30.9.05

Jornalismo (e autarquias) do Fim do Mundo

Ontem, o Jornal da Tarde da RTP abria com mais uma tragédia (no Bairro do Fim do Mundo) - aparato policial no local, uma barraca ardida, uma família de emigrantes atingida, crianças entre as vítimas, etc. Pergunta do jornalista para a câmara, em directo: «Como é que é possível que em Cascais exista um bairro destes?» ??????

Pois, exactamente, essa é a pergunta que nós, telespectadores, fazemos, para que os jornalistas nos consigam dar resposta... Como é que desde os anos 60 - mandava ainda um senhor ditador chamado Salazar - o Estado (agora 'de direito') não existe nas autarquias, impedindo que estes bairros nasçam como cogumelos?... Terá (ainda) a ver com a 'pequena' corrupção dos fiscais das câmaras, que passam no local só depois da placa já estar em cima da casa, com a família lá dentro, para depois ameaçar com um série de multas e se irem embora com os bolsos cheios do escasso dinheiro ganho por emigrantes indefesos?...

'Os erros da SIC', segundo Emídio Rangel

Diz Rangel, no CM: «Julgo que não me engano se disser que hoje o único património válido da SIC é o alvará da estação.»

'Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania'

Assim mesmo. Campanha brasileira, segundo a M&P - Anunciantes querem TV de qualidade , «que a Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, em conjunto com cerca de 60 entidades da sociedade civil, iniciou em 2002 sob o mote de promover os direitos humanos e a dignidade dos cidadãos nos media.»

'A renovação das licenças deveria servir para repensar a televisão'

Totalmente de acordo com Miguel Gaspar, no DN de hoje - Licenças e interesse público. Faça-se o que é possível ainda fazer nesta matéria, assim o obriga a ética, a política, a estética, os príncípios elementares da Cidadania - e se assim for, até o Direito agradecerá. Nem é necessário invocar aqui a disponibilidade avançada pelo PSD ontem no Parlamento para regulamentar de imediato a lei em matéria de renovação de licenças. Basta, no próprio documento que formalizará a renovação das licenças, explicitar de forma muito firme a absoluta necessidade do cumprimento inequívoco da Lei em matéria de ética de antena e de dignidade humana num bem público escasso e de elevada responsabilidade social e para a correcção de estratégias que não respeitam o princípio da diversidade e da qualidade na programação e na informação. Mas esta posição - que é um compromisso com a sociedade civil, com os portugueses, e que pretenderá corrigir os erros cometidos nos últimos 13 anos - não pode ser tomada pela AACS (por todas as razões e mais uma) para depois ser aplicada pela ERC... Teria que ser já a ERC a fazê-lo.

29.9.05

O novo Regulador, ou o salvar da face do Estado

Segundo o DN, temos 'Novo regulador em Novembro'. Será certamente difícil. Mas venha ou não depressa, todos ganharemos com o reenvio do processo da renovação das licenças de TV para o novo regulador da comunicação. Todo o tempo que se possa ganhar neste processo vem em defesa da Cidadania, através do debate público sobre a matéria, que está timidamente lançado.

O actual regulador e o legislador têm nesta matéria responsabilidades, que, por não terem sido enunciadas em tempo útil, abriram a possibilidade de uma renovação automática das licenças, o que é uma espécie de branqueamento da actividade da TV privada em Portugal e dos seus impactos negativos na sociedade portuguesa, nomeadamente pelo tabloidismo na informação e pelo terceiro-mundismo do prime time, centrado em séries de telenovelas, reality-shows e humor rasca, caso único, aliás, na Europa.

Corrija-se então o que se pode ainda corrigir e salve-se a face do regulador e do legislador, isto é, salve-se a face do Estado.

Ainda sobre o tema veja-se também no DN: Licenciamento televisivo deve ser devolvido ao Governo e Relator da AACS renuncia por 'pressão' do Governo.

Nos media, como nas comunicações

Segundo o CM, «Juan Luís Cebrián, administrador delegado da Prisa, apelou ontem, no Fórum Europa, em Madrid, à união entre Portugal e Espanha contra a hegemonia de grupos norte-americanos na América Latina. “Portugal parece-nos um sócio favorável na geração de recursos e captação de oportunidades no sector dos media ou em outros sectores na América Latina”, defendeu Cebrián». Por que não?

28.9.05

'Media Concentration Governance' e responsabilidade social no sector

Um importante artigo e também um grande desafio. Autor: Werner Meier, do IPMZ de Zurique: «MEDIA GOVERNANCE. A VALUABLE INSTRUMENT FOR RISK DISCOURSE ON MEDIA CONCENTRATION?», publicado na útima Réseaux, de Junho de 2005. Ficam o resumo e as conclusões:

RÉSUMÉ
L'auteur analyse la transnationalisation des sociétés médiatiques en Europe sous la perspective de la propriété des médias. La structure industrielle des médias, à l'instar de la structure de leur propriété, contrôle l'accès au « marché des idées ». La concentration de la propriété pose un problème fondamental dans les démocraties. Les gouvernements et les élites industrielles assouplissent les règlementations sur la propriété des médias, alors que les citoyens s'inquiètent d'une perte profonde du pluralisme et de la diversité. La concentration de la propriété est une question importante qui nécessite un examen rigoureux, de même que de nouvelles dispositions d'ordre politique. L'auteur propose « une gouvernance des médias » comme modèle complémentaire de co- et d'auto-régulation, tant sur un plan national qu'européen

ABSTRACT
The author analyses the trans-nationalization of media industries in Europe through the lens of media ownership. The industrial structure as well as the ownership structure of the media control who may have access to the "marketplace of ideas". Ownership concentration is a fundamental problem of democracy. Governments and corporate power elites ease the rules for media ownership, whereas the public fear a devastating loss of pluralism and diversity. Concentration of ownership matters and requires scrutiny as well as new policy initiatives. The author proposes "media governance" as a complementary model of co- and self-regulation on a national and European level.

CONCLUSIONS
Pour toutes les raisons indiquées plus haut, je propose donc un système élaboré de monitoring qui d'une part garantisse la création et l'accès permanent à des données actuelles sur la concentration des médias tant au niveau national qu'au niveau européen, et d'autre part l'établissement d'un rapport annuel «Media Concentration Govemance» dans lequel toutes les entreprises de communication dominantes auraient à apporter publiquement la preuve, dans les espaces de communication les plus divers, de leur compatibilité avec la société et la démocratie. Une initiative «Media Concentration Govemance» renverserait la charge de la preuve pour les conséquences, soupçonnées ou niées, de la concentration et du pouvoir des médias, offrirait aux entreprises de communication un forum propice, parce que «réglé», à exposer comment elles assument leur responsabilité, et permettrait aux divers groupes détenteurs de stock-options de médias un discours permanent et éc1airé sur le pouvoir et l'influence des groupes de communication. L'avenir dira si les groupes de communication et l'Etat sont prêts à franchir ce pas.»

Amanhã às 13h: mortos, feridos ou estropiados?

Todos os blocos noticiosos de hoje, das 13h - RTP , SIC e TVI, abriram com o naufrágio de uma pequena embarcação de cinco pescadores na praia da Galé, enviados especiais ao local, helicópteros, etc. Ontem, o assassínio de um autarca de Vila Franca das Naves, abriu as 13h da SIC e da TVI. O Jornal da Tarde da RTP teve o bom senso de editar a peça um pouco mais para a frente... Amanhã o que virá?

27.9.05

'Política, mentiras e TVI'

A ler, no Público de hoje, o esclarecedor artigo de Alberto Arons de Carvalho, 'Política, mentiras e TVI', sobre as grandes questões do momento da televisão portuguesa. Infelizmente, o Público mantém este género de textos (do espaço opinião, fora dos colunistas habituais), só para assinantes. Podiam rever e disponibilizar em aberto...

Sexo & rock'n roll

Rui Ferreira Nunes, psicoterapeuta, sobre AB...Sexo (TVI): "o sexo é abordado com superficialidade, como espectáculo, um pouco como acontece em 'Fiel ou infiel?', em que se destaca como comportamento agressivo e primário"... O que não deixa de ser para meninos de coro ao pé de "Spuiten & slikken" ("Injectar-se & engolir").

26.9.05

OFCOM critica BBC

BBC repreendida pela OFCOM por mostrar imagens de um ferido grave nos atentados de 7 de Julho. Lá como cá...

Impresa/SIC manda limpar o telelixo?

Depois do triste espectáculo que a SIC está a dar nesta rentrée, um comunicado oficial: «a SIC generalista, como se depreende das audiências dos últimos meses, deve procurar novos rumos e uma nova estratégia, para a prossecução dos quais a mudança e o rejuvenescimento da direcção de programas serão certamente benéficos» e o anúncio da saída de Manuel Fonseca e de um novo Director de Programas - Francisco Penim. Esperemos que seja para limpar o telelixo.

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Não se pode ligar a TV...

Escandaloso. No mínimo. Duas e meia da tarde. Liga-se a SIC. Está um 'directo' no ar (Às duas por três), moderado por José Figueiras. Convidados: um realizador de filmes pornográficos, uma stripper, uma escritora-prostituta, autora do livro '300 clientes habituais'. Conversa: prostituição, clientes, prostituir-se para escrever, etc. Classificação etária do próprio canal: 8 anos!!!!!! Alguém se enganou no horário do programa... À atenção da (ainda) AACS...

A 'agenda' de Fátima F.

Ler Miguel Gaspar, no DN, sobre «Fátima e os Jornalistas». De facto, o efeito do 'furacão' F.F. apanharia desprevenido o editor mais atento. O problema é que a televisão, mesmo sem furacão, transforma habilmente qualquer leve ventania, ou mesmo um simples espirro, em abertura de Telejornal.

25.9.05

Renovação das licenças de TV: 'repor as coisas no seu devido lugar'

Emídio Rangel ao DN, sobre a renovação das licenças da SIC e TVI: «Não estou de acordo com uma renovação automática, mas seria uma insensatez não renovar essas licenças. Uma avaliação às televisões ajudaria, sim, a repor as coisas no seu devido lugar.»

Completamente de acordo. Pessoalmente defendo, justamente, uma clarificação no texto das condições gerais da reatribuição, que explicite, a partir do articulado da actual Lei, nomeadamente as questões da ética de antena e da defesa da dignidade humana, dando desde já um sinal aos operadores de que nos próximos 15 anos (com o novo regulador), haverá uma outra exigência (certamente também pública e política) e uma monitorização efectiva relativamente ao cumprimento desses mesmos aspectos na programação e informação.

A TVI, o grupo Prisa e a Identidade penhorada

Vicente Jorge Silva, no DN: «Temos assim programas como Big Brother, Quinta das Celebridades e Fiel ou Infiel - aliás importados de formatos estrangeiros, como as telenovelas de inspiração brasileira - promovidos a testemunhos intocáveis da "identidade cultural portuguesa". Mas se a suburbanização cultural que as televisões privadas - e a TVI em especial - vêm insaciavelmente promovendo, com os inevitáveis reflexos políticos em fenómenos como Felgueiras ou Amarante, representa o penhor da nossa sacrossanta identidade, então apetece dizer venham aí os espanhóis!»

Morangos com Açúcar: uma série perigosa

Um belo dossier na última Xis, sobre a série Morangos com Açúcar. Alguns dos pontos críticos e negativos da série, dificilmente superados (nos tempos que correm) pelo mito do controlo ou acompanhamento parental da série:

O vício e a forma dos adultos olharem crianças e adolescentes; abordagem deslocada da sexualidade dos adolescentes onde, na série, os de 10 anos vêem o que os de 20 têm dúvidas em fazer na vida real; um 'desvio' de prácticas genéricas adultas, fazendo crer que a encenação dos problemas de jovens adultos fazem parte do universo das crianças; inexistência de uma visão crítica e distanciada do real como estratégia; vazio de ideias como modelo de vida; a socialização faz-se pela vacuidade e pela 'figura' física; banalização do sexo e exploração do corpo como regra; banalização da infidelidade e das falsas amizades; a série reforça ainda a degradação dos valores essenciais e da dignidade da pessoa; o princípio do prazer é dado como princípio de realidade.

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'SIC esperança'

Um director de revista de TV (Nuno Farinha, TV Guia) com vontade de programador: SIC Esperança.

24.9.05

Quando o legislador abre o debate

23.9.05

'Comunidade gay tomou conta da SIC'

A crónica de Emídio Rangel, no CM: «A ‘1.ª Companhia’ esmagou a concorrência e tem condições para ainda subir mais, sobretudo depois da comunidade gay ter tomado conta da SIC. Pensa-se pouco em Carnaxide. Dois programas na mesma grelha, inspirados no mesmo universo de referências?»

Esta sim é uma notícia de abertura de Telejornal (mas como não deita labaredas, o mais certo é nem ser editada)

O “Código de Boas Práticas na Comunicação Comercial para Menores”, promovido pela Associação Portuguesa de Anunciantes (APAN), será subscrito por 35 entidades entre as quais estão os maiores anunciantes portugueses.

Marketing político por e-mail só autorizado pelo destinatário

TEK: «A Comissão Nacional de Protecção de Dados pronunciou-se sobre o tratamento de dados pessoais dos cidadãos pelos partidos políticos e entidades de natureza análoga, adiantando que estes devem ser equiparados às normas que vigoram para o marketing directo, o que exige o consentimento prévio do destinatário.»

A AACS está a regular bem?

Leio dois textos no Diário de Notícias de hoje:
1. Auto-regulação - AACS aplaude sinalética da TVI
2. Crónica de Miguel Gaspar: A televisão está a regular bem?
Lidos os dois textos, o resultado é: A AACS está a regular bem?
Ver ainda: Sinalética televisiva: auto-confusão em vez de auto-regulação

22.9.05

Democracia ou 'democratainment'?

Educar, informar, divertir, diz-se agora: edutainment, infotainment, entertainment. E a soma destes todos dá: democratainment. Recomenda-se então a leitura do livro de Mario Perniola, «Contra a Comunicação», da Teorema (acaba de sair) : «É esta a varinha mágica que parece transformar em provas de força factores de fraqueza como a inconsequência, a retratação e a confusão e que substitui a educação e a instrução pelo edutainment, a política e a informação pelo infotainment e a arte e a cultura pelo entertainment. Como fala directamente ao público, tudo isso tem, de resto, uma aparência muito democrática: não foi por acaso que para designar este fenómeno se forjou o termo democratainment.»

21.9.05

Degradação das TV's privadas

É um artigo com uns aninhos, que agora encontrei na Net, mas, estes, por serem raros, convém tê-los bem presentes, dada a censura existente em determinados media nesta área. José Geraldes: «A sociedade civil e a degradação de programas das TV's».

Se é ali que está a identidade cultural portuguesa...

O anterior ministro Morais Sarmento diz ao DN «estar "preocupado" com a aparente indiferença do Governo relativamente ao negócio entre a Prisa e a Media Capital - que poderá levar o grupo espanhol de media a controlar a TVI -, Morais Sarmento considerou a atitude como uma "irresponsabilidade política" que demonstra "incapacidade para perceber como este meio [a televisão] pode influir na identidade cultural portuguesa". Uma atitude que, segundo acrescentou, está em "total dissonância" com a do Governo anterior.»

É, pelo menos, curiosa esta afirmação. Significa que enquanto ministro Sarmento estava absolutamente convencido de que a SIC e a TVI não influiam negativamente na identidade cultural portuguesa... Opiniões. De ministros. Ou seja: de novela brasileira em novela brasileira, de reality show em reality show, de humor rasca em humor rasca, de tabloidismo em tabloidismo, até à (in)identidade final...

20.9.05

Sinalética televisiva: auto-confusão em vez de auto-regulação

Classificação de programas TVI: TODOS, +10 (AP), +12 (AP), +16, +18. (AP) : aconselhamento parental

Classificação de programas SIC: Infantis, -8, -12, -16

Classificação RTP: (?) Espera-se que, pelo menos, não seja qualquer coisa como: +4, -8, +13, -18...

Teria sido um tudo nada inteligente não avançar sem auto-regulação e concertação sectorial. As auto-regulações feitas à revelia dos parceiros sectoriais não são boas conselheiras... É, aliás, ao regulador que cabe pilotar estes processos, de modo a haver alguma coerência nas iniciativas de auto-regulação.

Prisa à pressa

Prisa quer entrar na Media Capital já em Outubro. Mas donde virá a pressa da Prisa? Da possibilidade de adiamento da renovação da licença? Mas a época de saldos não acabou ainda?

Dá a gente uma licença de TV para isto...

Miguel Gaspar, de pena afiada: «Anónimos, cromos e companhia».

19.9.05

Pequeno show erótico para 8 anos...

SIC adopta símbolos etários para os programas , noticia o Público: «A SIC introduz a partir de hoje um sistema de classificação etária dos programas que exibe, com quatro categorias.
A estação anunciou que passa a assinalar, com um ícone gráfico, os programas infantis, e aqueles em que se aconselha que, consoante os casos, os menores de oito anos, de 12 anos ou de 16 anos vejam apenas se acompanhados por adultos.»


Percebe-se perfeitamente. Passava das 22h30, na novela brasileira da noite, a conversa fazia-se no palheiro, em pleno show erótico, e alguém se dirigia à protagonista (Juliana Paes) dizendo-lhe 'vocé é uma vaca'... No canto superior direito a SIC assinalava «8» - para menores de 8 anos, acompanhados por adultos...

18.9.05

Da natureza da televisão

Miguel Esteves Cardoso, DN: «... estes debates mais imoderados não escondem nem a natureza humana nem a natureza da televisão. É muito provável que, depois deles, não se fique com uma única ideia acerca dos candidatos. Mas fica-se com uma excelente ideia do que é a televisão.»

'...face à miséria mediática de Cofres e derivados'...

João Lopes, no DN, sobre O Escritor Prodigioso (2005), de Joana Pontes: «(...) face à miséria mediática feita de Cofres e seus derivados (...) um genuíno objecto televisivo, empenhado em resgatar do silêncio a vida e a obra de um génio, não à procura de nostalgias mais ou menos piedosas, antes analisando o que nelas pode ajudar a compreender o nosso ser português.»

A mediatização da vida política

Disse Lipovetsky ao Figaro que 'a mediatização da vida política é inversamente proporcional à intensidade das paixões políticas'. Não estaria certamente a pensar na realidade portuguesa em particular...

17.9.05

Renovação automática das licenças de TV: a comunidade científica não terá uma palavra a dizer?

Dado que a tendência que se está a vislumbrar pode ser de facto a da renovação automática das licenças da SIC e da TVI, defendo que seja assumida pela SOPCOM - Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação - e eventualmente pelos Departamentos de Ciências da Comunicação - uma posição pública sobre esta matéria, procurando evitar que os próximos 15 anos de TV privada em Portugal reproduzam e provavelmente ampliem os atentados à dignidade humana e à Cidadania a que assistimos de há anos a esta parte.

Contra - TOTALMENTE CONTRA - a renovação automático-administrativa das licenças de TV

Felisbela Lopes escreve hoje no Público um importante texto sob o título ‘Contra a renovação administrativa das licenças de TV’. É matéria fundamental da agenda política, mas, sobretudo, é matéria de enormíssima relevância pública e cívica para a sociedade portuguesa, para Portugal.

Diz Felisbela Lopes: «É aquilo que um canal de TV (…) pode fazer com a sua programação e aquilo que um órgão regulador não faz relativamente aos excessos que se cometem que me preocupa. E é igualmente a discussão administrativa que actualmente se desenvolve à volta das licenças dos canais privados o que mais me incomoda».

De facto, é legítima a pergunta: será que de 1992/93 para cá, com a SIC e a TVI, se consolidou no audiovisual privado aquilo que a lei estipula, nomeadamente «os valores da dignidade da pessoa humana, do Estado de direito, da sociedade democrática e da coesão nacional e da promoção da língua e da cultura portuguesas, tendo em consideração as necessidades especiais de certas categorias de espectadores.» (art. 7º da lei de TV)?

Será que de 1992/93 para cá, com a SIC e a TVI, se consolidou no audiovisual privado aquilo que a lei estipula, nomeadamente em termos de «Fins dos serviços de programas generalistas» (art. 10º): «Promover o exercício do direito de informar e de ser informado, com rigor e independência, sem impedimentos nem discriminações; (…)Favorecer a criação de hábitos de convivência cívica própria de um Estado democrático e contribuir para o pluralismo político, social e cultural; (…) Promover a cultura e a língua portuguesas e os valores que exprimem a identidade nacional.»?

Será que de 1992/93 para cá, com a SIC e a TVI, se consolidou no audiovisual privado aquilo que a lei estipula, nomeadamente nos «Limites à liberdade de programação» (artº 24º): «Todos os elementos dos serviços de programas devem respeitar, no que se refere à sua apresentação e ao seu conteúdo, a dignidade da pessoa humana, os direitos fundamentais e a livre formação da personalidade das crianças e adolescentes, não devendo, em caso algum, conter pornografia em serviço de acesso não condicionado, violência gratuita ou incitar ao ódio, ao racismo e à xenofobia.»?


Será que de 1992/93 para cá, com a SIC e a TVI, se consolidou no audiovisual privado aquilo que a lei estipula, nomeadamente quanto às «Obrigações gerais dos operadores de televisão» (artº 30º): «Todos os operadores de televisão devem garantir, na sua programação, designadamente através de práticas de auto-regulação, a observância de uma ética de antena, consistente, designadamente no respeito pela dignidade da pessoa humana e pelos demais direitos fundamentais, com protecção, em especial, dos públicos mais vulneráveis, designadamente crianças e jovens.»?

Todos teremos certamente dificuldade em responder afirmativamente a qualquer um dos pontos nesta matéria.

E então o Estado vai fechar os olhos e deixar correr ‘administrativamente’ as coisas?


Será possível que se adie por mais 15 anos a oportunidade para objectivar de forma precisa a lei (através de um caderno de encargos complementar, clarificador) e pôr fim ao despudor reinante no audiovisual privado?

Será possível ?????


A propósito:

Licenças de TV no Tribunal Constitucional

Mais rigor e mais exigência na renovação das licenças de TV

Exigência ou demissão? (Licenças de TV em stress)

Degradação e farsa na TVI

A questão da reavaliação das licenças de TV em 2007

Moralizar as TV's privadas... e o Estado



'SIC presta mau serviço'

Emídio Rangel no CM sobre o Esquadrão G: «A mensagem que se pretende passar é a de que só os ‘gays’ têm bom gosto, sentido estético, normas elementares de educação, estão sintonizados com as novas correntes culturais do mundo, etc. Nada mais falso. Não é com certeza a opção sexual que ditará a arrumação destes saberes. A SIC presta um mau serviço aos seus públicos quando alimenta este programa preconceituoso.»

'Vender' notícias

Título do DN sobre o doutoramento de Nuno Brandão: Telejornais da RTP, SIC e TVI obedecem a lógica comercial

16.9.05

Licenças TV: nem concurso, nem renovação automática. Mais responsabilidade, mais dignidade, respeito pela Cidadania, que é o que falta à SIC e TVI

Se o envio do decreto-lei de 1998 para o Tribunal Constitucional servir para colocar a questão da renovação das licenças no novo regulador sectorial, de forma a que este pondere e estude um caderno de encargos complementar (e sobretudo clarificador, dado o embuste que é o cumprimento das quotas de programação) às actuais exigências da directiva comunitária (sobretudo no plano de uma maior exigência relativa aos conteúdos – inequívoca e rigorosa ética de antena, erradicação do infotainment e do tabloidismo em televisão, difusão de documentários e programas formativos para os jovens, difusão de programas relevantes para a formação da cidadania em prime time, produção de ficção de ‘stock’ e de criação sobre a realidade histórica e cultural portuguesa, programação cultural, de magazines, difusão de concertos, etc., destinada à formação do grande público, etc., etc.,), então os portugueses estarão de parabéns. Se isso não acontecer, e houver uma renovação apressada de licenças, há uma clara demissão do Estado em matéria de gestão de um bem público de enorme relevância social, política, educativa e cultural e Portugal ficará certamente mais pobre. Diria mesmo, cada vez mais depauperizado.

15.9.05

Licenças de TV no Tribunal Constitucional

Parlamento aprova novo Regulador

A proposta de lei da nova entidade reguladora do sector acaba de ser aprovada hoje no Parlamento. Será agora discutida na especialidade.

Telejornais em tese de Doutoramento

Amanhã, 16 de Setembro, 14h30, Auditório Afosno de Barros, no ISCTE, Nuno Brandão defende a tese «Os Telejornais da Televisão Generalista Portuguesa», uma contribuição mais para se perceber um pouco melhor a grande mistificação social que no dia-a-dia se constrói (no fundo, desde que existe Televisão), num écran perto de si, às 8 em ponto.

14.9.05

Se a TVI é um bastião da independência nacional, então eu quero ser espanhol

Sobre o surreal-inanimismo da estação de Queluz de Baixo: se alguém pensa em Portugal - e parece que o antigo administrador da TVI o pensava, veja-se a entrevista ao DN – que são as práticas da TVI, designadamente o sensacionalismo, o tabloidismo e os constantes ataques à dignidade humana -, que reforçam a identidade, a virtude, a dignidade e por conseguinte a independência deste país, está certamente enganado.

A independência de um país constrói-se com um sistema de media que respeite o princípio da Cidadania, que seja exigente e rigoroso, que saiba gerir uma cultura crítica e inteligente nos seus conteúdos. Por paradoxal que possa parecer – e até prova em contrário - a cultura do grupo Prisa proteger-nos-á mais rapidamente de uma invasão de nuestros hermanos do que os fogachos nacional-televisivos da estação de Queluz de Baixo.

AR discute regulação sectorial

13.9.05

Mais rigor e mais exigência na renovação das licenças de TV

Segundo a Lusa, a Alta Autoridade ouve hoje Santos Silva sobre renovação de licenças TV. Artur Portela disse à Lusa: "Vamos falar sobre os processos que abrimos para a renovação das licenças de televisão da SIC e da TVI", tendo em conta "as alegações que têm sido feitas sobre esta matéria". Sobre este ponto convém insistir na necessidade de reforçar as exigências de qualidade dos conteúdos e de responsabilidade social dos operadores privados de TV. Leia-se o post Moralizar as TV's privadas... e o Estado.

Cobertura dos fogos - o pior da TV

Na sua análise mensal, a Associação dos Telespectadores (ATV) considerou que, em Agosto, a cobertura dos incêndios, levada a cabo pelos três canais – RTP, SIC e TVI –, foi o pior da programação televisiva nacional.

12.9.05

Direito e Economia da Concorrência para Jornalistas

A 12 de Outubro a Autoridade da Concorrência realiza um “Workshop em Direito e Economia da Concorrência para Jornalistas”. Contacto: Dalila Carvalho dalila.carvalho@autoridadedaconcorrencia.pt

10.9.05

'Notícias de esquecer'

Crónica de Sábado de Helena Matos, no Público (só assinantes), onde se fala de anestésicos e hipnóticos pós-laborais: «(...) as mais eficazes 'notícias de esquecer' (...) encontram-se na chamada imprensa de referência e no horário nobre das televisões e das rádios». Uma categoria que é já um género...

9.9.05

Os 'closes' dos media

Quando a escolha do plano atinge Bush... Ler a peça do El Mundo.

'Sampaio ouviu Balsemão'

Disse o Diário Económico que o Presidente da República ouviu Francisco Pinto Balsemão, presidente do grupo Impresa, sobre a venda da Media Capital ao grupo espanhol Prisa. Não dá para acreditar... Ou o jornal está mal informado ou é legítima a pergunta: Quem irá ouvir Sampaio se Balsemão quiser vender a Impresa? - Joaquim Oliveira? Paulo Fernandes? Jacques Rodrigues? O Patriarcado de Lisboa? Paes do Amaral? Aceitam-se apostas.

Bem vindos ao serviço público!

Documentários na RTP1: espera-se que venham a ser programados em prime time e que contribuam para a diversificação qualitativa deste espaço fundamental na TV pública.

4.9.05

O fogo é a linguagem

A (re)ler, texto de José Luís Garcia, no Público de ontem - 'O fogo é a mensagem' (só assinantes): «As televisões passam e repassam as imagens dos fogos até à exaustão. Se o público dá sinais de cansaço, procuram aumentar a intensidade do drama até à próxima desgraça. Depois do caso Casa Pia, o suposto arrastão, enquanto não vem o terrível fascínio das chamas de Verão. É como alguém que para se fazer ouvir grita cada vez mais alto, até que o ruído torna tudo inaudível.»

Ainda sobre os fogos telejornalísticos, ver Pedro d'Anunciação, crítico de TV do Expresso: «(...) Na televisão portuguesa a exploração irracional de emoções, contribuindo para o clima depressivo nacional, tornou-se constante (...) no dia em que os telediários portugueses tiverem a duração normal de meia hora, também os nossos editores de televisão passarão a imbuir-se de critérios jornalísticos para a selecção de notícias». A propósito, um pequeno dossier do CM, «Noticiários em queda».

Leia-se finalmente João Lopes, no DN de hoje, 'A linguagem somos nós': «(... por vezes, parece que os jornalistas televisivos se demitiram de interrogar os seus métodos e, portanto, as suas linguagens.»


Ainda sobre o tema:

Depois de se ver o que se viu…

De drama em drama

Ainda o 'espectáculo do fogo'

Fogos brancos

Fogos e deontologia

Sistema científico deve investigar a 'TV incendiária'

O 'fado-fogo' da missa das 8

Alerta máximo

TV - o bom ‘combustível’ da ‘indústria dos incêndios’

Os Telejornais já estão a arder

Jornalismo a arder

Schmock, ou o triunfo do jornalismo

O jornal televisivo, o editor, o incendiário e o psiquiatra deles

As pechas do jornalismo

3.9.05

Inocência a nossa

Fernando Sobral, no CM: «Os programas infantis têm tudo menos inocência. É a excessiva violência como educação dispensável.»

Visto por quem sabe da poda

Emídio Rangel no CM: «O arranque dos debates sobre as eleições autárquicas, na SIC Notícias, foi infeliz. A jornalista não estava à altura e a sua imagem é que saiu prejudicada.»

1.9.05

Depois de se ver o que se viu…

‘Pequenos incendiários provocam grandes tragédias’, no Portugal Diário: «(…) Numa altura em que a mediatização dos incêndios florestais está «debaixo de fogo» por, segundo alguns, contribuir para o aumento do número de comportamentos criminosos, Pedro do Carmo refere que nenhum menor apontou a televisão como inspiradora do crime: «A Polícia Judiciária não pergunta aos menores se atearam incêndios por causa da televisão, mas não há registo de uma criança apontar a TV como fonte inspiradora», adianta este responsável.» Mas valerá mesmo a pena perguntar depois de se ver o que se viu nas TV’s?

Abertura do Jornal da Tarde: 8-minutos-8, de ‘actualidade-massacre’

Como explicar os oito minutos de abertura do Jornal da Tarde para o aniversário do massacre da Escola de Beslan, com repetição, dentro da mesma peça, de imagens de arquivo de enorme violência? Será que a actualidade trágica, que seduz em regra os editores da informação televisiva, é ainda facilmente superada pela actualidade-massacre? Não podemos esquecer que Beslan foi um caso paradigmático de difusão de imagens de terror em directo, em todas as televisões do mundo, e não deixa de espantar que o terror que foi dado em directo há um ano, sem qualquer tratamento editorial, volte agora com a mesma crueza, um ano depois, a uma abertura de telejornal, com montagem e passagem repetida, na mesma peça (!), das mesmas imagens-massacre, da terrível violência deste acontecimento.

Os dois-três minutos concedidos (às 13h36) pelo mesmo Jornal da Tarde às consequências do Katrina em New Orleans e ao drama das centenas de mortos na ponte da mesquita al-Khadim, de Bagdad, poderiam ter ajudado a ‘puxar’ Beslan para o local certo, com menos terror e menos muinutos.

Um maná de interesses

Dizem os jornais que o líder da Igreja Maná confirmou à agência Lusa que está a estudar, em parceria com a LP Brothers, a forma de adquirir uma participação na Media Capital. E que o grupo Cofina está interessado num canal generalista de TV em Portugal. Atrás da TVI andam ainda o grupo Prisa, a RTL e tutti quanti…

Dados da Tempo OMD dizem que no conjunto dos três canais generalistas haverá, a preço de tabela, uma valorização positiva, em 2005, entre 2 e 3%... Conhece-se, por outro lado, o tradicional défice do sector televisivo, desde a entrada das privadas no mercado português. O que fará então correr este maná de interesses para o frágil e débil sector televisivo português?
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