bio@net (II)
(conclusão do anterior post)
Outro exemplo na reflexão das sinergias com as redes é o das nanotecnologias. A nanotecnologia «trabalha» o mundo e as coisas a uma escala um milhão de vezes menor que um milímetro, o nano.
Ciência e tecnologia vêem assim facilitada a exploração dos limites de redução física dos dispositivos mecânicos. A nanotecnologia permite criar dispositivos complexos do tamanho de moléculas e nanomáquinas tão pequenas que poderão interagir directamente com o corpo humano no plano da bio-comunicação.
Dentro das possíveis aplicações para a nanotecnologia inclui-se a possibilidade de introduzir dispositivos de investigação em miniatura na circulação sanguínea ou a de armazenar bibliotecas inteiras em componentes com cerca de um centímetro.
Daí à criação de micro sistemas neuronais de raíz tecnológica vai um pequeno passo, que pode, muito naturalmente, ser o passo para o abismo.
Como evitar então esse abismo? A questão é que aqui poderá também residir a transição do corpo biológico para o «corpo-terminal», bio-maquínico.
Para Dan Tapscott, a hierarquia e a economia industriais estão a dar lugar às organizações e às estruturas económicas moleculares (...), a unidade de base da nova economia digital é o indivíduo. Trata-se também de uma atomização que se configura ainda num novo conceito «virtual» do trabalho, agora mercadoria apátrida e volátil que favorece uma nova divisão internacional do trabalho. Empresa virtual, trabalho à distância, corpo_sujeito_ nómada - «corpo-terminal»…
É certo, como defendia Lyotard, que uma nova eficácia da performatividade dos enunciados deriva da utilização das máquinas informacionais, bem como uma nova ordem de legitimacão. São os sistemas e os programas mais eficazes a 'ter razão’. Em acréscimo, é o próprio regime da tecnociência que se configura como auto-regulador de tecno-desejos e de tecno-imaginários à margem de eventuais solicitações do humano. A razão moderna e os novos tecno-imaginários perdem-se assim nesse espaço disseminado e é justamente nessa zona de sombra e de incredulidade que o escândalo ontológico poderá ser total.
Ora, se estamos, aparentemente, perante essa realidade modelizada pelos tecno-imaginários, e se a sua resultante se configura sobretudo nas novas estratégias informacionais, será então a altura de nos confrontarmos com esse ruído, essa sobreinformação que é uma crise de solidariedade entre o sentido e o ser.
Isto é – e para voltarmos ao essencial: se o «continente», a arquitectura da rede (da Net), a aproxima dos sistemas complexos da própria natureza, que estranho paradoxo poderá fazer com que o seu «conteúdo» a afaste cada vez mais dos mundos da vida das comunidades virtuais? É como se o sistema da vida entrasse numa lógica hipertélica irreversível e radical, deixando-se contaminar por um qualquer vírus letal.
Como dizia Manuel Castells, o poder consiste hoje em criar e impor códigos de informação. A realidade, essa, parece não contar. E a realidade aqui é, sem dúvida, a vida, os mundos da vida.
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