31.8.05

Serviço público

Serviço público é... a aposta da BBC na Internet. Em breve será possível fazer ‘download’ de programas de rádio e de TV da BBC. O serviço, designado ‘My BBCplayer’ permite o acesso a arquivo, a programas de TV difundidos nos últimos sete dias e a ver programas em directo.

30.8.05

De drama em drama

É o dispositivo da informação televisiva, tal e qual. Disse-o o sociólogo José Luís Garcia, com inteira razão, no Prós e Contras de hoje. Essa é a questão de fundo da informação, sobretudo televisiva, que todos os dias ‘incendeia’ a actualidade, imaginando que está a tratar aquilo que está a acontecer. Mas o que está a acontecer, verdadeiramente, no plano da experiência da Cidadania, não ascende em regra à dignidade mediática.

O ‘espectáculo pérfido’

Crónica ‘Malaposta de português em crise’, no Notícias Magazine, a propósito de Fiel ou Infiel: «(…) E o iluminado Moniz certamente vislumbra neste indizível programa um expoente de uma televisão feita ‘a pensar nos portugueses’. Triste vai um povo que aceita ser pensado assim». Nem mais: «Um espectáculo pérfido, de baixaria, voyeurismo e violência psicológica».

26.8.05

Ainda o 'espectáculo do fogo'

Emídio Rangel no CM: «Os espectadores precisam de notícias precisas e rigorosas e não do ‘espectáculo do fogo’.» E em conferência de imprensa (notícia TVI), o director nacional da PJ, o juiz desembargador Santos Cabral, apelou à «contenção das televisões e dos jornais na divulgação de imagens de fogos, alertando para o facto de elas poderem constituir um 'incentivo poderoso' à acção dos incendiários.»

Violação da privacidade pela SIC

DECISÃO SOBRE O PROCESSO DE CONTRA-ORDENAÇÃO CONTRA A SIC - PROGRAMA “O BAR DA TV”: «Na sequência do processo de contra-ordenação instaurado contra a SIC, em 22 de Maio de 2001, por, numa sessão do programa “O BAR DA TV”, ter violado os direitos fundamentais à imagem e à reserva da vida privada das pessoas filmadas, a Alta Autoridade para a Comunicação Social deliberou condenar a SIC ao pagamento de uma coima de € 150.000.» Mas... só agora, quatro anos depois???? Ver peça no DN.

Fogos brancos

O DN avança com um dossier sobre o fogo e os telejornais, mas passa ao lado do essencial e de certo modo 'branqueia' o péssimo trabalho produzido em geral pelas televisões.

23.8.05

‘Very interesting’, diz ela (a União Europeia)

22.8.05

O que vem aí

Fogos e deontologia

Muitas das reportagens que estão a passar colidem também com a DIRECTIVA GENÉRICA ACERCA DA AUTORIZAÇÃO DE UTILIZAÇÃO DA IMAGEM, EM TELEVISÃO, DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE MANIFESTA FRAGILIDADE PSICOLÓGICA (Aprovada pela AACS em 11 de Julho de 2001) .

Sistema científico deve investigar a 'TV incendiária'

Nas escolhas de Marcelo Rebelo de Sousa, hoje, um desafio inadiável: é fundamental estudar as práticas jornalísticas na TV em matérias de incêndios e as suas consequências sociais.

No Público, Eduardo Cintra Torres, falava com toda a razão n’«O Share Incendiário», descrendo de qualquer iniciativa ética nos media: «O share voa mais alto que as labaredas».

Há dias, também no Público (17 de Agosto), o médico Fernando Gomes da Costa escrevia sobre «Os incendiários dos pirómanos» e dizia: «Face ao aparato mediático em tomo dos incêndios, sobretudo nas nossas televisões, cujo conteúdo informativo é em muito superado pelo espectáculo novelesco, hiperdramatizado e mesmo sádico como é tratado, não tenho, quanto mim, dúvidas de que o estímulo e a gratificação psicológica dos efectivos ou até potenciais pirómanos são altamente potenciados até em quem, de outra maneira, não se sentiria compelido a tal.».

Ninguém terá dúvidas sobre a necessidade de ser feito um amplo estudo de análise de conteúdo da informação televisiva sobre este ponto em particular. Mas a dificuldade do tema exige, em acréscimo, um estudo interdisciplinar, onde a semiótica, a psiquiatria, a comunicação, as ciências sociais e criminais, nomeadamente, consolidem algum saber que produza efeitos nas TV’s em 2006.

A FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia, que suporta a investigação científica em Portugal, deveria desencadear, extra-concurso, os mecanismos para que essa(s) equipa(s) venham a ser constituídas e iniciem desde já a investigação prioritária nesta matéria.

21.8.05

Exigência ou demissão? (Licenças de TV em stress)

No JN de sábado: «SIC e TVI já pediram renovação»: «A Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) confirmou ontem ter recebido os pedidos de renovação das licenças da SIC e da TVI, que "estão a ser devidamente instruídos de acordo com as competências deste órgão do Estado". Em comunicado, a AACS nega ter recebido qualquer pedido governamental a propósito de renovações de licenças, e que "nem isso seria viável", uma vez que a competência para tais renovações pertence exclusivamente a esta entidade.»

No Expresso: «Mendes contesta entrega da TVI aos espanhóis»: «O líder do PSD, Marques Mendes, levanta suspeitas sobre a urgência com que estão a ser renovadas as licenças de televisão, referindo-se em particular à TVI. Os pedidos de renovação das licenças televisivas só têm de ser feitos em Fevereiro de 2006, mas quer a TVI quer a SIC já os apresentaram. Marques Mendes põe em causa, em particular, que a licença da TVI possa ser renovada sem recurso a concurso público. E isto porque houve uma mudança claríssima de objectivos relativamente aos inicialmente apresentados (recorde-se que a licença foi concedida à Igreja Católica) e está-se na iminência de uma nova mudança de proprietários.»

A ver vamos se todo este stress acaba em rigor e exigência na altura da renovação das licenças, ou se é só mais um fogo de verão. A futura entrega de licenças de TV nas mesmas condições em que foram feitas no início dos anos 90 será uma demissão política do regime democrático e dos seus dirigentes face às exigências da Cidadania.

Degradação e farsa na TVI

'Fiel ou Infiel é uma farsa'.

Recorde-se, nesta área, um anterior Comunicado da AACS SOBRE UM MODELO DE PROGRAMAS DE TELEVISÃO QUE PODE PÔR EM CAUSA A DIGNIDADE HUMANA DESIGNADAMENTE CONVERTENDO A PRIVACIDADE EM ESPECTÁCULO.

E ainda: POSIÇÃO DO COMITE PERMANENTE DA CONVENÇÃO SOBRE A TELEVISÃO TRANSFRONTEIRAS E A DEFESA DA VIDA PRIVADA DE PESSOAS CONSIDERADAS MAIS VULNERÁVEIS:

STATEMENT (2002) 1
ON HUMAN DIGNITY AND THE FUNDAMENTAL RIGHTS OF OTHERS (adopted by the Standing Committee on Transfrontier Television at its 31st Meeting, 12-13 September 2002)

The Standing Committee on Transfrontier Television of the Council of Europe, meeting in Strasbourg on 12-13 September 2002, has issued the following Statement, calling for increased vigilance by broadcasters and regulatory bodies as regards those television programmes which may be contrary to human dignity and the fundamental rights of others: "Recent practice in some European countries has shown that in developing competitive programme policies, designed to protect market share and boost the economic potential and revenues of their stations, some broadcasters draw on programmes formats and ideas which can infringe upon human integrity and dignity and expose the participants in these programmes to a complete loss of their private life, as well as to gratuitous physical or psychological suffering. In this context, the Standing Committee considers it necessary to recall the fundamental principles concerning human rights protection contained in the European Convention on Human Rights, as well as in Article 7 of the European Convention on Transfrontier Television, which lays down the primary responsibility of broadcasters as regards programme content, and provides that the presentation and content of programmes shall respect the dignity of the human being and the fundamental rights of others. Broadcasters are of course free to design their programme schedules and the content of their programming but under Article 7 of the Convention, general limits for content also apply: for example, obscene/pornographic images or racist, homophobic or xenophobic expressions are all proscribed. In this context, the Standing Committee recalls Recommendation No. R (97) 19 on the portrayal of violence in the electronic media, adopted by the Committee of Ministers of the Council of Europe in 1997.The Standing Committee draws the attention of broadcasting regulatory authorities in States Party to the Convention and other European countries, as well as broadcasters in these countries, to the need to pay particular attention to those programme formats which, depending on how they are produced and presented, may contain elements contrary to the general limits foreseen in Article 7 of the Convention, and could thus endanger respect for human life or dignity. In particular, the Standing Committee calls on regulatory authorities and broadcasters:- to co-operate and discuss among themselves on a regular basis on the question of television programmes which might contravene human integrity or dignity, with a view to seeking consensual co-regulatory or self-regulatory solutions - as far as possible - as regards such programmes;- to avoid contractual arrangements between broadcasters and participants whereby the latter relinquish substantially their right to privacy, since this may represent an infringement of human dignity. Contractual arrangements should be designed to protect the most vulnerable parties, namely the participants who may be tempted to waive their rights in the pursuit of popularity and money."

Recorde-se ainda a DELIBERAÇÃO SOBRE QUESTÕES DE PRIVACIDADE E DE DIGNIDADE HUMANA - Desde programas que convertem a privacidade em espectáculo, como o "Big Brother", até ao comportamento de órgãos de comunicação social sobretudo em reportagens sobre menores (Aprovada na reunião plenária extraordinária de 24.OUT.2000).

Oásis

Rangel e a rentrée: «(...) Podia ser a grande oportunidade da RTP. Criar um oásis nestes terrenos pardacentos.»

20.8.05

O 'fado-fogo' da missa das 8

Ler 'A fogueira nacional' de Paulo Cunha e Silva no DN: «(...) a este doce prazer na desgraça não deve ser alheia a voracidade com que os meios de comunicação, sobretudo as televisões, se precipitam para os incêndios. Eles transformaram-se numa espécie de novela das oito com cenas repetidas e intermináveis. Ao fim e ao cabo, as televisões mostram todas as noites fragmentos de um único filme. Um filme redundante com as mesmas cenas, os mesmos personagens, os bons e os maus do costume. O mesmo enquadramento, os mesmos planos este fogo que arde bem visível acaba por, na sua monotonia absoluta, nos deixar vagamente indiferentes àquilo que afinal parece ser só fado. Este fogo é Portugal.»

Que regulação para a Comunicação Social?

(Texto de F. Rui Cádima, publicado na edição de ontem do Público)

Quem deve e como deve ser regulada a Comunicação Social? Será uma questão tão pacífica assim, que permita, num futuro próximo, uma ‘remake’ do triste espectáculo a que assistimos relativamente à compra da Lusomundo pela Controlinveste? Estaremos, afinal, todos confortáveis com os media e com a regulação que temos? Neste texto deixaremos algumas pistas para reflexão, procurando contribuir para um debate público que deve ser pautado por uma inequívoca exigência cívica nesta matéria.

Duas questões fundamentais a abrir: será que os media são essencialmente um negócio e como tal devem ser considerados para efeitos de regulação, a par de qualquer outro sector de mercado? Não serão os meios de comunicação social um sector muito particular, de extraordinária importância pública e cívica, com uma dimensão social, cultural e formativa tal, que impõe que os ’negócios dos media’ não se sobreponham à monitorização das suas práticas e do seu discurso e sobretudo dos seus efeitos perversos no social?

Dito de outro modo, não será evidente, hoje, para os cidadãos em geral, que o enquadramento normativo dos media, a sua particular especificidade e a sua dimensão estratégica para a Cidadania, não sendo compagináveis com a lógica pura e simples dos mercados, recomendam que os media, em vez de serem, no final, tutelados por um regulador económico devem sim, prioritariamente, sê-lo por um regulador sectorial forte, atento, de forma muita particular e incisiva, aos impactos societais – dir-se-ia mesmo civilizacionais - do sistema dos media ?

Propomos assim uma outra regulação para os media, procurando recentrar a política de regulação no interior do próprio sector, priorizando os objectivos não económicos, conferindo ao regulador a responsabilidade de pilotar de um ponto de vista jurídico e técnico-científico o audiovisual em particular, as atribuições e competências das TV’s privadas (às quais deve ser exigida, na reatribuição das licenças em 2007, a máxima responsabilidade no plano dos conteúdos que emitem e atribuídos cadernos de encargos exigentes no plano da Cidadania) e do operador público, em particular da adequação rigorosa das suas práticas ao seu contrato de concessão.

No audiovisual, entre os grandes objectivos não económicos, subordinados ao princípio da Cidadania e da Sociedade do Conhecimento, estão práticas como a ética de antena, a liberdade editorial, o pluralismo e, naturalmente, a informação para o conhecimento e o desenvolvimento, informação não contaminada pelo infotainment, vírus perverso do sistema de media, primeiro obstáculo ao agendamento daquilo que é de «interesse público» e cívico em matéria informativa.

Discutir o Regulador e a lei sobre Concentração

Embora não tenha sido lançado um debate público alargado e uma consulta pública em torno desta matérias, importa manter na ordem do dia a questão de repensar o modelo de regulação dos media e a discussão sobre o próprio modelo de concentração, elevando o grau de exigência à importância do fenómeno em si.

Não temos dúvidas, no entanto, pelos motivos expostos, que a concentração dos media necessita de regulação específica em Portugal que deve ser aplicada de modo a permitir a consolidação de meios, sem que isso, naturalmente, venha a impedir uma absoluta e inequívoca liberdade editorial dos profissionais de comunicação social.

Recorde-se que sobre a matéria legislativa que está em cima da mesa, em diversas circunstâncias foi sugerido um debate mais aprofundado sobre, precisamente, a regulação dos media em Portugal. Veja-se, por exemplo, a ‘carta-apelo’ do Sindicato dos Jornalistas («SJ apela a revisão constitucional sobre Entidade Reguladora», 2005/05/25,
http://www.jornalistas.online.pt/noticia.asp?id=3451&idselect=376&idCanal=376&p=14) onde se sugere uma representatividade diferente na futura entidade reguladora.

Mas outras questões de enorme relevância podem e devem ser colocadas e convocadas. Por exemplo, saber se faz sentido um regulador sectorial que aglutine imprensa e televisão. Do nosso ponto de vista, este é um primeiro passo para uma espécie de ‘coma’ anunciado do regulador sectorial.

A Imprensa, dada a sua especificidade, a sua maior estabilidade no plano discursivo e a sua menor penetração na sociedade portuguesa, e, por consequência, o seu menor impacto entre a população, deve estar adstrita a um Gabinete para o Desenvolvimento da Comunicação Social, onde as políticas públicas, a representação internacional, os incentivos e os registos devem estar concentrados.

Uma só Autoridade do Audiovisual e das Comunicações

O sistema que defendemos é, assim, o do regulador do Audiovisual, que prepare desde logo um modelo interno com o objectivo de aprofundar simultaneamente as condições para a integração com a Anacom, obtendo-se assim a ‘autoridade’ de que o sector precisa para uma efectiva, séria e forte regulação.

Aliás, esse é precisamente o modelo recomendado ao Governo em 2001, pelo Grupo de Reflexão (GR) da «Iniciativa Regulação e Convergência - Recomendações de actuação estratégica (Consulta Pública, 2002/02/15,
http://www.ics.pt/zips/convergencia.pdf ), onde se diz que «O GR alcançou um consenso em torno da ideia de que a convergência aconselhará a não separação orgânica da regulação de conteúdos da regulação das redes e dos acessos, admitindo a possibilidade de uma entidade única ser responsável pela regulação».

O novo regulador que vamos ter em Portugal, que substituirá a AACS, não sendo, como seria desejável, nem do Audiovisual, nem de convergência com as Comunicações, deve identificar de modo muito preciso quais os mercados relevantes no sector (o que nunca foi feito).

Mas deve sobretudo chamar a si as competências de jurisdição muito particulares e exclusivas no âmbito de um sector que não é nem pode continuar a ser um ‘mercado’ tout court.

Repare-se que, em termos de avaliação da concentração de empresas do sector, deve inclusivamente haver índices-limite que não passam por indicadores económicos, mas sim, por exemplo, por indicadores de audimetria, de acessibilidade, de conteúdos, de públicos, etc., etc.

Para além do mais, sempre que o regulador sectorial suspeita de práticas restritivas da concorrência na sua área específica deve actuar em sintonia com a autoridade que tem efectivamente um conhecimento aprofundado de práticas anti-concorrenciais. E como referiu, e bem, Pedro Pita Barros («Sobre a articulação entre o ICP – ANACOM e a Autoridade da Concorrência»,2003/09/15,
http://www.anacom.pt/template21.jsp?categoryId=92191) em relação às próprias telecomunicações, «nos mercados em que há necessidade de regulação económica e em que esta é criada e aplicada pela entidade de regulação sectorial, o acompanhamento de comportamento dos agentes económicos pertence ao regulador sectorial».

Finalmente, a questão da transparência, já enunciada num pequeno texto de Roberto Barzanti, antigo vice-presidente do Parlamento Europeu, com data de Janeiro de 2003 («Les défis de la transparence dans le secteur audiovisuel», 2003/01/17,
http://www.obs.coe.int/about/oea/barzanti.pdf.fr). É um pequeno tratado sobre audiovisual e democracia. Barzanti recorda Joseph E. Stiglitz para lembrar que «o segredo ameaça a democracia». E cita Enzensberger: «A transparência necessita de uma nova ética da informação contra as manipulações cínicas do que Hans Magnus Enzensberger chamou a impiedosa ‘indústria da consciência’.» Não temos mais a fazer do que subscrever por baixo.

18.8.05

A questão da reavaliação das licenças de TV em 2007

Diz o Diário Económico que o Governo vai revalidar hoje em Conselho de Ministros o regime de licenças e autorizações para a televisão, «e não alterará em nada as licenças atribuídas à RTP1, SIC e TVi, que se manterão válidas até 2007 – quinze anos depois de terem sido emitidas.» Diz ainda o jornal que «com a nova entidade reguladora em exercício (…) as licenças dos actuais canais analógicos serão, nessa altura, avaliadas, apesar de serem quase nulas as hipóteses de algum dos operadores perder o licenciamento, porque a análise será um acto quase formal.»

Seria interessante se a imprensa, ao pegar neste assunto, fosse um pouco mais exigente relativamente à necessidade de credibilização do sistema de atribuição de licenças, e também da qualidade do serviço prestado por operadores privados, que no passado obtiveram licenças sem obrigatoriedades específicas, em cadernos de encargos, no plano cultural, no plano da Cidadania, da defesa da dignidade humana nos conteúdos emitidos, e no plano da qualidade do serviço em geral que prestam à comunidade.


Ver ainda o post: Moralizar as TV's privadas... e o Estado.

16.8.05

Televisão pela Cidadania

A Imprensa está cada vez mais alerta para a importância da TV na construção da Cidadania. Hoje, o DN aborda a questão do Provedor da RTP - "O provedor é a voz do espectador" - e o Público fala de uma nova tendência na informação: «Noticiários da SIC apostam no jornalismo do cidadão». As páginas de media dos diários generalistas estão de parabéns.

Esfaqueamento na TVI (salvo seja), e, três anos depois, a AACS

Comunicado da AACS, de 11.AGOSTO.2005, ponto 5:

DECISÃO SOBRE O PROCESSO DE CONTRA-ORDENAÇÃO INSTAURADO CONTRA A TVI: NOTÍCIA DO JORNAL NACIONAL DE 14 DE JANEIRO DE 2002, REFERENTE AO ESFAQUEAMENTO DE UMA MULHER.

«A Alta Autoridade para a Comunicação Social instaurou, em 23 de Abril de 2002, o processo de contra-ordenação contra a TVI – Televisão Independente, S.A., com sede na Rua Mário Castelhano, 40, Queluz de Baixo, Barcarena, por, no “Jornal Nacional” de 14 de Janeiro de 2002, ter transmitido uma noticia sobre o esfaqueamento de uma mulher de 54 anos, em Fronteira, Portalegre, notícia acompanhada de imagens do presumível criminoso algemado - sem qualquer protecção que impossibilitasse a sua identificação - violando os limites à liberdade de informação, estabelecidos nos termos do art. 21º, n.º 1, da Lei n.º 31-A/98, de 14 de Julho.

«A Alta Autoridade para a Comunicação Social, a 10 de Agosto de 2005, deliberou condenar a TVI ao pagamento de uma coima no valor de 143.404€ (cento e quarenta e três mil e quatrocentos e quatro euros).»

15.8.05

Alerta máximo

Liga-se a Televisão e todos os jornais televisivos dão a previsão do tempo (dir-se-ia do fogo), com o mapa de Portugal e os distritos em ‘alerta' ou 'risco máximo’ a vermelho. É o ‘grande’ trabalho jornalístico que antecipa todos os dias o que se vai passar no dia seguinte - e mais parece a ‘agenda’ do incendiário.

Nenhuma estratégia de dissuasão do crime e de pedagogia cívica, informativa, é posta em prática. Nenhuma informação prévia é dada sobre a acção no terreno no distrito em causa. Que trabalho foi feito nos meses que antecederam a época de incêndios? Qual a prevenção e vigilância que estão agora no terreno? Há vigilantes florestais suficientes no distrito, bem integrados no sistema global de defesa da floresta? As forças que combatem os fogos estão devidamente reforçadas com militares, para-militares e outros agentes, judiciária, etc. Há monitorização por satélite, através de sistemas computorizados? Como é que este sistema actua? Um pequeno foco, detectado por satélite, pode ser imediatamente atacado? Que tecnologias da comunicação e da informação estão ao serviço da floresta? Que tipo de frotas aéreas de combate aos fogos e de detecção de incendiários, etc., estão no terreno? Que ‘indústria’ está por detrás dos incêndios? Como está estruturado o cerco ao criminoso detectado? Como adequar a moldura penal à necessária dissuasão futura? Etc., etc.

Pelas TV’s tem que passar forçosamente uma pedagogia da prevenção e da vigilância, a informação regular sobre a acção de detecção do criminoso, dos seus motivos, uma estratégia de dissuasão do crime e dos incendiários que passa ainda pela identificação no terreno da autoridade do Estado, da protecção civil, não abdicando os jornalistas - que devem ter formação específica aprofundada nesta área -, naturalmente, de procurar fazer a pilotagem e a denúncia de todos os laxismos, de todos os abandonos da floresta, de todos os crimes a montante.

Esse, o ‘espectáculo’ que as televisões deveriam ter diariamente – um espectáculo dissuasor, cívico, um jornalismo cívico – ou de como as televisões devem actuar nesta matéria em particular como parte integrante da própria protecção civil. Com essas matérias, porventura, restaria muito pouco tempo para o espectáculo do fogo, ele próprio verdadeiramente incendiário.

13.8.05

TV - o bom ‘combustível’ da ‘indústria dos incêndios’

A página de media do Público de hoje aborda uma questão extremamente importante em termos de impactos da informação televisiva e titula que a «RTP propõe reflexão sobre emissão de imagens de fogos». E acrescenta: «O director de informação da RTP diz que só a concertação entre as três estações possibilitará fazer alguma coisa» (julgávamos efectivamente que o serviço público actuava como referência, independentemente das privadas, mas parece não ser assim...).

Também no Público, existe uma outra peça essencial para se compreender o problema: «Psicólogo afirma que imagens podem ser estímulo para "mentes mais excitáveis"». Duas peças que ajudarão certamente José Gomes Ferreira, sub-director da SIC a perceber melhor o desastre informativo que o seu canal passa todas as noites (e não só a SIC, naturalmente), sobre os incêndios (veja-se o seu texto «A indústria dos incêndios»).

O Expresso de hoje, na pág. 2 («Costa apaga fogo»), cita um estudo do Instituto Superior de Polícia Judiciária e Ciências Criminais e da Universidade do Minho que conclui: «Solteiros, com idades entre os 28 e os 38 anos, ainda a viverem na casa dos pais, sem trabalho fixo, com hábitos de consumo de álcool e/ou drogas, problemas psicológicos e níveis baixos de inteligência, que os levaram a deixar a escola no fim do 6.° ano (o antigo ciclo preparatório). É este o perfil dos incendiários portugueses, a maioria dos quais é condenada pelos tribunais em penas de multa, apesar de o Código Penal punir o crime com prisão entre os 3 e os 10 anos(...). Não têm tendências pirómanas, nem pertencem a redes organizadas, mas são reincidentes. Agem sobretudo por vingança ou retaliação contra familiares, vizinhos, patrões, ou mesmo contra a comunidade. Embora sejam em geral pessoas pouco violentas, sentem-se excluídas por várias razões: desemprego ou ocupação profissional incerta, situação familiar instável, problemas de alcoolismo ou toxicodependência».

Com um «perfil» destes, os erros que se cometem na informação televisiva, principalmente com a submissão de editores e repórteres ao espectáculo do fogo, são o melhor combustível para os incêndios.

Flash back:

Os Telejornais já estão a arder

Jornalismo a arder

Schmock, ou o triunfo do jornalismo

O jornal televisivo, o editor, o incendiário e o psiquiatra deles

As pechas do jornalismo

12.8.05

‘Bora lá ver um serviço audiovisual’

Até 5 de Setembro a Directorate-General Information Society and Media of the European Commission aceita comentários para o e-mail avpolicy@cec.eu.int sobre o processo de revisão da directiva TSF, para, segundo a CE, «to modernise the rules on audiovisual media services».

Folguemos pois sobre esta súbita transformação dos filmes e programas de televisão em «audiovisual media services». A saber pelo que foi produzido na Europa nos últimos 20 anos, na era pós-directiva, a Comissão deve estar cheia de razão: doravante, quando formos ver um programa de televisão é melhor dizer: ‘bora lá ver um serviço audiovisual’. Se formos ao cinema podemos também dizer: ‘bora lá ver um serviço de conteúdo audiovisual’.

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O jornal televisivo, o editor, o incendiário e o psiquiatra deles

Sobre os ‘fogos televisivos’, a TSF foi um pouco mais longe no noticiário das 8h e passou palavras sábias do psiquiatra Manuel Guerreiro sobre o efeito das imagens de fogos devastadores em potenciais incendiários. A conclusão só podia ser uma: a grande violência dessas imagens, a constante repetição com que passam, o ‘espectáculo’ que os telejornais encenam à sua volta, produz efeitos miméticos em indivíduos perturbados, desestruturados, dir-se-ia mesmo até em simples desempregados. Tal como, por exemplo, a violência dos filmes e das notícias produzem efeitos nocivos e miméticos em crianças de famílias críticas e em jovens com problemas de inserção social, com propensão para o pequeno delito.
Na mesma reportagem, Louçã recordava a idosa na zona da Serra da Estrela que deitou fogo à floresta para o ‘circo’ da TV ir à sua aldeia e para que esta viesse depois no Telejornal...
De uma maneira geral, as imagens violentas devem ser alvo de tratamento editorial sensível, e em geral devem ser retiradas do pequeno écran – seja o assassínio de um homem, seja o assassínio de uma floresta.
Em Portugal, grande parte do mal está feito. O que as televisões fabricaram nos últimos anos nesta matéria, é absolutamente lamentável.
Tudo o que se possa fazer para travar os ‘fogos televisivos’ ajuda a travar a demência. E a primeira medida, antes de qualquer auto-regulação, é certamente um curso de formação, na área psiquiátrica, justamente, para directores e editores de informação televisiva começarem a perceber a dimensão e os potenciais impactos daquilo que todos os dias estão a meter no ar, julgando estar a prestar o melhor serviço ao país.

11.8.05

Schmock, ou o triunfo do jornalismo

É o título de um importante livro de Jacques Bouveresse, de 2001 (Seuil) e recomenda-se para este tempo inglório em que os sinais de alerta mais custam a passar nos jornais e nos telejornais – até pelo fumo e pelas cinzas que vão caindo sobre os teclados (veja-se a crónica de hoje no Público de Paulo Varela Gomes). Nada melhor então do que recordar Schmock, personagem da comédia de Gustav Freytag, Os Jornalistas (1853), um narrador de ‘acontecimentos’ sem princípios nem escrúpulos: «Eu aprendi (…) a escrever para todas as tendências. Escrevi para a esquerda, e depois para a direita. Sei escrever de acordo com os interesses de toda e qualquer tendência». Leitura de Verão, mesmo debaixo do fogo mediático.

Controlinveste: novo grupo de media

Venda da Lusomundo autorizada, relata o DN. Com esta venda, emerge um novo grupo de comunicação em Portugal, a par dos principais grupos já existentes. Resta saber se, com uma lei anti trust e a identificação rigorosa de mercados relevantes, Oliveira (e outros) poderão manter os seus pequenos impérios de posições dominantes no sector...

9.8.05

The Future of Electronic Media Content Services

Jornalismo a arder

Luis Costa Ribas em entrevista ao Jornal de Notícias: «Deveria estudar-se a forma como o jornalismo português faz a cobertura dos fogos.»

Serviço Público de TV e ajudas do Estado

6.8.05

As boas companhias da Escrava

Remake da «Escrava Isaura» estreia em Setembro na RTP1. Depois da Venezuela, televisões da Guatemala, Nicarágua, Costa Rica, República Dominicana e Peru acabam de comprar a novela à TV Record. Voltam velhos tiques de 'sul-americanização' do serviço público?

5.8.05

Aviso urgente aos media

O Público titula que «Grupos britânicos de direitos humanos apelam à contenção na cobertura dos atentados» tendo pedido ao attorney general (equivalente ao procurador-geral da República) que faça 'um aviso urgente à imprensa' sobre a cobertura da detenção de suspeitos dos atentados de Londres. E adianta que segundo a Contempt Court Act de 1981 os media britânicos podem ser processados se 'criarem um risco substancial de que o curso da justiça pública seja seriamente dificultado ou prejudicado quando os processos estão activos'. Lá, como cá...

Networks on-line

Região de Madrid com 40 novos canais de TV local digital

Notícia do El Mundo: La Comunidad de Madrid adjudica 40 nuevos canales de TV digital. Aumenta a pequenez de Lisboa... e do quadrado à beira-mar plantado.

Mais vale tarde do que nunca

'Campanha de sensibilização ambiental na RTP', titula o DE: «A RTP iniciou ontem, em todos os seus canais, um ciclo de campanhas de sensibilização ambiental, que pretende chamar a atenção para a necessidade de não desperdiçar água. A iniciativa, constituída por dez micro-programas, chama a atenção para soluções possíveis no dia-a-dia para não desperdiçar este escasso recurso. O objectivo é sensibilizar a população numa altura em que Portugal atravessa uma situação de seca extrema.»

4.8.05

Os Telejornais já estão a arder

Mesmo não se propagando por ondas hertzianas, o fogo está a incendiar as redacções e as bancadas dos Telejornais num fogo que arde sem se ver... Mas está lá. Continuamos a assistir ao triste espectáculo – não dos fogos propriamente ditos (embora também a isso), mas, antes, à transformação em informação-espectáculo desta actualidade trágica, dir-se-ia mesmo destes crimes trágicos, que começam nas florestas e acabam nas redacções.

Para quando um tratamento-choque consistente e continuado destas (e doutras) matérias em termos de pilotagem mediática das responsabilidades nas áreas da prevenção, vigilância, apoios no terreno das Forças Militares e militarizadas, levantamento de dados sobre o estado da floresta e sobre a sua guarda, modelos legais a aplicar e sua adequação, a questão do agravamento de penas e da punição exemplar dos criminosos, o apoio às vítimas, as implicações ambientais, económicas, sociais, a consequente falta de autoridade do Estado de direito, etc., etc., um rol de questões aparentemente avessas ao ‘fogo’ jornalístico-televisivo.

Resta-nos então assistir candidamente ao mapa colorido de risco de incêndio por região: informação que interessará em primeiro lugar (direi eu) ao próprio incendiário… Ele agradece.

TV vs. Net

A publicidade na televisão pode estar a entrar num período de declínio a longo prazo, diz-se na peça do Diário Económico sob o título Televisão perde mercado em benefício da Internet, com base num estudo da Zenith.

2.8.05

CE vira o disco para tocar o mesmo… em Liverpool

Primeiro foram as ‘Assises Européenes de l'Audiovisuel’, que tiveram lugar em Paris, em 1989, sob a presidência da François Mitterrand: foram a primeira grande conferência europeia do Audiovisual. Seguiram-se a ‘European Audiovisual Conference’ de Bruxelas, em 1994. E em 1998 a ‘European Audiovisual Conference’ de Birmingham, subordinada ao tema «Challenges and Opportunities of the Digital Age». Vai agora realizar-se mais uma: em Setembro de 2005 decorre em Liverpool, sob a presidência britânica da CE, a ‘Audiovisual Conference: Between Culture and Commerce’.

Em matéria de Audiovisual a Comissão Europeia muito fala de cultura, mas a verdade é que ao longo de 20 anos sempre tratou o audiovisual europeu como comércio… e os resultados estão aí. Espera-se agora nova ‘remake’, mesmo que a
Consulta Pública invista para o lado contrário.

1.8.05

Current TV: do presente/futuro

Aí está "the first national network created by, for and with an 18-to-34-year-old audience," Al Gore's Current TV. Lançada para 20 milhões de lares, pretende ser um novo conceito de TV: segundo o Daily Wireless, «programming is designed to show younger audiences what's going on in their lives. It will do so in short bursts called "pods," which will vary in length from 15 seconds to five minutes. The goal, says Gore in USA Today, is to serve as a bridge between the Internet and TV by allowing people to customize what they watch. They can even produce what they watch through "Viewer Controlled Content" pieces submitted via the Internet.»

Publicidade e new media

Ver no site da European Advertising Standards Alliance (EASA) o dossier «Advertising Self-Regulation: The Essentials», onde se defende nomeadamente que os «SELF-REGULATORY PRINCIPLES ARE APPLICABLE TO ALL MEDIA INCLUDING NEW INTERACTIVE SERVICES». Ver ainda o estudo (compra) «Advertising self-regulation in Europe». E ainda as ICC Guidelines on Marketing and Advertising using Electronic Media.
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