27.3.05

Os Telejornais preferem notícias do «mundo da morte»

Raramente, muito raramente, se vê uma notícia do «mundo da vida» nas televisões. As televisões preferem, de facto, notícias do «mundo da morte».
Hoje, Domindo de Páscoa, às 14:42, a SIC Notícias passava uma bela peça do seu correspondente em Israel, sobre a visita de Mourinho, para apadrinhar uma 'pacificação' israelo-palestiniana através do futebol. Foi a última notícia a passar, naquele jornal.
Devia ter sido a primeira. Talvez devesse ser a primeira, em todos os telejornais. 365 dias por ano. Muitas notícias assim e o mundo não será o mesmo.

22.3.05

Capitão Roby & Friends Sobem na Bolsa

Titula o Jornal de Negócios que a 'Media Capital sobe mais de 3% com a «Quinta das Celebridades»', isto enquanto o império de Jardim Gonçalves e a Portugal Telecom caiem e pressionam a bolsa nacional: «O PSI-20 deslizou 0,20% com a Media Capital a somar mais de 3% depois da estreia da segunda edição da «Quinta das Celebridades», que deu a liderança das audiências à TVI.»

«De acordo com os dados da Marktest, o programa de entretenimento da TVI liderou a tabela dos cinco programas mais vistos com uma audiência média (número de portugueses que viram, pelo menos, parte do programa) de 15,8%, o que deu à estação da Media Capital a liderança nas audiências no dia de ontem.»

Mais: «Fora do PSI-20 as acções da SAD do Futebol Clube do Porto e do Sporting caíram cerca de 3% no dia em que se defrontam para a Super Liga. As da equipa azul e branca desvalorizam 3,80% para os 2,53 euros enquanto as do clube de Alvalade deslizaram 2,26% para os 2,60 euros.»

Ver afundados assim o BCP, a PT e o FCP enquanto o velho Roby faz disparar a cotação da Media Capital, é demasiado instrutivo para a minha pobre cabeça. Flipei. Crashei. Façam-me Reset, p.f.

21.3.05

Canais de TV ou suportes publicitários?

Muito a propósito o dossier de ontem do Público, «Ecrãs de televisão invadem espaços públicos das cidades» assinado por João Pacheco. É um facto que há aqui matéria de sobra para o legislador...

18.3.05

Governo pretende reforçar poder da futura Autoridade dos Media

Divulgado o Programa do Governo, veja-se alguma matéria essencial, em termos do que está neste momento em cima da mesa:
«Em nenhuma circunstância a liberdade de informação pode ficar refém de interesses económicos ou políticos. A concentração da propriedade dos media pode pôr em causa o efectivo pluralismo e a independência do serviço público de informação. Importa, por isso, impedir os excessos de concentração e os abusos de posição dominante, promover a transição para as tecnologias digitais de difusão, estimular a co- e a autoregulação do sector, enquanto instrumento de salvaguarda da dignidade humana, dos direitos da personalidade e da isenção e rigor informativos, assegurar os direitos dos jornalistas e o cumprimento das respectivas regras deontológicas, fortalecer o tecido empresarial da comunicação social, designadamente nos planos local e regional, apoiar a investigação sobre temas do sector e estabelecer formas de cooperação e parceria com os países e comunidades lusófonas.
«Neste quadro, o Governo propõe-se:
«No domínio da regulação e da garantia do pluralismo informativo:
«Promover, com a maior brevidade, a criação de um novo órgão regulador dos media, independente dos poderes político e económico e dispondo dos meios humanos, técnicos e financeiros adequados. A respectiva lei orgânica, a aprovar pela Assembleia da República nos termos do novo preceito constitucional, deverá prever a articulação entre a entidade reguladora da comunicação social e as entidades congéneres das comunicações e da concorrência;
«Incentivar, paralelamente, os esforços de todos os agentes sectoriais – das empresas de comunicação social aos jornalistas – no sentido da criação de uma plataforma comum que promova a aplicação de padrões ético-deontológicos exigentes e alargados ao conjunto dos mass media, incluindo os distribuídos em linha (on line);
«Estabelecer limites à concentração horizontal, vertical e multimedia, sem prejuízo da desejável existência de grupos portugueses de media que melhor enfrentem os desafios da internacionalização e da modernização do sector, conferindo um papel relevante à entidade reguladora da comunicação social na definição das situações de poder de mercado significativo e na determinação das salvaguardas a aplicar em tais casos (...).»

17.3.05

TV's infringem Código da Publicidade

Diz o Público que as televisões foram os maiores infractores ao código da publicidade em 2004: «A violação do tempo máximo reservado à publicidade nas televisões portuguesas foi a principal infracção detectada em 2004 pelo Observatório da Publicidade.» Este observatório identificou 153 infracções daquele tipo. Com 125 infracções, foram identificadas práticas de publicidade enganosa e de violação do princípio da veracidade na mensagem publicitária. Resultados indubitavelmente importantes, que só pecam pela periodicidade, que deveria ser eventualmente bi ou trimestral.

15.3.05

Les Portugais...

Enquanto ponho a 'escrita em dia', revejo alguns recortes dos últimos dias e não resisto a partilhar um texto do Le Monde, do passado dia 8, intitulado «Le Portugal sort tout doucement d'une longue convalescence». Num tom que se diria hiperrealista e demolidor, veja-se quão esquizofrénica está a 'vidinha' e a nossa própria imagem: «Les prix sont devenus européens, les salaires sont restés nationaux et les Portugais consomment à l'américaine»...

11.3.05

Outro planeta

De regresso de uma semana de trabalho em Paris, no âmbito do PIDC, da Unesco. Tempo também para ver TV francesa - TF1, France 2, 3, LCI, etc.

Não foi tempo desperdiçado. Vi-me, de repente - espero que não tenha sido semana atípica - mergulhado num outro mundo. Públicas e privadas, quer na informação, quer na programação, senti-as televisões de rosto humano, sempre com imagens fortes da virtude civil, com diversidade na programação. Outro planeta televisivo.

De regresso ao burgo, resisto a ligar a talevisão pátria. Nada como saborear muita coisa do que vi por lá - a maior parte das peças de informação com rigor, virtude e humanidade, tanto na TF1 como na France 2 (jornais de pouco mais de meia hora), excelentes documentários, um Kubrick - o Eyes Wide Shut (na TF1, estranhamente para maiores de 12, com orgias às 10 e tal da noite) , o Liberté, Égalité, Féminité e o Ça se Discute (2), o excelente Il Faut que ça Change (M6), mas sobretudo e ainda a informação - a anos-luz do que se está a fazer aqui.

Pedimos desculpa por esta interrupção...

O blog segue dentro de momentos.

4.3.05

A responsabilidade social do 'Público' e dos Media

Ainda a propósito do post anterior, sobre a 'responsabilidade social', importa reconhecer aqui o avanço qualitativo do Público relativamente à concorrência. Hoje, mais um importante passo foi dado por este diário com a reedição actualizada do seu Livro de Estilo (ver a peça «Redacção do PÚBLICO adopta regras éticas mais exigentes»).

Do Público, espera-se a ruptura com o jornalismo negociado com os porta-vozes oficiais, espera-se uma maior aproximação à experiência social, à virtude civil, à vitalidade da sociedade civil, um olhar prioritário e mais alargado e insistente (discriminação positiva) para o que faz crescer Portugal, e para a Educação, a Cultura, a Ciência e os Media.

É sobretudo do Público (que aparenta estar mais disponível para essa mudança) que se espera esse olhar inegociável, distanciado e crítico, algum desassombro. Por uma opinião pública forte, uma sociedade mais lúcida, mais competitiva, mais participativa. Pela Cidadania. Por um Portugal outro. Essa é a responsabilidade social do Público e dos Media.

«Ser socialmente responsável». Será que estamos todos à vontade para dizer que os Media o são?

A secção de media do Público destaca o tema «"Media" devem ajudar a perceber responsabilidade social das empresas», a propósito de um Seminário da Oikos, dirigido aos profissionais da comunicação social, onde se discutiu os "media" e a responsabilidade social das empresas.

Mas sobre esta matéria, a questão preliminar é saber exactamente se os media estão à vontade quando se trata de analisar o exercício regular das suas práticas no domínio da sua própria responsabilidade social!

No seminário, Phillip Inman, editor do Guardian, referiu-se ao facto de «os consumidores começarem a ter uma preocupação cada vez maior em adoptar comportamentos eticamente relevantes».


É claro que sim. Importa é que esses comportamentos ‘eticamente relevantes’ olhem desde logo criticamente para os próprios media. Quanto mais os media forem 'socialmente responsáveis', mais a sociedade o será também.

Há um longo caminho a fazer nesta matéria.

TVE, a sorvedoura. Ou quanto custa ter uma TV pública para usar quando é preciso e fazer pouco mais do que as privadas

Com uma dívida global de 7.000 Milhões de Euros e perdas, em 2004, de 723 milhões de Euros, bem se pode dizer que a TVE, em vez de serviço público é um sorvedouro do dinheiro público.

Bruxelas veio entretanto exigir que este ano acabe em definitivo o aval público ilimitado do governo espanhol à TVE.

De como evitar o ‘telelixo’

O Conselho Superior do Audiovisual francês anunciou a lista de programas de TV (de Janeiro a Outubro de 2004) aos quais atribuiu a classificação de ‘obras audiovisuais’, tendo por objectivo apreciar o cumprimento de cotas de programação segundo a lei francesa. Nesta designação cabem apenas novas produções difundidas pelas TV’s dentro dos géneros ficção, animação, documentário, videomúsica e curtas-metragens. Mais precisamente (artigo 4 do decreto n°90-66):

- «fiction télévisuelle (téléfilms, feuilletons, séries, oeuvres d'animation, émissions scénarisées pour la jeunesse),
- «oeuvres d'animation autres que de fiction,
- «documentaires,
- «magazines minoritairement réalisés en plateau,
- «divertissements minoritairement réalisés en plateau,
- «vidéomusiques,
- «oeuvres cinématographiques de court métrage (durée inférieure à 60 minutes),
- «concerts, adaptations et retransmissions de spectacles théâtraux, lyriques et chorégraphiques (les captations de spectacles ne sont considérées comme oeuvres audiovisuelles dès lors que ces spectacles existent indépendamment de la télévision. Ne sont pas retenus dans les captations de spectacles les remises de prix et récompenses ainsi que les concours).»

Esta classificação, de espectro mais apertado do que a Directiva comunitária, pretende sobretudo incentivar e defender a cultura francesa e penalizar o uso e abuso do telelixo.

Um exemplo a que a Comissão Europeia e os Estados-membros deveriam dar mais atenção. Antes que a televisão europeia se torne num gigantesco plateau de novelas, reality-shows e informação-espectáculo.

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2.3.05

BBC, porta-te bem…

… que a gente paga para isso. Foi mais ou menos o que a ministra britânica dos Media, Cultura e Desporto, Tessa Jowell, foi dizer aos Comuns, na apresentação do Green Paper on the Review of the BBC's Royal Charter de 118 páginas sobre o futuro da ‘Beeb’ (lançada a consulta pública em Dezembro de 2003). Jowell não deixou de dar um raspanete ao serviço público, acusando a BBC de correr atrás das audiências e de copiar as privadas: «she made clear she wants the BBC to give higher priority to public-interest programming, warning that it should not chase "ratings for ratings sake" or "play copycat" with commercial broadcasters.»

A reforma é válida para os próximos 10 anos e mantém a taxa anual de cerca de 175 Euros (!) por lar. Depois se verá o que fazer sobre o modo de financiamento. Quanto ao modo de governação, o ‘board of Governors’ será substituído por dois corpos – o BBC Trust, que velará pelo cumprimento do serviço público e um Executive Board.

1.3.05


400 anos depois
Investigadores do Museu Gutenberg, da cidade de Mainz, na Alemanha, encontraram nos arquivos municipais de Estrasburgo vestígios da Relation de Johann Carolus, folha impressa de 1605, que passa por ser uma das raras provas documentais das primeiras folhas impressas na transição do Século XVI para o Século XVII. Comemorando o facto, o Museu Gutenberg prepara uma grande exposição para Julho sobre o 400º aniversário da imprensa escrita, na qual fará uma retrospectiva da evolução dos jornais ao longo de sua história. Vale a pena a deslocação.
Citação (para melhor entender os media)
«As representações do mundo social, em­bora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. (…)
«As percepções do social não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma autoridade. (...)
«As lutas de representações têm tanta importância como as lutas económicas para compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor, a sua concepção do mundo social, os valores que são os seus, e o seu domínio.»
Roger Chartier, A História Cultural - Entre Práticas e Representações, Difel , 1988
Citação (documento-monumento)
«O documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao futuro - voluntária ou involuntariamente - determinada imagem de si próprias. No limite, não existe um documento-verdade. Todo o documento é mentira. Cabe ao historiador não fazer o papel de ingénuo».
Jacques Le Goff, Documento/monumento, Enc. Einaudi, Vol. I, IN-CM, Lisboa, 1984.

Media, sentido e signos da História

Que sentido, que signos da História emergem dos diferentes universos comunicacionais e campos mediáticos, dos diversos media, desde a era pós-industrial até à actualidade?

Ao pensarmos o sistema que orientou o aparecimento de acontecimentos singulares e as formas e o conteúdo desse real mediatizado, verifica-se a emergência de 'acontecimentos-monumento', produto de um contexto que lhes deu corpo, segundo relações de forças e de interesses, de condições de enunciação e de contextos específicos.

Daí que os signos da História surjam, antes, como estigmas do campo dos media, que fazem com que a história da comunicação, nomeadamente do campo dos media clássicos, seja a história de um fluxo unívoco de dominação. Assiste-se, assim, não propriamente à iluminação do Homem, mas, antes, à sua exclusão ou degradação.

Reflexão que conduz ao equacionamento de uma oposição perversa: se o sistema político, acompanhado do seu sub-sistema juridico-administrativo é, cada vez mais, um meio de comunicação, os media acabam por ocupar esse vazio, afirmando-se cada vez mais também, como um sistema de poder e de dominação.
(História e Crítica da Comunicação)

A vida é um Cabaret e o mundo um Reality Show

Diz o DN que a RTL2, da Alemanha, vai lançar um 'reality show' non-stop - "até que Deus e os espectadores o desejem". São 15 concorrentes numa pequena vila,"um completo microcosmos social, que inclui luta de classes, invejas e hipóteses de subir ou descer a escala social".

Às vezes vale a pena parar para pensar e perguntarmo-nos se o Mundo não é já, para a Televisão, uma espécie de "completo microcosmos social que inclui luta de classes, invejas e hipóteses de subir ou descer a escala social" (e pouco mais…).
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