Os media regionais e o desenvolvimento
Há uma tese de doutoramento pouco citada, defendida no Canadá por Harold Innis, vai para cem anos, que me parece importante invocar no actual contexto de discussão do enquadramento dos media regionais em Portugal.
Dizia Harold Innis, na sua dissertação sobre a History of the Canadian Pacific Railroad, que o desenvolvimento daquele grande país tinha em boa parte sido dinamizado pelo caminho de ferro, não propriamente pela rede de transporte em si mesmo, mas pelos ‘conteúdos’ de que ela era o meio, ou seja, pela crescente circulação da imprensa dos centros para as periferias. O progresso tinha chegado assim.
Esta questão parece-me de enorme relevância no actual contexto. Portugal continua a ser um país muito marcado pela interioridade e pelo débil desenvolvimento das comunidades e indústrias no plano local e regional. Acima desta debilidade há naturalmente um problema fulcral, de iliteracia, de formação e de educação. Mas há também – e em consequência - uma forte fragilidade no plano da comunicação social local e regional.
Conscientes dessas debilidades, as várias políticas públicas, no passado, sempre procuraram atenuar esse gap através de financiamentos diversos ao sector local e regional. O facto é que, por exemplo ao longo da década de 90, e só numa das rubricas dos incentivos (o porte pago), o Estado português contribuiu com cerca de trinta milhões de contos para a imprensa regional, sem que de um tão significativo investimento se tenham tirado os devidos proveitos. Nem tão pouco, em tempo, as devidas ilações.
Há agora um novo posicionamento público a este nível. Anunciam-se reformas nestas políticas e prepara-se o caminho para a progressiva autonomização deste sector, reformatando as suas competências no plano da formação dos seus quadros, na profissionalização das suas práticas. É justamente aí que o erário público pode ver-se ressarcido dos seus investimentos e apoios. Nessa perspectiva, há, naturalmente, uma boa expectativa face às intenções agora anunciadas.
O contributo que o Estado possa dar a este sector, numa perspectiva de investimento dinâmico, potenciando a qualidade dos projectos jornalísticos e o crescimento dos seus públicos, contribuindo para a correcção das lógicas de distribuição, circulação, enfim, para renovadas estratégias de gestão e de marketing, é, no fundo, um importante contributo para o desenvolvimento do país, designadamente nas regiões do interior e mesmo nos limites e periferias das grandes zonas urbanas.
Não há qualquer dúvida de que Harold Innis, há cerca de cem anos, teve a perspicácia de ver o porquê do desenvolvimento crescente de uma país que é hoje uma das nações mais progressivas do mundo. A imprensa e a comunicação social tiveram aí um papel fundamental. Do mesmo modo – e salvas as devidas distâncias –, importa criar as condições para que tal possa suceder também em Portugal no contexto de um forte e sustentado desenvolvimento do interior, que todos reconhecemos ser fundamental para uma aproximação real do país à Europa.
A Imprensa, a Rádio e a Televisão são cruciais para este movimento. E da mesma forma que agora se deu um importante passo para corrigir o «tiro» na área dos apoios à imprensa, importa ainda não perder de vista a importância do audiovisual no plano local neste processo, ainda que, convenhamos, este passo seja porventura prematuro face à reduzida consolidação do tecido industrial, de um modo geral, e do tecido mediático no sector da imprensa e da rádio local/regional. A selecção natural que a autonomização progressiva e a profissionalização dos media regionais trará, a par da chegada de novos investidores, com novas competências, ao sector, mudará o tecido mediático e industrial e mudará certamente o país.
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