15.8.05

Alerta máximo

Liga-se a Televisão e todos os jornais televisivos dão a previsão do tempo (dir-se-ia do fogo), com o mapa de Portugal e os distritos em ‘alerta' ou 'risco máximo’ a vermelho. É o ‘grande’ trabalho jornalístico que antecipa todos os dias o que se vai passar no dia seguinte - e mais parece a ‘agenda’ do incendiário.

Nenhuma estratégia de dissuasão do crime e de pedagogia cívica, informativa, é posta em prática. Nenhuma informação prévia é dada sobre a acção no terreno no distrito em causa. Que trabalho foi feito nos meses que antecederam a época de incêndios? Qual a prevenção e vigilância que estão agora no terreno? Há vigilantes florestais suficientes no distrito, bem integrados no sistema global de defesa da floresta? As forças que combatem os fogos estão devidamente reforçadas com militares, para-militares e outros agentes, judiciária, etc. Há monitorização por satélite, através de sistemas computorizados? Como é que este sistema actua? Um pequeno foco, detectado por satélite, pode ser imediatamente atacado? Que tecnologias da comunicação e da informação estão ao serviço da floresta? Que tipo de frotas aéreas de combate aos fogos e de detecção de incendiários, etc., estão no terreno? Que ‘indústria’ está por detrás dos incêndios? Como está estruturado o cerco ao criminoso detectado? Como adequar a moldura penal à necessária dissuasão futura? Etc., etc.

Pelas TV’s tem que passar forçosamente uma pedagogia da prevenção e da vigilância, a informação regular sobre a acção de detecção do criminoso, dos seus motivos, uma estratégia de dissuasão do crime e dos incendiários que passa ainda pela identificação no terreno da autoridade do Estado, da protecção civil, não abdicando os jornalistas - que devem ter formação específica aprofundada nesta área -, naturalmente, de procurar fazer a pilotagem e a denúncia de todos os laxismos, de todos os abandonos da floresta, de todos os crimes a montante.

Esse, o ‘espectáculo’ que as televisões deveriam ter diariamente – um espectáculo dissuasor, cívico, um jornalismo cívico – ou de como as televisões devem actuar nesta matéria em particular como parte integrante da própria protecção civil. Com essas matérias, porventura, restaria muito pouco tempo para o espectáculo do fogo, ele próprio verdadeiramente incendiário.
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