamente ditos, designadamente a partir da noção de dispositivo histórico-cultural pós-alfabético, e com base no postulado que considera a história da comunicação 'pública', e também 'privada' - é a história de um fluxo unívoco de dominação.

Colocar-se-á então ao historiador o problema das condições de produção histórica - de um quadro legal, de um discurso, ou saber, de um relato événementielle, por exemplo. É através do trabalho 'arqueológico' dos contextos, discursos e condições de possibilidade que se chegará à descrição intrínseca desses documentos, das formações discursivas em que se inserem, procurando as regularidades que se enunciam, a figura que se forma.

Importará pois trabalhar o campo das excisões que nos apelam à descoberta da lei do sistema que orientou o aparecimento de enunciados como acontecimentos singulares, produzindo dessa forma aquilo que é lícito chamar de 'real' ou, pelo menos, as formas e o conteúdo da visibilidade desse real mediatizado. Emergirá, nestas circunstâncias, um 'media' ou um acontecimento-monumento, configurado como produto de um contexto histórico-cultural que lhe deu corpo segundo as relações de forças que aí detinham o poder e também em função das formações não-discursivas então estabelecidas, das condições de enunciação e contextos criados, dos efeitos assegurados por uma descrição do mundo que é, finalmente, uma nova ordem discursiva do real e do mundo.

Veja-se, por exemplo, a história da comunicação social portuguesa do Século XX. É, fundamentalmente, a história do discurso dos grandes meios de comunicação, sendo que essa é, em regra, um relato do modo como os mass-media se confrontaram com as inquietações de um real que jamais habitou pacificamente com os media que tinha. Essa é, portanto, a história desses mesmos meios, o seu retrato trágico.

Mais do que eventuais fragmentos da história contemporânea portuguesa é uma história inconciliável com as múltiplas resistências dos irreconciliados, é uma narrativa que obrigou, em boa parte do século, ao compromisso e ao comissariado e não à verdadeira natureza a que presumivelmente estavam destinados, a cumprir e a narrar a experiência do mundo da vida, no fundo, aquilo a que os media pretendem fazer constante referência, sem, no entanto, verdadeiramente o conseguirem.

O paradigma deste modelo mediático podia ser dado por um qualquer grande título da história da imprensa portuguesa, por exemplo, sendo normal identificar ao longo da sua história os diferentes compromissos que foram sendo assumidos pelos seus responsáveis, ora servindo o reaccionarismo monárquico, ora aceitando a modernidade republicana, para depois se deixarem enfeitiçar pela arrogância integralista e fascista, voltando depois para cantar loas à liberdade nos anos de Abril, claudicando por momentos perante neo-estalinismos, para depois de resituarem de novo, institucionalmente, na pequena política do tempo e nos seus jogos de palavras.


INTRODUÇÃO

1. Introdução à cadeira: programa, bibliografia e sistema de avaliação. Organização dos trabalhos dos alunos.
- Os Media e os seus contextos.
- Questões introdutórias sobre a História dos Media.
- A Comunicação Social em Portugal no Séc XX.
- O jornalista, o historiador e os media

2. Introdução à Teoria e História dos Media : da História à crítica da comunicação
- Metodologias, pesquisa crítica e empírica
- Dispositivo histórico-cultural clássico e moderno
- O retorno da techne


EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA DOS MEDIA

3. História, tempo e media
- A história, o historiador e os mass-media
- O regresso do acontecimento
- O acontecimento e o historiador do presente

4. Para uma sociologia histórica das práticas culturais
- Documento/monumento
- História, escrita de ficção
- No grande jogo da História
- Para uma epistemologia da história dos média - de McLuhan a Foucault


GENEALOGIA DA ESCRITA E DO LIVRO

5. Modelos e profecias da Aldeia Global: McLuhan
- Livro: uma abordagem histórica
- A cultura oral, a origem da escrita e a economia antiga
- Escrita, Poder, Estado


EMERGÊNCIA DA TIPOGRAFIA E DA IMPRENSA

6. O novo espaço público e a ordem disciplinar do olhar
- A origem da tipografia e da esfera pública crítica
- Pré-História e primeira Infância da Imprensa
- Elogio e elegia do jornalismo


A IMPRENSA E A ERA INDUSTRIAL

7. Século XVIII: A Glória da Inglaterra
- A Revolução Francesa e a Imprensa
- A Liberdade e a Imprensa
- A Idade de Ouro
- A Grande Guerra


A IMPRENSA EM PORTUGAL

8. Os Primórdios
- A Imprensa romântica ou de opinião
- A fase industrial da imprensa


OS MASS MEDIA

9. Genealogia da sociedade de consumo e emergência da publicidade
- O dispositivo comunicacional moderno

10. A emergência da Rádio :
- O período nazi
- A Rádio na URSS
- A Voz da América
- A BBC

11. A Rádio em Portugal
- A Rádio ao tempo de Salazar e Caetano
- Rádio : do marcelismo aos nossos dias

12. A emergência da Televisão e o caso português
- Salazar, a censura e os media
- Salazarismo e TV
- Caetano e a RTP


OS NOVOS MEDIA

13. A “pós-televisão”
- A fragmentação do modelo audiovisual
- A emergência da Net e dos novos media



Bibliografia essencial

ALVES, José Augusto dos Santos
A Opinião Pública em Portugal (1780-1820), UAL, Lisboa, 2000.

ALVAREZ, Jesus Timoteo
Historia y modelos de la communication en el siglo xx, Ariel Comunicacion, 1986.

CÁDIMA, Francisco Rui
-A Crise do Audiovisual Europeu – 20 anos de políticas europeias em análise, Formalpress/Media XXI, 2007.
-A Televisão Light Rumo ao Digital, Formalpress/Media XXI, Lisboa, 2006.
-História e Crítica da Comunicação, Século XXI, Lisboa (2ª edição), 2002.
-Desafios dos Novos Media, Editorial Notícias, Lisboa (2ª edição), 2001.
-Estratégias e Discursos da Publicidade, Veja, Lisboa, 1997.
-Salazar, Caetano e a Televisão Portuguesa, Presença, Lisboa, 1996.
-O Fenómeno Televisivo, Círculo de Leitores, Lisboa, 1995.

CHARTIER, Roger
-A História Cultural - Entre práticas e representações, Difel, 1988.

FOUCAULT, Michel
-A Arqueologia do Saber, São Paulo, Vozes, 1971.

FRANCO, Graça
-A Censura à Imprensa (1820-1974), IN-CM, Lisboa, 1993.

GOODY, Jack
-A Lógica da Escrita e a Organização da Sociedade, Edições 70, 1987.

HABERMAS, Jurgen
-Historia y critica de la opinión publica, Gustavo Gili, Barcelona, 1981.

HALE, Julian
-La radio como arma politica, Gustavo Gili, Barcelona, 1979.

JEANNENEY, Jean–Noël
-Uma História da Comunicação Social, Terramar, Lisboa, 1996.

LeGOFF, Jacques
-«Documento-Monumento», Enc. Einaudi, IN-CM, Lisboa, 1984.
-Reflexões sobre a História, Edições 70, Lisboa, s/d.
-A Nova História, Edições 70, Lisboa, 1983.

McLUHAN, Marshall
-A Galáxia de Gutenberg, CEN, 1977.

TENGARRINHA, José
-História da Imprensa Periódica Portuguesa, Editorial Caminho, 1989.

WILLIAMS, Raymond
-Historia de la Comunicacion, Bosch, Barcelona, 1992.
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