31.1.05

Day Time

13:47, Jornal da Tarde, Serviço Público de Televisão (RTP1): um tal Ibson, cidadão brasileiro, chega ao Aeroporto da Portela e fala à reportagem da RTP1: diz que é jogador de futebol e que chegou a Lisboa, mas não sabe onde é que vai jogar. A RTP1 agradece, monta a peça e edita. E diz, em off, que este cidadão não sabe se à noite vai vestir de vermelho, de verde, ou de azul. IRREAL TV recomenda à RTP1 para deslocar a sua redacção para a Portela e entrevistar muitos outros cidadãos brasileiros, que à sua chegada, pelo menos sabem de que cor é que se vão vestir à noite. E assim já o Serviço Público de Televisão fica mais confortável com a matéria editada.

30.1.05

Media e responsabilidade social

No contexto da organização de um seminário da Pro Dignitate sobre «Família, Educação e Media», José Luis Zapatero, presidente do governo espanhol, escreveu a Maria Barroso sugerindo uma frente ibérica contra a violência televisiva e a «telebasura» - o telelixo.
Em causa está, para Zapatero, entre outras coisas, a assunção da responsabilidade social das empresas de media. É uma questão nova, mas não é irrelevante. Diria mesmo que é uma questão essencial nos tempos que correm. E é bem mais relevante do que a transformação fácil (em que por vezes se cai) da Televisão em bode expiatório dos dramas sociais e humanos do nosso tempo.

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Peak Time




















29.1.05

Onde se exige 'ética de antena' à RTP1

Se há que reconhecer a excelente decisão de lançar a série «PORTUGAL EM DEBATE» na RTP1, com a «Senhora Serviço Público» - Fátima Campos Ferreira como pivot, há que reconhecer também que a colocação horária do programa é um disparate.
Um disparate que se explica porque a grelha de programação da RTP1, no horário nobre, segue o princípio básico das estratégias das TV’s comerciais: fidelizar públicos, dando-lhes a mesma receita diária de segunda a sexta, a começar n’ O Preço Certo, a Continuar nos Telejornais com duração superior a uma hora e a acabar no Um Contra Todos.
O efeito perverso deste estratégia é só um: por exemplo, o «PORTUGAL EM DEBATE» sobre a EDUCAÇÃO começou às 22h16 (terminou às 00h20!), porque teve que estar à espera que uma coisa chamada Um Contra Todos terminasse... (o concurso tinha começado às 21h28 e teve 48 minutos de duração).
Este atentado à prestação inequívoca de um Serviço Público pode ver-se ainda melhor pelos índices de audiência: enquanto o concurso teve, em média, quase 1 MILHÃO de telespectadores a segui-lo, o PORTUGAL EM DEBATE – EDUCAÇÃO não passou de uma audiência média de 312 mil telespectadores, menos de um terço do que havia conseguido o Um Contra Todos.
Com um pouco mais de dedicação à causa e ao interesse público por parte dos responsáveis da RTP e o PORTUGAL EM DEBATE facilmente chegava ao milhão de telespectadores e não ao terço disso (bastava uma boa promoção e colocá-lo a seguir a um Telejornal com meia hora de duração).
É claro que se tratasse da transmissão de um JOGO DE FUTEBOL, teria havido instruções para antecipar o Telejornal para as 19h00, mas como era PORTUGAL EM DEBATE – EDUCAÇÃO, nada como deixar correr a coisa madrugada dentro...

28.1.05

Day Time

[Reza a história que um criador britânico aumentou a sua produção de leite oferecendo às suas vacas espectáculos televisivos. Sabendo-se da proverbial qualidade da televisão das terras de Sua Majestade, IRREAL TV alerta os criadores portugueses que eventualmente queiram seguir este exemplo, para não irem atrás dos índices de audiência, o que, naturalmente, poderia ter efeitos perversos]

Junk TV

O comissário europeu da Saúde e Assuntos do Consumidor, Markos Kyprianou, afirmou ao ‘Financial Times’ que Bruxelas dá um ano aos anunciantes de ‘junk food’ para reverem a publicidade televisiva dirigida às crianças, ameaçando legislar sobre a matéria. Por outro lado, segundo a Deco, citada pelo Diário Económico, a maioria dos anúncios emitidos durante o período da programação infantil televisiva em Portugal integra mensagens críticas nessa matéria. É claramente uma área em que importa tomar medidas, em defesa de uma televisão que não patrocine o drama da crescente obesidade infantil.

27.1.05

Peak Time
GET A LIFE é um manifesto da White Dot, uma ‘Anti-TV organisation’. É um dos clássicos dos críticos do «electrodoméstico» televisivo, a par de livros que fizeram história, como FOUR ARGUMENTS FOR THE ELIMINATION OF TELEVISION, de Jerry Mander (editado em Portugal pela Antígona, em 1999), ou AMUSING OURSELVES TO DEATH, de Neil Postman. Livros ideais para todos os que se querem convencer a deixar a dependência diária dessa espécie de analgésico pós-laboral a que todos chamamos carinhosamente a ‘caixa’.

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Qualidade, independência e rigor da informação da RTP

Pergunta: Onde estão os estudos que confirmam, ou infirmam, o rigor, a qualidade e a independência da informação televisiva da RTP, em cumprimento estrito daquilo a que está obrigada no Contrato de Concessão da RTP?

Uma das opções vitais para dignificar o audiovisual, em particular o do serviço público - ideia que inclusivamente está na origem da criação deste blog - é a necessidade de a RTP realizar regularmente estudos qualitativos que podem ser desenvolvidos, por exemplo, a partir de grelhas de análise de conteúdos, complementares dos estudos de audimetria (que são de matriz estritamente comercial).

Os estudos qualitativos são essenciais para que o Serviço Público possa conhecer, de forma mais aprofundada, a adequação da sua oferta televisiva em matéria de informação, não só à expectativa dos públicos, mas sobretudo ao interesse público, caracterizado no Contrato de Concessão da RTP em termos de «elevadas normas éticas e de qualidade» por forma a «proporcionar uma informação imparcial, rigorosa, independente, esclarecedora e pluralista, em oposição à informação-espectáculo ou sensacionalista».

É importante que na TV pública, trimestralmente, ou por quadrimestre, seja analisada uma semana-tipo, designadamente dos serviços noticiosos do horário nobre, por comparação também com os blocos dos principais operadores privados.


Estes estudos deverão cruzar os ratings obtidos pelos diferentes serviços noticiosos com o conteúdo específico de cada segmento (ao minuto), que por sua vez deverá ser ponderado face a uma grelha de análise específica da matriz de serviço público (que integre as diferentes categorias de conteúdo, a qualificação da notícia ou comentário, etc.), obtendo-se depois um índice final para cada bloco, o que permitirá uma apreciação de conjunto da qualidade da informação produzida pela RTP.

Há pois que iniciar esta monitorização, sob pena de nunca se ter um elemento de aferição sobre o desempenho da TV pública.

26.1.05

Primetime

[Não há praticamente espaço no Primetime televisivo para os Mesa - assim como para tudo que está verdadeiramente a acontecer. O seu CD duplo foi considerado por Emmanuel Legrand, da revista norte-americana Billboard, como um dos 10 melhores discos de 2004 (lista onde consta também o disco de Rodrigo Leão - Cinema. Mas nem por isso a TV pública se comove. Não se pode comover, não tem por onde. Dos melhores de nós dificilmente reza a história da televisão. Herman recebeu-os, no Herman SIC - e pouco mais. Recomenda-se ligar a TV, retirar o som e colocar o CD. Ouvir a Lua Vaga e vaguear com a voz mágica da Mónica Ferraz]

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25.1.05

Late Night

Do texto de Rita Siza, do Público de 25 de Janeiro: «Dominou as noites entre 1962 e 1992, lançou cómicos - e deixou uma "maneira de fazer" as coisas» - Johnny Carson, o histórico apresentador do programa "The Tonight Show" da cadeia norte-americana NBC. «Entre 1 de Outubro de 1962 e 22 de Maio de 1992, Carson entreteve gerações com as suas piadas e representações cómicas, e as suas entrevistas acutilantes mas respeitadoras, que definiram para sempre o formato dos programas nocturnos de entretenimento da tv nos EUA. Ao fim de 4531 episódios, retirou-se e remeteu-se à sua vida privada em Malibu, na Califórnia». (…) «O apresentador foi responsável pelo lançamento de vários talentos da comédia norte-americana: Bill Cosby, Joan Rivers, David Brenner e Jerry Seinfeld começaram no "The Tonight Show".»

Por uma Alta Autoridade para o Audiovisual

Estão a surgir os programas dos Partidos no sector da Comunicação Social. Importa fazer aqui uma breve reflexão sobre o que está em jogo.

Dividiria esta questão em 3 grandes tópicos: Regulação de conteúdos e da concentração, Audiovisual e Imprensa.

1. Regulação de conteúdos e da concentração

Começando pela questão da Regulação de conteúdos e da concentração, garantida a independência do sistema e a complementaridade entre instituições afins (ex: Autoridades da Concorrência, da Comunicação Social e das Comunicações, e outras), importa pensar se a novo regulador sectorial deve abranger a Imprensa.

Defendo que não. Portugal precisa de garantir um sistema Audiovisual que cumpra efectivamente a Lei e para tanto necessita de um órgão de regulação específico, competente face a uma área de grande complexidade, forte do ponto de vista técnico-científico, que não se distraia com outros sectores que têm outras prioridades. Deve ter competências acrescidas em matéria de conteúdos televisivos (podendo geri-las em co-regulação), com particular atenção para os públicos mais sensíveis. Daí a urgência de uma Alta Autoridade para o Audiovisual – e só.

A concentração dos media necessita de regulação específica em Portugal. Que deve ser aplicada - e pilotada - de modo a permitir a consolidação do sector, sem que isso impeça absoluta e inequívoca liberdade editorial dos profissionais de comunicação social.

2. Audiovisual

O sector público de media, mas em particular a RTP1, ou é um grande referencial de qualidade na sociedade portuguesa – um exemplo para o País – ou não tem qualquer sentido. E raramente o teve ao longo da sua história.


A monitorização do seu desempenho deve ser promovida pelo Estado, através de três figuras centrais: a Alta Autoridade para o Audiovisual (ou a congénere), o Conselho de Opinião e o Provedor do telespectador.

Anualmente, a Alta Autoridade para o Audiovisual (ou a congénere) deve apresentar indicadores precisos ao país, com base em estudos qualitativos, claros, objectivos, e com metodologias técnico-científicas apropriadas, sobre o desempenho do Audiovisual público, em matéria de qualidade, rigor e independência da informação e da programação.

O sector privado deve ter também as suas metodologias específicas de monitorização, embora não submetidas a Contrato de Concessão, como sucede com a RTP.

Em matéria de Audiovisual, deve ser finalmente garantida a total democraticidade do sistema – e do País – com autorização de TV’s locais hertzianas, fundamentais para o desenvolvimento regional e sobretudo do interior de Portugal.

2. Imprensa

A Imprensa deve estar adstrita a um Gabinete para o Desenvolvimento da Comunicação Social, onde as políticas públicas, a representação internacional, os incentivos e os registos devem estar concentrados. O gabinete deve ter competência para monitorizar questões específicas do sector, por exemplo, através de encomendas de estudos.

As políticas públicas devem concentrar-se no problema da iliteracia no âmbito do sector, que é muito grave em termos de leitura de imprensa. A ligação da imprensa e dos jornais às escolas secundárias é um passo inadiável, para colher frutos dentro de 5-10 anos.

(esta é uma reflexão feita ao correr da pena, uma versão zero, o que significa que qualquer sugestão é bem vinda)



Programas disponíveis:

BASES PROGRAMÁTICAS do PS

PSD

CDS

PROGRAMA ELEITORAL do PCP

PROGRAMA ELEITORAL DO BLOCO DE ESQUERDA



Powell e o 'cartoon'

O Público dá conta - e bem - da saída de Michael Powell da presidência da Federal Communications Commission (FCC) - a toda poderosa instância de regulação dos States. Mais alguns pormenores estão na notícia da AFP.

Fica a tremenda dúvida: teria saído devido ao estranho caso da 'pixelização' do rabo do cartoon?

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Incontinência televisiva

Arne Wessber, presidente da UER, Markus Schächter, presidente da ZDF, Fritz Pleitgen, director-geral da ARD, Marc Tessier, pdg da France Televisions, Flavio Catteneo, director-geral da RAI, David Levy, da BBC e Cármen Caffarel directora-geral da TVE, reuniram a 24 de Janeiro, em Madrid (texto no El Mundo), tendo defendido «que as TV’s públicas europeias devem ter a capacidade e os meios para adquirir todo o tipo de direitos audiovisuais assim como dispor de forma estável e garantida de fundos públicos directos ou via taxa de TV, que, junto com receitas comerciais, possibilitem a necessária planificação plurianual das suas actuações».


Mas, Viviane, cinco anos para adoptar a Revisão?

Em entrevista ao Le Monde, a comissária europeia da Sociedade de Informação e dos Media, Viviane Reding, confirma que apresentará até ao final do ano o projecto de Revisão da Directiva TSF (TWF), que só deverá entrar em vigor lá para 2009 ou 2010, dada a necessidade de a adaptar à «evolução das técnicas» e dada a «demora dos procedimentos». Mas, Viviane, cinco anos para adoptar a Revisão? Será assim tão pouco importante? E nem uma palavra sobre as diversas incontinências da TV pública europeia?

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Sozinho em casa

Ou de como uma entidade de regulação (que se presumia um modelo de independência), neste caso do Audiovisual francês – o Conseil Supérieur de l’Audiovisuel – aprende a ver a TV com os olhos da direita. Perora o Libé: «Avec le départ de Joseph Daniel, nommé par Laurent Fabius, le CSA est désormais à 80 % à droite. Il ne reste plus qu'un conseiller «de gauche», Francis Beck, tout seul comme un malheureux.»


24.1.05

Access Primetime

[Lisboa, 7 de Novembro de 2004, 18:33]

23.1.05

Talvez através de Concurso Internacional se consiga um Ombudsman para a RTP...

Sabemos agora que a RTP quis ter um Provedor, ao tempo da administração de João Carlos Silva. Supõe-se que a motivação era tanta e os desígnios tão elevados, que não conseguiram encontrar ninguém para o lugar…

É isso que nos conta Adelino Gomes, no
Público de 23 de Janeiro, retomando a ideia da «institucionalização, na televisão pública portuguesa, de uma figura independente que represente de alguma forma os interesses e queixas dos telespectadores. Segundo os relatos jornalísticos, foi expressa a ideia de que seria um grande avanço se a RTP acolhesse a sugestão e a aplicasse no seu segundo canal.»

(…)

«Não há razão nenhuma para que a RTP não acolha essa figura no seu canal mais visto. Uma decisão foi tomada nesse sentido pela administração de João Carlos Silva (antes da era Rangel). Os convidados declinaram o convite, eventualmente por recusarem o papel de cereja em bolo fora do prazo de validade.»


Sobre o tema pode ver ainda os seguintes posts:

Vem aí o Provedor da RTP1

Provedores de Imprensa Defendem Cargo Idêntico para a Televisão

ombudsman: cabe à RTP dar o primeiro passo


'Lisboetização’ audiovisual do Porto

Uma ‘lisboetização’, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, que é também uma ‘auto-flagelação’, segundo Jorge Campos.

Tudo se passou dia 21, na FNAC do Norte Shopping, a propósito da apresentação nortenha do livro "Professor, boa noite" da autoria dos jornalistas Júlio Magalhães e José Carlos Castro.


Diz a reportagem de Ângelo Teixeira Marques no Público de 23 de Janeiro: «O jornalista Germano Silva enfatizou a vitalidade cultural do Porto como uma das "sobejas razões para exigir um canal de televisão", enquanto Jorge Campos, jornalista e realizador, defendeu que uma estação nortenha criaria um "equilíbrio nacional" na produção da TV e lembrou que, quando conduziu a programação cinéfila do Porto 2001, sentiu que estava a emergir um mercado de produtores que poderia injectar conteúdos. Mas Campos defende que "tem de acabar o registo de auto-flagelação" que exprimiu numa frase: "Se o Porto não tem [a estação de TV], é por culpa do Porto" disse.»

«Marcelo Rebelo de Sousa pegou nesta ideia e, após ter reafirmado que o Porto "está sub-representado politicamente" e sofre da "lisboetização" das elites económica e política e dos meios de comunicação social (…).»

Sobre o tema vejam-se ainda os seguintes posts:


o audiovisual dos pequeninos

concluir a democratização do sistema de media

Auto-regulação à espera

Em Espanha, um mês após a assinatura do 'Pacto sobre contenidos televisivos e infancia' continua tudo na mesma, ou seja, as TV’s generalistas mantêm os seus programas mais polémicos.

A ver vamos o que sai da reunião, dia 28, da 'Comisión Mixta de Seguimiento del Código'. Para já, e segundo as associações de telespectadores «en las parrillas continúan los espacios más polémicos y los cambios en sus contenidos son prácticamente inapreciables. En su defensa, los operadores afirman que disponen de un periodo de adaptación y que no se trata de cambiar programas sino de adecuar los ya existentes.»

Ver ainda os seguintes posts:

auto-regulação a quanto obrigas…

crianças mais protegidas na TV espanhola

a protecção das crianças e a TV em Espanha

TNT_Eiffel

Raphaël Garrigos, Libération, 18 de Janeiro de 2005: «12 h 05, hier sous le pilier sud de la tour Eiffel. Dominique Baudis, président du CSA, brandit son index droit et appuie sur le bouton Marche. Et là... une mire. «C'est pas de l'art plastique contemporain», ironise Renaud Donnedieu de Vabres, ministre de la Culture, qui patronnait la mise en route par TDF de l'émetteur qui diffusera la Télévision numérique terrestre (TNT) sur Paris et l'Ile-de-France à partir de mars. Pour l'heure, il s'agit de procéder à quelques tests. Les quinze chaînes ne retransmettent encore qu'une mire, sauf Canal +, seule prête à temps. A noter qu'au passage, la tour Eiffel a grandi de 10 mètres, à cause des nouvelles grandes antennes qu'il a fallu rajouter.»


21.1.05

'Días de ruido y fúria'

'Días de ruido y furia. La televisión que me tocó vivir', de Alfredo Urdaci, director de informação da TVE dos anos 2000-2004 de Aznar. O autor faz neste livro o seu ajuste de contas com os actuais ‘patrões’ da TVE.

Diz o El Mundo: «Urdaci recuerda que Zapatero le citaba en todos los mítines y que su nombre era abucheado en aquellos encuentros. Acusa a la Cadena Ser y al PSOE de emplear métodos "estalinistas" en sus campañas contra él y pone en boca de socialistas como Miguel Ángel Sacaluga, miembro del Consejo de RTVE a propuesta del partido y hoy responsable de Prensa de la FSM, frases como la siguiente: "Estás lleno de gasolina y nosotros tenemos la cerilla. La podemos arrojar cuando nos dé la gana".

Trocado por miúdos: mais pedras sobre os telhados de vidro das TV’s públicas europeias... e não só.

20.1.05

Santana à frente na «Google War»

Há pouco mais de um mês, a 16 de Dezembro de 2004, a Vector XXI falava da «Google War» entre Santana Lopes e José Sócrates, com vantagem para o primeiro, por 141.000 citações na Internet contra as 24.600 do seu opositor José Sócrates.

Passado um mês, o IRREAL TV, num momento de puro deleite, foi ver o que se passava e a recuperação de Sócrates é insofismável. Santana continua à frente, mas por 295.000 citações contra 217.000 de Sócrates.

Por este andar, o melhor é entronizar já (pelo menos virtualmente) o homem do Largo do Rato.


Irreal ‘pixel’

Diz António Granado no Ponto Media que «as cadeias americanas de televisão estão de tal forma preocupadas com as regras de indecência da FCC que a Fox ‘pixelizou’ o rabo de um "cartoon" com medo de ser multada...»

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Se, por obra do Diabo, Foucault se cruzasse com Lawrence Summers

Diz-nos o Público de ontem, dia 19, na última página, que Lawrence Summers, Reitor da Universidade de Harvard, economista de carreira e ex-ministro das Finanças de Bill Clinton, teve este «brilhante» discurso: «Os rapazes saem-se melhor do que as raparigas nas ciências e na matemática por causa das diferenças genéticas que os separam. Existem menos mulheres a ocupar cargos importantes nas actividades ligadas à ciência e à engenharia porque elas estão menos disponíveis para trabalhar durante muitas horas seguidas, dada as suas responsabilidades na educação dos filhos. Mas a discriminação sexual já não funciona como um entrave à progressão na carreira académica.»

Várias replicadoras, académicas e cientistas, mostraram a sua indignação: «É lamentável que todas estas jovens mulheres brilhantes [de Harvard] estejam sob a direcção de um homem que pensa desta maneira", afirmou Nancy Hopkins, licenciada em Harvard e bióloga no Massachusetts Institute of Techonology, ao "The Boston Globe", citado pela CNN.»

Neste mesmo dia, curiosamente, o La Vanguardia, de Barcelona, pegava no tema «Foucault, veinte años después», para dizer, através de Miguel Morey, catedrático de Filosofia da Universidade de Barcelona, que «a los veinte años de su muerte, Michel Foucault no deja de crecer. Murió el 2 de junio de 1984, pero ahora ya sabemos que no se puede pensar al individuo contemporáneo sin él, porque nuestra visión del mundo está ligada a su trabajo y porque muchas de sus preocupaciones de ayer nos marcan el presente».

Que um homem, morto há vinte anos, continue a crescer, pode fazer confusão ao Reitor de Harvard.

Se hoje, por obra do Diabo, Foucault se cruzasse com Lawrence Summers, seria complicado. Teria a prova provada – se de tanto necessitasse –, que, de facto, a loucura é um facto de civilização. Mas o pior era mesmo ter que acreditar que são estes os ‘cérebros’ que nos governam.

19.1.05

A muito triste e dolorosa realidade televisiva portuguesa

É nestas alturas que dá vontade de atirar a ‘caixa’ pela janela, como professam os seus adversários mais radicais.

Manuel Pinto alerta hoje, 19 de Janeiro, no webjornal.blogspot.com, para a newsletter da Marktest e em particular para a notícia « Ficção e informação lideram».

O que o mensageiro traz é aquilo que todos esperavam…, mas que não estão (não estamos), de facto, preparados para ouvir (e ver).

É, no fundo, a muito triste e dolorosa realidade televisiva, que nos diz que «se comparada a "oferta" (minutos emitidos) e a "procura" (minutos visionados), vemos que os programas de desporto obtiveram a melhor relação, estando a sua "procura" 54% acima da "oferta". Numa relação positiva (acima de 100), posicionaram-se também os programas de informação, ficção e divertimento.»

E, por conseguinte, os programas de Arte, Cultura, Conhecimento e Juventude têm a pior relação entre horas emitidas e horas visionadas.

Apesar de todos sabermos que as televisões são avessas, em regra, à Arte, Cultura, Conhecimento e Juventude (et pour cause…), a verdade é que, mesmo assim, esta é uma notícia que fere e faz sangrar. É sem dúvida uma das piores notícias que se pode dar a um país que fez uma ‘revolução dos cravos’, mas que agora se vê encravado por todos os lados e ainda por mais um - o do «Conhecimento» através da Televisão.

Fica a pergunta que, com certeza, todos saberão responder: o que será afinal que a televisão portuguesa está mesmo a ensinar aos portugueses?


...............................
[reproduzem-se de seguida as tabelas da MediaMonitor, sobre a Estrutura da Programação e Audiência; e o cruzamento entre recepção e emissão, com o respectivo texto de análise da Marktest]

Ficção e informação lideram

Marktest.com - 18 Janeiro 2005

Em 2004, a maioria dos programas emitidos nos quatro canais nacionais de televisão foram de ficção e informação, de acordo com os dados da MediaMonitor. Ficção e informação ocuparam a maior parte das grelhas da RTP1, 2:, SIC e TVI durante o ano de 2004. Estes quatro canais emitiram em média mais de nove horas e meia diárias de programas de ficção e informação, num total superior a 14 mil horas. Este número corresponde a 39.9% do total de programas emitidos.

Analisada a audiência obtida, vemos como estes dois tipos de programas registam uma relação muito favorável. De facto, do total da programação vista em 2004, 61.1% foi relativa a ficção e informação.

Tal como se expressa no gráfico seguinte, os programas de ficção ocuparam a maior fatia na emissão destes quatro canais, representando 23.8% da emissão total. A publicidade ocupou 19.1% da grelha destes canais e a informação foi o segundo tipo de programa mais oferecido, com 16.2% da emissão total.


http://www.marktest.com/wap/private/images/news2005/170/audtv.gif

Em termos de "procura" (minutos recepcionados), os números favorecem a ficção, que foi o tipo de programa mais visto em 2004, constituindo 30.8% do total. A informação constituiu o segundo tipo mais visto, representando 23.1% e o divertimento foi o terceiro, com 18.5% do total.

Se comparada a "oferta" (minutos emitidos) e a "procura" (minutos visionados), vemos que os programas de desporto obtiveram a melhor relação, estando a sua "procura" 54% acima da "oferta". Numa relação positiva (acima de 100), posicionaram-se também os programas de informação, ficção e divertimento.

http://www.marktest.com/wap/private/images/news2005/170/audtv1.gif

Comparativamente a 2003, os programas de arte e cultura e de informação registaram os maiores decréscimos na oferta destes canais, que lhes dedicaram menos 28.8% e menos 11.8% das suas grelhas, respectivamente. Pelo contrário, os programas de desporto e de divertimento foram os que mais cresceram face ao ano anterior, aumentando 34.7% e 21.1%, respectivamente.

No que diz respeito à audiência por tipo de programas, as maiores variações positivas foram registadas nos programas de desporto e de juventude, cujas audiências aumentaram 48.0% e 15.7%, respectivamente. Os maiores decréscimos em termos de audiência relacionaram-se com os programas de cultura geral/conhecimento e de arte e cultura, cujas audiências baixaram 32.7% e 10.1%, respectivamente.

Esta análise foi realizada com base em dados da
MediaMonitor, através do seu software Telereport. Para mais informações sobre este assunto: contacto@marktest.com

18.1.05

Como falar com jornalistas sem ficar à beira de um ataque de nervos

Ainda ontem, no Prós e Contras, da RTP1, Freitas do Amaral dizia, com muita clarividência, que os políticos portugueses devem ter cuidado quando falam com os jornalistas... Logo à partida, não devem falar de costas, nem às arrecuas... sobretudo para a TV.

Na mouche!

E se isso aconteceu - aliás acontece até com bastante frequência - há claramente uma explicação semiótica e psicanalítica.

Lembrei-me do
Como falar com jornalistas sem ficar à beira de um ataque de nervos, do José Vítor Malheiros e do António Granado - um 'guia para os profissionais de todas as áreas que têm de contactar regularmente com jornalistas,' e naturalmente também para jovens políticos e para outros que já não o sendo já se esqueceram do que aprenderam quando eram... jornalistas.

O livro está esgotado, mas uma segunda edição dedicada a todos os políticos portugueses que têm vontade de falar de costas (mas corrigem o erro a tempo), era bem vinda.

Canal ARTE migra para a TDT em França

… e desaparece do mapa em Portugal.

Um excelente ano de 2005 espera o canal cultural franco-alemão – o ARTE, que infelizmente estamos impedidos de ver no pacote básico do Cabo.

Segundo o presidente do Arte, Jérôme Clément, com a passagem para a TDT, que se espera aconteça no próximo mês de Março, o Arte passará também a ter uma emissão de 24 horas (actualmente o seu horário é das 19h00 às 3h00 da manhã), deixando de partilhar a frequência com a France 5.

O canal anunciou uma audiência média em França de 3,8% (nos maiores de 15 anos) com 9% de aumento face a 2003. Na França e Alemanha o canal é visto diariamente por 14 milhões de espectadores.

Em Portugal, o canal foi retirado do pacote básico da TV Cabo, dizendo a empresa que se encontra no serviço Digital ‘Power Box’, mas o facto é que consultando a grelha, o canal não consta do menu. Tendo o Estado uma golden share na PT e fazendo tanto barulho em torno da Sociedade do Conhecimento, não se percebe como o governo português ainda não se interessou pelo tema, explicando à PT que Sociedade da Informação, Cidadania e Cultura é… ter o Arte em aberto.

O campo da concentração

O campo da concentração dos media – salvo seja -, corre o risco de se tornar, por excelência, «a» questão a resolver não só no campo dos media, mas também no desempenho da Cidadania, quer por parte de jornalistas, editores, produtores, etc., como por parte dos receptores, que querem ver salvaguardada, em primeira instância, a transparência e a frontalidade da comunicação social.

Se é um facto que, teoricamente, alguma concentração do negócio é necessária, por forma a que empresas e grupos criem mecanismos de consolidação industrial, tecnológica e de inovação, a verdade é que a prática dá sinais e demonstra que essa consolidação se tem vindo a colocar, de um modo geral, numa posição de alguma incompatibilidade face à liberdade editorial, e por conseguinte, face à independência dos media.

Este facto, deve anular, só por si, qualquer veleidade do legislador em condescender face à tendência, fabricada pelos próprios media, para maior concentração sectorial e intersectorial sem garantias de reforço da liberdade editorial, da independência e do pluralismo dos media face aos próprios grupos editoriais, grupos económicos, grupos de interesses, campo político-partidário, etc.

De facto, só alguns conteúdos é que parecem interessantes para os negócios. Desses, estão os media cheios.

Este modelo ‘mediático’ inscreve-se claramente numa lógica do ‘concentracionário’ – perigosa para a ordem democrática, que se poderia traduzir, neste caso, pela criação de um obstáculo, aparentemente inerte (uma espécie de magma que se move mas que não se vê), ao pluralismo e à liberdade de expressão e editorial.

Donde, ou o campo dos media dá sinais claros de irradicar o ‘sistema’ das ‘vozes dos donos’ e dos ‘porta vozes oficiais’, privilegiando o desassombramento e a independência editorial, acima de qualquer suspeita, ou a concentração torna-se concentracionário – e aí, contra o ‘campo da concentração’, completamente contra, que venham mil ‘tsunamis’ de desconcentração – nem que sejam blogues...

Sobre este tópico ver ainda os seguintes posts:


Concentração dos media

Concentração dos media – alguns links

16.1.05

Concentração dos media – alguns links

A propósio do anterior post sobre a questão da concentração, ficam alguns links para aprofundamento do tema:

Transnational media concentrations in Europe (AP-CDMM:2004)

Final report of the study on “the information of the citizen in the EU: obligations for the media and the Institutions concerning the citizen’s right to be fully and objectively informed” (EIM: 2004)

A MAPPING STUDY OF MEDIA CONCENTRATION AND OWNERSHIP
IN TEN EUROPEAN COUNTRIES (Commissariaat voor de Media and David Ward: 2004)


Service public de radiodiffusion (CCSE/Paschal Mooney : 2004)

On Media Concentration and the Diversity Question (Robert B. Horwitz:2004)

How to measure media concentration (Eli Noam:2004)

My Beef With Big Media -How government protects big media and shuts out upstarts like me. (Ted Turner:2004)

The Impact of Media Concentration on Professional Journalism (OSCE: 2003)

Informe Anual 2003 (CMT)

Media Ownership Regulation in Australia (Parliament of Australia: 2003)

Media Diversity in Europe (AP-CDMM:2003)

Media Supervision on the Threshold of the 21st Century What are the Requirements of Broadcasting, Telecommunications and Concentration Regulation? (Alexander Scheuer/Peter Strothmann: 2002)

Concentration of Media Ownership Is Eroding Our Democracy' (Frank A. Blethen: 2002)




15.1.05

Concentração dos media

É um tema que urge discutir em Portugal de forma a que se evolua para uma clara regulação sectorial, com esclarecimento cabal da especificidade da intervenção das diferentes autoridades de regulação.

Esta foi uma das áreas em que a Alta Autoridade para a Comunicação Social falhou claramente nas suas competências.


O tema tem sido discutido e estudado um pouco por todo o lado. Refira-se um dossier recente do OFM -
La concentration dans les médias en France, numa dimensão sobretudo crítica.

Mas os franceses acabam de criar uma Comissão oficial para estudar o tema. Presidirá Alain Lancelot, antigo membro do Conselho Constitucional, nomeado por Jacques Chirac. Objectivo: verificar onde a actual legislação continua válida e quais as alterações a fazer. Até ao Verão de 2005 surgirão as respostas. A legislação francesa desta área data de 1986 e de 1994 e, consideram alguns juristas, é complexa e difícil de aplicar.


Vejam-se sobre o tema os seguintes posts:

Os media não estavam lá

Legislou-se sobre concentração horizontal…

…mas não sobre concentração vertical


14.1.05

Para um debate em torno do dispositivo televisivo (*)

Em primeiro lugar diria que, numa introdução à temática da ‘comunicação audiovisual’, importa contextualizar a emergência da Televisão no âmbito do dispositivo histórico-cultural e comunicacional do século passado e procurar compreender esse fenómeno no plano societal, no contexto jurídico-político e cultural do tempo.

Compreender, por exemplo, os mecanismos de apropriação dos media por parte dos diversos campos de dominação, transformando-os, por vezes em máquinas de propaganda, ou em aparelhos ideológicos de poder, através da imposição de lógicas de consenso social, cultural e político. Explicitar os contextos mass-mediáticos, quer enquanto processo de enunciação subsumido num fluxo unívoco de comunicação, quer enquanto fluxo bidireccional em transição para um dispositivo matricial ponto-a-ponto, interactivo.

Pensar, enfim, as relações entre a televisão e a sociedade, sistema complexo ao qual a investigação científica não tem dado a devida importância, apesar de se tratar de uma complexa temática, porventura decisiva para uma percepção mais clara da contemporaneidade.

Ora é sabido que um meio de comunicação, isto é, os seus principais actores, organizam e enunciam o seu discurso em função das relações de poder e das representações que se configuram num determinado campo social e num contexto epocal. No sentido de se poder pensar o modo como se constitui o sentido dessa dinâmica discursiva, importa conhecer e compreender a noção de dispositivo mediático, nas suas diferentes dimensões, que do ponto de vista do emissor – através das dimensões técnica, instrumental e performativa –, quer do ponto de vista da recepção, percebendo-se a lógica de inflexão de modelos comunicacionais e dos respectivos campos de mediação a partir da emergência do conceito de audimetria e das práticas da recepção específicas atinentes ao campo do telespectador.

Repare-se que as práticas culturais dos portugueses, nomeadamente no que diz respeito ao consumo de televisão têm vindo a mudar nos últimos anos. Desde a chegada da televisão por cabo, foram conquistados cerca de três milhões de telespectadores à televisão hertziana, boa parte dos quais tornaram-se progressivamente telespectadores de canais temáticos, nas suas diferentes tipologias.

Claro que uma visão actualizada do dispositivo televisivo implica problematizar a própria inflexão tecnológica do presente e nessa perspectiva implica Introduzir as problemáticas da evolução das linguagens e dos conteúdos específicos da transição do ambiente analógico para o novo contexto digital.

Vejamos para já a anterior lógica de difusão ponto-multiponto, específica do modelo tradicional de televisão generalista, que ainda se mantém, apesar da cada vez maior fragmentação do audiovisual. Neste modelo de ‘pirâmide’ a comunicação é unívoca, integra uma complexa rede discursiva vinculante, legitimadora, uma nova ordem simbólica, de certa forma dissuasora, unilateral, estabelecendo-se assim um modelo contratual, no fundo, uma ordem política e um quadro normativo-cultural, com impacto também no plano dos comportamentos e das condutas.

Poder-se-ia referir aqui o texto clássico de Casetti e Odin, onde se problematiza a oposição entre Paleo e Neo televisão. Para estes autores, a televisão foi desde logo apropriada por uma experiência de comunicação pedagógica, processo que se configurou, nas primeiras décadas da sua história, num ‘contrato’ com o telespectador, transformando-se assim, claramente a televisão como uma ‘empresa’ de escolarização alargada o todo o social.

A televisão prolongava assim a família e a escola, era uma sua extensão, sendo que nessa altura ‘ver TV’ era como que um respeitável ‘acto social’ em que todos queriam estar comprometidos. Nesta fase a emissão é segmentada de forma muito óbvia nos diferentes géneros tradicionais e a grelha, o velho «mapa-tipo» tem de facto um papel estruturante na emissão.

Mas a esta lógica específica do início da televisão, designadamente na Europa, rompe com o anterior modelo relacional, ao qual sucede um modelo de ‘contacto’, caracterizado por um novo modo de estruturação do fluxo e pelo esbatimento do fluxo contínuo clássico, configurado no estereótipo dos fluxos de programação, dos alinhamentos, das formas de representação do real. É como se o mundo se tornasse fábula. O discurso televisivo conduz ao espectáculo de ritualização do acontecimento e à efabulação sempre violenta do real. Um modelo que se manifesta através da criação de uma cultura‑mosaico e de um contrato de visibilidade e de legitimação com o telespectador.

Mas é também o tempo da emergência de processos de interactividade entre o emissor e o receptor. A relação com o telespectador torna-se mais próxima, mais familiar e mais convivial. Apesar disso, é claro que o tipo de representação do mundo que a televisão dá a ver é ainda assim limitada pelo dispositivo clássico, sendo, em geral, mais conservadora do que as próprias possibilidades técnico-discursivas do meio permitem.

A televisão generalista confronta-se agora com os seus híbridos interactivos, sendo este claramente um sintoma de um novo ciclo em relação ao qual, aliás, quer os produtores de conteúdos, quer o campo da recepção, se estão a adaptar progressivamente, ainda que a formatação de conteúdos no domínio do multimédia interactivo tenha aqui uma dificuldade maior. De facto, a era digital e a pós-televisão assentam num novo modelo de comunicação audiovisual que nos fará progressivamente esquecer esse primeiro modelo unívoco e, de certa maneira, autista, da era analógica.

Nesta mesa procurar-se-á então, nas diferentes investigações, dar um enquadramento crítico, reflexivo, epistemológico e ainda jurídico-político às práticas, discursos e procedimentos específicos do objecto televisivo, quer em referência aos conteúdos, quer no plano histórico e jurídico, configurando e problematizando as tecnodiscursividades, a instrumentalidade, a performatividade, as estratégias e os contextos de enunciação, e, enfim, as políticas públicas.

Pretende-se assim aprofundar neste debate e nas intervenções da mesa de Comunicação Audiovisual algumas questões em torno de dispositivos de informação de programação da era da televisão clássica, das respectivas mediações simbólicas, discursivas, tecnológicas, históricas e jurídico-políticas. Do mesmo modo se procurará fazer a análise de contextos, práticas e regularidades discursivas e das condições de produção histórica do real comunicacional, não só no plano de agenciamento ‘televisivo’ do mundo, como também da lei dos sistemas que orientam o aparecimento de enunciados como acontecimentos singulares no campo da videocultura televisiva.

A analítica destes ‘fragmentos’ do fluxo televisivo, claramente mais específicos da neo-televisão, é extensiva à questão dos modelos televisivos, do serviço público de televisão, passa pelo âmbito sociológico, onde se podem evidenciar designadamente tópicos relativos a uma estética e uma política da recepção, sendo que aqui importa cuidar da interpretação de dados quantitativos através de uma estratégia de investigação onde os estudos qualitativos possam esclarecer o que a audimetria esconde, na sua lógica determinada pelas dinâmicas de mercado e comercial.

Na abordagem das diferentes séries e «acontecimentos-monumentos», específicos da narrativa televisiva e bem assim das modalidades enunciativas e fluxos que se estruturam na emissão de ar, procurar-se-á problematizar a emergência de lógicas de mediação do dispositivo, designadamente a partir da configuração de campos, simbólicos, culturais e políticos criados a partir da interacção entre a televisão e a sua recepção.

Por fim, refira-se que a análise acima referida das relações complexas entre televisão e sociedade só poderá ter as suas consequências através de uma analítica porfiada, arqueológica, do contexto, discursos, modo de recepção e condições de produção do sentido do objecto televisivo. Essa analítica é naturalmente enquadrada também pelas lógicas públicas e privadas e ainda pela questão da regulação sectorial, no âmbito da actual dualidade entre serviço público e mercado, para além naturalmente da fragmentação do modelo audiovisual e da multiplicidade da oferta, com base nos novos dispositivos tecnológicos interactivos.


(*) Texto de Francisco Rui Cádima apresentado na abertura da mesa de Comunicação Audiovisual no III Congresso da SOPCOM - Congresso Ibérico, Universidade da Beira Interior, Covilhã, Abril de 2004.


Referências Bibliográficas

CÁDIMA, Francisco Rui
- «Televisão, serviço público e qualidade», Observatório, nº 6, OBERCOM, Lisboa, Novembro de 2002.
-,«Proto e pós-televisão. Adorno, Bourdieu e os outros – ou na pista da ‘Qualimetria’», Revista de Comunicação e Linguagens, nº 30, CECL e Relógio de Água, Lisboa, 2001.
-, O Fenómeno Televisivo, Círculo de Leitores, Lisboa, 1995.

CASETTI, Francesco e ODIN, Roger,
«De la Paléo à la néo-télévision. Approche sémio-pragmatique», Communications, nº 51, Paris,1990.

CASETTI, Francesco e CHIO, Federico di
Análisis de la Televisión - Instrumentos, Métodos y Prácticas de Investigación, Paidós, Barcelona, 1999.

13.1.05

Quando e Como a TV Fala de Si

Um interessante artigo, sobre tema actual, da professora Elizabeth Bastos Duarte, da Unisinos de São Leopoldo, Brasil.

Deixo o resumo e respectivo link para o
PDF do artigo, publicado na edição 1, de Dezembro de 2004, da revista electrónica e-compós.

Resumo: A televisão não se vexa: cada vez mais substitui o mundo exterior real do qual ela deveria dar conta, por aquele constituído no interior do próprio meio, tornando a si própria tema e objeto de seus programas. A tendência não é nova, mas vem-se difundindo de forma vertiginosa sob diferentes modalidades discursivas e com funções estratégicas diversas. O presente trabalho propõe-se a analisar essas formas de autoconvocação – das mais sutis e subterrâneas àquelas que escracham uma auto-referencialidade ostensiva – em suas diferentes modalidades, configurações e funções, tomando como referência uma amostragem de programas, constantes da grade de programação da Rede Globo de Televisão, em que essa estratégia se manifesta.


Palavras-chave: metadiscursividade – autoreflexividade – autopromoção



Provedores de Imprensa Defendem Cargo Idêntico para a Televisão

Sob este título, o Público de hoje relata o debate realizado na Universidade Lusófona, com a participação de todos os provedores da imprensa portuguesa – do PÚBLICO, do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias: «A ideia de alargar a experiência dos provedores do leitor, na imprensa, à rádio e à televisão foi acolhida com agrado pelos provedores».

«(…) Mário Mesquita, ex-provedor do DN, que se encontrava entre a audiência, sugeriu que esta fosse introduzida no canal 2, ideia que agradou a todos os oradores».

Mas não será que o primeiro Provedor de televisão, a haver, faz mais falta à RTP1?

12.1.05

Bill Clinton and Oprah: The Interview

«This is Bill Clinton like you've never seen him before. What you've always wanted to know about his marriage, his mistakes, his childhood and more!»

A entrevista de Clinton a Oprah passou hoje na SIC Mulher, às 18h00, mas devia passar na SIC generalista em prime-time. E se tivesse 100% de share não seria de admirar.

Transmitida nos EUA por altura do lançamento do livro de Bill Clinton – My Life, seis meses depois pudemos ver na televisão portuguesa esta pequena ‘obra-prima’ em formato de talk-show. Mesmo que repetisse todos os dias, substituía com vantagem as novelas – é um tratado político e de experiência de vida, um momento excepcional de televisão. Devia fazer parte do ‘audiovisual’ de apoio à formação em Ciência Política.


Passe a publicidade - diz a SIC Mulher que o The Oprah Winfrey Show «é o talkshow que mudou a televisão norte americana (…). Com mais de duas décadas de história contínua e 35 Emmys, o Oprah Winfrey, é o talkshow mais popular dos Estados Unidos. (…) Oprah, é um nome que todos os americanos conhecem e admiram. Ela quer melhorar a sua vida e fazer com que telespectadores, vejam e reflictam sobre os temas mais controversos da sociedade.»

E já agora vejam com olhos de ver a página da Oprah.

o audiovisual dos pequeninos

O que será de Portugal, da cultura portuguesa e do audiovisual português quando a vizinha Espanha se agigantar, no domínio dos conteúdos para Televisão, com mais de 1000 emissoras de TV Local, a emitir através de redes de Televisão Digital Terrestre (TDT)?

Esta invasão ‘soft’, que se poderá tornar ‘hard’, atinge em Espanha cerca de 87% da população e poderá ser captada por parte da população portuguesa das zonas da raia, falando-lhes eventualmente mais a eles, em situações de ‘proximidade’, do que a própria TV generalista portuguesa – aliás, tal como aconteceu nos anos 80, quando tínhamos monopólio de Estado.

É fundamental, em Portugal, libertar frequências, vontades civis, privadas, industriais, etc., para se avançar em matéria de televisão local em Portugal.

Acabemos com o défice democrático português em matéria de Audiovisual!

Sobre este tópico vejam-se os posts:


equacionar a Televisão Local é incontornável

o mistério da TV local



TV digital abranda nos EUA

As grandes questões que se colocam nos EUA face ao digital prendem-se designadamente com as estratégias das indústrias de equipamentos e os interesses do lobby dos difusores e da sua associação, a NAB - National Association of Brooadcasters, que por sua vez enfrentam tradicionalmente um regulador forte – a FCC, que nem sempre lhes faz as vontades…

Nos EUA, a distribuição por cabo é predominante, atingindo uma penetração de cerca de 70 por cento dos lares, enquanto a distribuição por satélite não chega aos 15 por cento, sendo que a restante é ainda hertziana.

Pelo Telecom Act, de 1996, a FCC comprometia-se a ceder a todos os canais hertzianos, automaticamente, uma frequência digital, desde que estes prescindissem da analógica. A evolução da cobertura digital tem-se feito progressivamente, estimando-se hoje que a quase totalidade dos lares esteja coberta pelo digital, muito embora apenas cerca de 10 por cento dos lares possam receber o sinal digital. Repare-se que em 1748 estações de TV que existem nos EUA (sendo 382 da rede educativa), 1344 (77%) já emitem com sinal digital.

O switch-over está, no entanto, dependente da capacidade dos diferentes lares para receberem ou não, as emissões digitais. Inicialmente, a FCC mantinha o final de 2006 como o momento previsível para o fim do analógico, desde que 85% dos lares tivessem alcançado essa capacidade. Hoje, no entanto, crê-se que esse objectivo estará mais longe de alcançar do que se pensava, muito embora a
NAB insista junto do regulador para que o problema seja resolvido quanto antes.

Veja-se que a FCC impôs agora à indústria de equipamentos que todos os televisores passem a integrar sintonizadores digitais (com bloqueadores de redistribuição para a Net, de forma a reduzir a pirataria de conteúdos) até Julho de 2007.

O facto é que o fim do analógico é uma prioridade nos EUA. A questão está associada à necessidade de libertar frequências designadamente para serviços de segurança e de protecção civil – polícia, bombeiros e outros ‘first responders’ em casos de urgência – tendo sido esta uma recomendação da ‘9/11 Commission’.

É assim previsível que a FCC adie o switch-over para mais tarde, falando-se da probabilidade da futura data ser Janeiro de 2009 – um atraso de mais de dois anos face ao inicialmente previsto.

11.1.05

15 anos de TV privada em Espanha, ou...la Ley de Caza hecha por el conejo

No seu artigo Televisión, más o menos, publicado a 31.12.2004 no diário espanhol Cinco Días, M. Angel Aguilar refere-se aos 15 anos de TV privada em Espanha, notando que no relatório da Uteca (Unión de Televisiones Comerciales Asociadas) INFORME UTECA - 2004 SOBRE LA SITUACIÓN DEL AUDIOVISUAL EN ESPAÑA, publicado a propósito da efeméride, pretende fazer passar a mensagem de que «en un área como esta de la televisión privada, la apertura a una mayor competencia pudiera acelerar la ruina asegurada de todos los competidores».

E continuava: «Hace 25 años algunos cifraban en la aparición de la televisión privada todas las maravillas del país de Alicia. De la competencia iba a surgir todo lo mejor. Otra cosa es que esos augurios se frustraran y acabara instalándose la competencia como una espiral degenerativa hacia lo peor, que acabó arrastrando a la propia televisión pública, sostenida en su condición de servicio doméstico del Gobierno de turno en la búsqueda de la audiencia más facilota por toda clase de basureros. Que la innovación brillara por su ausencia y que se estableciera el principio de que millones de moscas en absoluto pudieran equivocarse en su preferencia por la mierda.»

«El informe de Uteca (…) concluye con una letanía de peticiones que van desde la necesaria compilación de la actual maraña de normas; la solicitud de reglas específicas que ordenen la competencia de modo que sea posible la viabilidad económica; la rebaja o supresión del IVA soportado; la reforma de la legislación de propiedad intelectual; el sometimiento de las televisiones públicas a un severo estatuto donde se les impongan cargas y obligaciones concretas en cuanto a programación, publicidad y técnicas de las que los operadores privados quedarían exentos; la restricción de acceso de las televisiones públicas al mercado publicitario tanto por lo que se refiere al tiempo de emisión como en cuanto al volumen máximo de ingresos en este capítulo; (…)

«Imposible detectar en sus 112 páginas un solo apunte autocrítico sobre la trayectoria descrita en estos 15 años. En resumen, como decía el notario Alberto Ballarín, la Ley de Caza hecha por el conejo.»

10.1.05

descubra as diferenças entre o Contrato de Concessão da RTP e a Programação da RTP1


No Contrato de Concessão do Serviço Público de Televisão, de 22 de Setembro de 2003, na Cláusula 6ª, no âmbito da «Obrigações da programação de serviço público», é referido o seguinte:

A Concessionária - a RTP - obriga-se ao cumprimento, em geral, da missão de Serviço Público enunciada na cláusula 5ª e, em particular, a transmitir uma programação que respeite os seguintes objectivos:


a) Contrariar a tendência para a uniformização e massificação da oferta televisiva, proporcionando programas não directamente ditados pelos objectivos da exploração comercial;
b) Manter referenciais de qualidade numa programação diversificada – cultural, educativa, documental, e informativa e recreativa;
c) Promover a divulgação do Cinema, do Teatro, da Música, da Dança, da Literatura e da Pintura portuguesas;
d) Corresponder, no respeito dos valores referidos na alínea b), às aspirações dos diversos públicos, sem qualquer forma de exclusão social, política, religiosa, étnica e sexual;
(…)
g) Assumir uma programação que contribua para a formação e desenvolvimento do gosto e estimule a criação artística;
h) Assegurar a produção e emissão de programas infantis e juvenis, educativos e de divertimento, a horas apropriadas de programação;
(…)
j) Assegurar um equilíbrio entre a produção própria e a produção independente, por forma a permitir o desenvolvimento de uma indústria audiovisual que constitua um desafio permanente à melhoria da qualidade e eficiência da produção própria;
k) Proporcionar uma informação imparcial, rigorosa, independente, esclarecedora e pluralista, em oposição à informação-espectáculo ou sensacionalista;
l) Sujeitar-se a uma ética de antena que claramente recuse a violência gratuita, a exploração do sexo ou que, de qualquer modo, atente contra a dignidade devida à pessoa e os demais direitos fundamentais, com protecção, em especial, dos públicos mais vulneráveis, designadamente crianças e jovens;
m) Contribuir através das suas emissões internacionais para a caracterização da sua identidade nacional e dos seus valores culturais, para a difusão da língua (…)

Face ao exposto, propomos uma breve reflexão por comparação dos pressupostos com a própria programação da RTP1.

Há sobretudo que estar atento e exigir um prime-time inequivocamente cumpridor do Contrato de Concessão, o que, de facto, não acontece. Veja-se, sobre este ponto, o post
fidelização horizontal e vertical na grelha da RTP1.



Towards the Information Society: Whatever Happened to Communication?

conferência de Cees J. Hamelink na Reitoria da UNL, 13 Janeiro 2005 às 17h30.

«Nos actuais debates – quer em política quer na imprensa – a expressão mais recorrente é sociedade de informação. Pode questionar-se, no entanto, se se deverá colocar ênfase nos desenvolvimentos conducentes às sociedades da informação ou do conhecimento.


«Precisarão as modernas sociedades de mais transferência de informação, de mais armazenamento de informação, de mais distribuição de conhecimento? Estaremos a prestar pouca atenção à noção da comunicação como um processo interactivo de diálogo pessoal e público? O que implicaria a mudança de “transferência de mensagens” para “interacção dialogante”? Será que deveremos promover e desenvolver “sociedades de comunicação” em todo o mundo?»

Programa completo do
Ciclo de Conferências APDSI

9.1.05

bio@net (II)


(conclusão do anterior post)

Outro exemplo na reflexão das sinergias com as redes é o das nanotecnologias. A nanotecnologia «trabalha» o mundo e as coisas a uma escala um milhão de vezes menor que um milímetro, o nano.

Ciência e tecnologia vêem assim facilitada a exploração dos limites de redução física dos dispositivos mecânicos. A nanotecnologia permite criar dispositivos complexos do tamanho de moléculas e nanomáquinas tão pequenas que poderão interagir directamente com o corpo humano no plano da bio-comunicação.

Dentro das possíveis aplicações para a nanotecnologia inclui-se a possibilidade de introduzir dispositivos de investigação em miniatura na circulação sanguínea ou a de armazenar bibliotecas inteiras em componentes com cerca de um centímetro.

Daí à criação de micro sistemas neuronais de raíz tecnológica vai um pequeno passo, que pode, muito naturalmente, ser o passo para o abismo.

Como evitar então esse abismo? A questão é que aqui poderá também residir a transição do corpo biológico para o «corpo-terminal», bio-maquínico.

Para Dan Tapscott, a hierarquia e a economia industriais estão a dar lugar às organizações e às estruturas económicas moleculares (...), a unidade de base da nova economia digital é o indivíduo. Trata-se também de uma atomização que se configura ainda num novo conceito «virtual» do trabalho, agora mercadoria apátrida e volátil que favorece uma nova divisão internacional do trabalho. Empresa virtual, trabalho à distância, corpo_sujeito_ nómada - «corpo-terminal»…

É certo, como defendia Lyotard, que uma nova eficácia da performatividade dos enunciados deriva da utilização das máquinas informacionais, bem como uma nova ordem de legitimacão. São os sistemas e os programas mais eficazes a 'ter razão’. Em acréscimo, é o próprio regime da tecnociência que se configura como auto-regulador de tecno-desejos e de tecno-imaginários à margem de eventuais solicitações do humano. A razão moderna e os novos tecno-imaginários perdem-se assim nesse espaço disseminado e é justamente nessa zona de sombra e de incredulidade que o escândalo ontológico poderá ser total.

Ora, se estamos, aparentemente, perante essa realidade modelizada pelos tecno-imaginários, e se a sua resultante se configura sobretudo nas novas estratégias informacionais, será então a altura de nos confrontarmos com esse ruído, essa sobreinformação que é uma crise de solidariedade entre o sentido e o ser.

Isto é – e para voltarmos ao essencial: se o «continente», a arquitectura da rede (da Net), a aproxima dos sistemas complexos da própria natureza, que estranho paradoxo poderá fazer com que o seu «conteúdo» a afaste cada vez mais dos mundos da vida das comunidades virtuais? É como se o sistema da vida entrasse numa lógica hipertélica irreversível e radical, deixando-se contaminar por um qualquer vírus letal.

Como dizia Manuel Castells, o poder consiste hoje em criar e impor códigos de informação. A realidade, essa, parece não contar. E a realidade aqui é, sem dúvida, a vida, os mundos da vida.

7.1.05

‘esquizofrenia’ audiovisual

O novo director da TVE Manuel Pérez Estremera, explicou, pedagogicamente, a todos que o queiram entender (também por cá) que não se pode atacar a perda de audiência do serviço público e em troca exigir qualidade.

Nem mais!

«Manuel Pérez Estremera, ha pedido "comprensión" y que se deje a un lado "cierta esquizofrenia" en torno a la cadena pública pidiéndole cosas "contradictorias". "Nos piden una televisión más cultural, de más calidad, con menos publicidad y más competitiva. Y a la vez nos atacan continuamente por perder audiencia, piden que hagamos programas con menos dinero...", señaló (veja-se o despacho da Europa Press, no El Mundo de ontem, 6 de Janeiro)


ondas gigantes, redacções vazias

Uma leitura amarga de Alberto Dines, no site do Observatório de Imprensa brasileiro, sobre a cobertura dos acontecimentos do sudeste asiático nos media brasileiros.

Na sua crónica
Ondas gigantes e redacções vazias, Dines diz que «a mídia precisa de réus e bodes expiatórios, sobretudo quando os mediadores não têm apetite ou competência para oferecer explicações, informações ou reflexões mais aprofundadas.»

Na sequência, veja-se também o post 'tsunami' em ondas hertzianas.


documentário ganha espaço na TV francesa

Tendências contraditórias nas estratégias de programação das TV’s francesas para 2005.

O Le Monde foca, fundamentalmente, a «télé-réalité» e o documentário ou a «docu-fiction» como sendo dois dos géneros que marcam as grelhas este ano e refere que a televisão é cada vez mais «planetária».

Veja-se o texto Une télévision de plus en plus planétaire do suplemento Rádio-Télévision desta semana.

6.1.05

(…) equacionar a Televisão Local é incontornável


é esse também o pensamento do IRREAL TV

concordamos plenamente com Manuel Falcão, director de programas da 2:, que no DN de ontem, 5 de Janeiro, à pergunta - «A televisão pública cresceu no cabo e os novos media continuam a crescer. Para onde deve ir o serviço público neste contexto de mudança da televisão?», responde:


- «O tempo o dirá. No cabo, por exemplo, o Governo regulamenta de menos, se não o monopólio da TV Cabo não existia. A entrada da RTP no cabo foi importante. Mas há uma coisa em Portugal que é inevitável começar a ser equacionada, que é a televisão local. Aconteceu em todos os países. As televisões estão demasiado distantes. Mais do que qualquer evolução tecnológica, o passo decisivo é uma televisão mais próxima das pessoas. É o ponto fundamental para a evolução da televisão em Portugal.»

na sequência, veja-se o post
o mistério da TV Local

5.1.05

RTP quer Marcelo

Grande manchete, a do Correio da Manhã de hoje, 5 de Janeiro.

Depois do despedimento do ano, pode dizer-se que é ‘serviço público’ dar emprego audiovisual ao Professor mais escutado do país.

O CM fez trabalho de casa e foi ouvir quem de direito:

«Uma fonte do gabinete do primeiro-ministro explicou ao CM que a posição de São Bento é a de que a “não se coloca a questão de comentar ou não comentar a ida de Marcelo Rebelo de Sousa para a RTP porque é uma situação que se desconhece”.

«Da presidência do Conselho de Ministros e respectiva tutela da estação pública (Morais Sarmento), a resposta não podia ser mais clara: “Não há comentários porque é um acto interno da RTP”, conforme disse ao CM fonte do gabinete do ministro.

«Fonte do gabinete do Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro (Rui Gomes da Silva) não quis fazer quaisquer comentários sobre a ida de Marcelo Rebelo de Sousa para a RTP, apenas referiu que o ex-comentador da TVI “é livre de trabalhar onde quiser”.»

IRREAL TV dá também o seu OK, mas fica na dúvida: se o PSD ganhar a 20 de Fev. e for governo conseguirá calar dentro de si os alegados ‘ódios de estimação’ do Prof. - ainda por cima na RTP? Por outro lado, se perder, não será o próprio MRS a entrar em ombros na sede do PSD?

Donde, a começar, o melhor é começar já…

a Rede de Cinema Digital

Refere a TEK a assinatura de um protocolo entre o ICAM, a FCCN e a UMIC com «o objectivo de fazer chegar a produção cinematográfica nacional a um público mais alargado, através da Internet de banda larga (…). Durante o primeiro ano de funcionamento, esta rede alternativa de transmissão e difusão de cinema, não comercial, contará com 20 salas.»

Pretende-se com esta rede "fazer chegar os conteúdos nacionais a mais sítios, e a sítios que normalmente não têm cinema", segundo Elísio de Oliveira, presidente do ICAM.

Regista-se o pouco ou nenhum relevo dado (até agora) nos media a um facto de relevância significativa.

as Imagens que fazem tropeçar a História também são Arquivo


(a propósito do facto de a UNESCO relançar o International Appeal for the Preservation of the World Audiovisual Heritage - “The world audiovisual heritage that bears witness to the people's cultural identity is under immediate threat. 200 million hours of audio and video records are endangered, particularly in the developing countries” says the International Federation of Television Archives inviting for on-line signatures to its “Call from Paris”)

O conceito de ‘documento’ evoluiu no Tempo. Da Pré-História à Escrita, dos meios de massa da era industrial aos cyber media.

No passado, o Monumento liga-se intencionalmente ao poder de perpetuação das sociedades históricas. O termo latino documentum evoluiu para o significado de ‘prova’ e para o positivismo, no séc. XIX - foi o fundamento (texto) do facto histórico.

Samaran dizia que ‘Não há história sem documentos’. E Paul Zumthor: ‘O texto é mais frequentemente monumento do que documento’. É o produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder.

Os Media e o retorno do ‘acontecimento’ criaram o conceito de documento-monumento, trouxeram a crítica do acontecimento (événement) e a convicção de que não há acontecimento sem os Media.

No século XX, os Media substituem-se ao historiador, que legitimava o real no passado. São eles que hoje criam o acontecimento e o ‘real’ e de alguma forma o legitimam.
E as escolas críticas vêm dizer que os media não falam do que verdadeiramente está a acontecer…

Do que falam então os media (a informação)? Do privilégio do acontecimento-catástrofe, do acontecimento-espectáculo, da actualidade trágica e do fait-divers.

E, em consequência, da menorização da virtude civil, da experiência social, da vitalidade da sociedade civil. Não há, tão pouco, uma discriminação positiva do acontecimento, que é a antítese da mercantilização da notícia.

Jacques Le Goff dizia que, «no limite, não existe o documento-verdade. Todo o documento é mentira. Cabe ao historiador não fazer o papel de ingénuo. (…) Qualquer documento é ao mesmo tempo verdadeiro e falso, porque um monumento é em primeiro lugar uma roupagem, uma aparência enganadora, uma montagem».

Uma análise de caso de uma ‘massa’ documental: por exemplo, o Diário de Notícias, na sociedade portuguesa, ao longo do Século XX (foi, ao longo do século passado, monárquico, republicano, fascista, comunista, socialista, social-democrata…) o que ilustra bem o facto de a história e o arquivo dos média ser sobretudo um 'ensimesmamento', de passar ao lado do que está a acontecer.

Há que ter consciência de que o acervo documental do Audiovisual hoje, para além do ‘não-dito, inclui um pouco de tudo: documentos manipulados, instrumentalizados, desfocalizados, forjados, verosímeis, verosimelhantes, factuais, bons e maus trabalhos jornalísticos, boas e más imagens, etc. É também com todos eles que se fará a História e se procurará configurar um real que é já passado.

Há que ter consciência das leis da ‘arqueologia’ dos documentos e da lei do Arquivo – o Arquivo não é apenas o conjunto de uma massa documental. É sobretudo a lógica que dele se extrai, o sentido que lhe deu origem e que é exposto pela descrição intrínseca dos seus documentos-monumentos.


Há que ter consciência da lei da Raridade – da complexidade do real e do facto de só termos conhecimento de um certo número de traços e de relatos, os únicos – os raros – que finalmente emergiram à ‘dignidade’ mediática.

A ‘raridade’ dos documentos reforça a importância do seu arquivo e da sua boa conservação. A complexidade do ‘sentido’ do Arquivo reforça a importância do seu estudo e de práticas de investigação histórica e documental patrocinada pelas entidades que regulam a investigação científica. Mas também por iniciativa das próprias empresas de media, face à necessidade de produção de conteúdos com base documental.

A importância dos documentos Audiovisuais tem ainda a ver com os impactos desses mesmos documentos na sociedade contemporânea. Se algumas imagens mudaram a História: as manifestações de Chicago de 1965; Walter Cronkite, a TV e a Guerra do Vietnam; a emergência da TV na África do Sul e o fim do apartheid; a queda do Muro de Berlim (RDA, Roménia, etc.); as imagens de Timor, etc., o facto é que uma boa parte das imagens faz tropeçar a História.

A ‘Caixa que Mudou o Mundo’ mudou realmente o Mundo? Mudou a experiência social e vivencial do Norte para o Sul? Mudou a experiência cultural e o saber no plano da humanidade no seu conjunto? Mudou o Mundo no sentido de um Mundo mais solidário? Conseguiu fazer passar uma mensagem e uma prática civilizacionais?

Ou a ‘caixa’, no fundo, tem sobretudo tendência a tornar mudo o Mundo?

bio@net (I)


«Nunca te enamores do teu próprio Zeppelin»
Umberto Eco


As grandes áreas de crescimento mundial no sector das tecnologias têm sido a Internet, a convergência TMT e as comunicações móveis, que são não só grandes mercados, mas, fundamentalmente, áreas estratégicas para o desenvolvimento e para a cidadania.


O facto é que se a Net permite o acesso a conteúdos da rede através do telefone móvel, a maior parte dos utilizadores ainda não integrou o novo conceito na sua prática quotidiana.
A situação evoluiu desde há uns anos atrás, mas mantém-se a dificuldade de massificação daquela ligação. Veja-se que num estudo «global» realizado em 2001 pela
Accenture, dos cerca de 3.000 inquiridos nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Finlândia e Japão, apenas 15 por cento dos que possuíam telefone móvel o utilizavam para aceder à Internet. Menos de um por cento dos inquiridos efectuava compras on-line a partir dos seus telefones móveis. Certo é que o acesso móvel à Internet está crescer. A Forrester estimava, numa sua projecção, que 54 por cento dos europeus terão acesso à Net através do telemóvel já em 2005, o que, a verificar-se, constitui um importante avanço.

A convergência nas tecnologias da informação e das telecomunicações marca indelevelmente a realidade do sector. Nesta área, em particular, o número de telefones fixos passou a ser menor do que o número de telemóveis, a nível do planeta (cerca de mil milhões de unidades cada), o que vem acentuar a importância do comércio electrónico móvel.

Cada vez mais se percebe que só uma pequena percentagem de um «móvel» de terceira geração se parecerá com aquilo a que no passado chamávamos telemóvel. O escritor espanhol Juan José Millás glosava esta possibilidade «neuronal» da tecnologia da seguinte maneira: «(...) la familia, en lugar de llevarte flores al cementerio te llevará pilas al móvil, para que continúes latiendo eternamente en el interior de sus circuitos impresos».

Tal como a publicidade endereçada, interactiva e ligada a bases de dados, os EPG’s – Electronic Program Guides constituirão também um dos eixos centrais que farão convergir televisão e internet, sabendo-se que o custo de transferência de um terabite (1000 gigabites) de dados pode cair para apenas alguns dólares.

Mas como será, no fundo, a nova web? Falou-se no sistema GRID, preparado por físicos de partículas, um sistema com uma capacidade de computação, de armazenamento e de transmissão de dados superior em várias ordens de magnitude à actual Internet, milhões de vezes mais potente que a actual, suportado pelo superacelerador de partículas LHC.

De facto, é cada vez mais plausível a hipótese de que a Net possa vir a estar tecida numa mesma base matemática, isto é, segundo os princípios organizativos universais da própria natureza, das redes de moléculas de uma célula, ou mesmo de espécies, num ecossistema ou ainda inclusivamente de pessoas num grupo social. Actualmente, pensa-se que as verdadeiras redes distam muito de ser aleatórias, isto é, apresentam um elevado grau de ordem e universalidade facto que, de certa maneira, foi inesperado para a ciência.

De certa forma, estas redes, ao se constituírem, organizam-se de tal modo que a maioria do seus nós tem muito poucas conexões, mas um número muito pequeno de nós – hubs – tem um elevado número de conexões.

Este tipo de estrutura pode ajudar a explicar que redes tão diversas como os metabolismos, os ecossistemas ou a própria Internet sejam geralmente muito estáveis e resistentes, ainda que propensas a ocasionais colapsos catastróficos.

Dado que a maioria dos nós (moléculas, espécies, servidores de PC) têm um número reduzido de conexões, pouco depende efectivamente deles: pode eliminar-se uma grande fracção que a rede se manterá. Mas se se eliminam uns quantos nós com um grande número de conexões todo o sistema virá abaixo.

(continua)

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