20.1.05

Se, por obra do Diabo, Foucault se cruzasse com Lawrence Summers

Diz-nos o Público de ontem, dia 19, na última página, que Lawrence Summers, Reitor da Universidade de Harvard, economista de carreira e ex-ministro das Finanças de Bill Clinton, teve este «brilhante» discurso: «Os rapazes saem-se melhor do que as raparigas nas ciências e na matemática por causa das diferenças genéticas que os separam. Existem menos mulheres a ocupar cargos importantes nas actividades ligadas à ciência e à engenharia porque elas estão menos disponíveis para trabalhar durante muitas horas seguidas, dada as suas responsabilidades na educação dos filhos. Mas a discriminação sexual já não funciona como um entrave à progressão na carreira académica.»

Várias replicadoras, académicas e cientistas, mostraram a sua indignação: «É lamentável que todas estas jovens mulheres brilhantes [de Harvard] estejam sob a direcção de um homem que pensa desta maneira", afirmou Nancy Hopkins, licenciada em Harvard e bióloga no Massachusetts Institute of Techonology, ao "The Boston Globe", citado pela CNN.»

Neste mesmo dia, curiosamente, o La Vanguardia, de Barcelona, pegava no tema «Foucault, veinte años después», para dizer, através de Miguel Morey, catedrático de Filosofia da Universidade de Barcelona, que «a los veinte años de su muerte, Michel Foucault no deja de crecer. Murió el 2 de junio de 1984, pero ahora ya sabemos que no se puede pensar al individuo contemporáneo sin él, porque nuestra visión del mundo está ligada a su trabajo y porque muchas de sus preocupaciones de ayer nos marcan el presente».

Que um homem, morto há vinte anos, continue a crescer, pode fazer confusão ao Reitor de Harvard.

Se hoje, por obra do Diabo, Foucault se cruzasse com Lawrence Summers, seria complicado. Teria a prova provada – se de tanto necessitasse –, que, de facto, a loucura é um facto de civilização. Mas o pior era mesmo ter que acreditar que são estes os ‘cérebros’ que nos governam.

Site Meter