30.12.04

Vem aí o Provedor da RTP1

não se sabe exactamente quando…

mas um dia virá ...

até pode ser numa manhã de nevoeiro, mas um dia virá.

vale a pena acreditar


voltar a acreditar

vale a pena ter confiança... e coragem

verdad? verdad.

a questão até nem é tão difícil assim basta copiar
o que a TVE já anunciou que vai fazer

ou o que a TV Cultura já está a fazer

e anunciar então que um dia...

vamos ter defensor do telespectador da RTP1.

mas ele que se despache,

pode já não ter

serviço público para defender.

IRREAL TV escolhe Mitch Altman, o Senhor 'Anti-Televisão', como Personalidade do Ano


para muitos ele é mesmo o ‘Salvador’

para outros é apenas o Senhor 'Anti-Televisão'

mas ele apenas nos quer alertar, entre outras coisas, para o facto das TV’s, nos espaços públicos, serem uma espécie de fumo em segunda mão

o facto é que, com ele, chega também o switch-off de toda a televisão.

da analógica

da digital

da digital terrestre

da interactiva

da HDTV,

eu sei lá que mais…

enfim, é mesmo o fim (...) da caixa idiota.

o segredo está, afinal, num simples telecomando.

não espere mais e proteja-se a si e aos seus com o ‘comando’ Mitch Altman

mais informações em
TV-B-Gone

29.12.04

França impõe MPEG 4 para a TDT paga

O governo francês escolheu a norma MPEG 4 para as redes de TV paga da televisão digital terrestre a lançar em 2005, o mesmo se aplicando à HDTV.

Desta forma será necessária uma consulta tanto à Comissão Europeia como ao CSA de modo a alterar a lei de Dezembro de 2001

Contra a opinião já manifestada pelo CSA, que considera prematuro o MPEG 4, a adopção do MPEG 4 poderá, segundo o governo, libertar frequências para os multiplex e desta forma permitir o lançamento de TV local digital, HDTV, televisão sobre terminais móveis, etc.

Prevê-se para Março de 2005 o lançamento de canais de TDT gratuitos em França, tal como
aqui foi referido em post recente.

28.12.04

televisão-drama ou o anestésico pós-laboral (III)

(conclusão)

A primeira grande conclusão que retiro desta observação de décadas de televisão generalista em Portugal é a seguinte: embora pareça uma missão impossível, importa continuar a lutar por subverter o modelo de prime time telenoveleiro e a actual ‘concursite’ da RTP1.

Tal pode fazer-se, por exemplo, através de um reposicionamento firme da estratégia do serviço público de televisão, enquanto TV de referência e em cumprimento efectivo do contrato de concessão com o Estado, procurando contribuir para a criação de um padrão de qualidade e de diversidade de géneros e programas na sua oferta de horário nobre.

Pode ser um esforço aparentemente inglório se o modo de aferição for exclusivamente a audimetria. Mas não deixará de ser um inestimável serviço aos portugueses, que a seu tempo serão inevitavelmente conquistados por programas que não são apenas anestésicos pós-laborais. Essa é a missão do serviço público. E só dessa forma se compreende que todos nós, contribuintes, paguemos a existência de uma televisão do Estado em Portugal.

Um segundo aspecto: Os ‘epifenómenos’ de cultura científica que aqui e ali – raramente – vamos encontrando nas programações televisivas são, de certa maneira, a excepção que confirma a regra.

Em termos de teledrama, onde Ciência e Conhecimento perpassam, dir-se-ia, sibilinamente, é em alguma ficção histórica e de época de produção nacional, difundidas pelo operador público, na maior parte dos casos, nestas três últimas décadas.

Ainda assim, algumas tentativas houve por parte dos privados – recorde-se ‘A Viúva do Enforcado’, da SIC, que não teve sequência dados os elevados custos destas produções. Mas é justo referir também alguns telefilmes produzidos com o apoio do ICAM, através de um protocolo existente com os operadores televisivos, onde se constata, pelo menos, uma narrativa anti-noveleira, uma narrativa digamos mais cinematográfica, que importa naturalmente reforçar e continuar a incentivar. Por algum motivo Jean-Marc Verney dizia que a Televisão era ‘pulsação’ e o Cinema era ‘pulsão’…

E se Karl Kraus dizia que o jornalismo era o serviço militar dos poetas, imaginemos o que ele poderia dizer da televisão de massa – talvez… uma qualquer comissão de serviço ‘embedded’ numa qualquer coluna militar, algures num qualquer deserto, debaixo de uma repentina tempestade de areia… cujos grãos, por fantástica obra e graça, se pixelizaram através de um tubo catódico…

Karl Kraus era exagerado, claro. Mas de um exagero quantas vezes inconfortável, quantas vezes reconfortante, ou, talvez melhor, exorcizante.

A Televisão tornou-se ao longo do século XX numa espécie de «maravilhoso» que, sob o véu da total transparência, exibe, em sessões contínuas, o mistério de ‘uma janela aberta sobre o Mundo’.

Uma janela que mais não faz, finalmente, do que nos fazer crer na ilusão das aparências, projectando no écran das nossas impressões um Mundo que ela própria constrói, um mundo que pouco tem a ver com o Mundo táctil de todos os dias, que nada tem a ver com o Mundo dos nossos sonhos, que tão pouco tem a ver, enfim, com a virtude da cidadania ou com a virtude civil, de que Pierre Bourdieu falava.

Não há dúvida, pois, que o Mundo está perigoso. Não há dúvida, pois, que a Televisão está perigosa. Resta saber, talvez pensar, quem é que abre a janela a quem.

27.12.04

por um Barómetro qualitativo na RTP1

À imagem do que acontece no serviço público francês, é extremamente importante que também em Portugal se desenvolva um Barómetro qualitativo que possa dar uma imagem mais correcta daquilo que representa para os telespectadores, em geral, a prestação do serviço público de televisão e em particular a qualidade dos próprios programas.

Em França, existe desde Janeiro de 2004 um Barómetro qualitativo de satisfação para os diferentes canais - France 2, France 3 et France 5.

Um painel de 2000 telespectadores indica todos os dias os programas que vê e ao fim de semana, através de um questionário personalizado, os franceses avaliam os programas vistos e referem o grau de satisfação.

Através deste processo é possível aproximar mais a TV pública do interesse do público, o que não quer dizer – ainda – que é um processo suficiente para a aproximar do interesse público.

26.12.04

televisão-drama ou o anestésico pós-laboral (II)

(continuação do post de 21 de Dez.)

É conhecida uma velha pecha da televisão portuguesa – pública e privada – , no domínio da produção de ficção de época e histórica.

É conhecido também que, designadamente a TVI, desde 2000 inovou na área de ficção de grande público, conseguindo um feito significativo, ao fazer da novela e da série produzida em Portugal líderes de audiência, justamente contra uma produtora mundial de referência – a Rede Globo.

É sabido, também, que em resultado da boa receptividade do público às novelas (portuguesas e brasileiras), a televisão portuguesa tem desde praticamente 1977 (vai para 3 décadas…) um prime-time que não encontra paralelo na Europa e que na sua lógica de fidelização vertical e horizontal dos públicos é semelhante ao das TV’s sul-americanas.

Por muito que a ficção possa trazer segmentos, episódios, que tenham alguma piscadela de olho à Ciência e à Vida (e algumas delas têm um apelo à vida, quanto mais não seja pelo prazer de ver e por um certo hedonismo ou mesmo erotismo que sobretudo as novelas brasileiras há muito integram), o certo é que a fidelização em si mesma dos públicos a um prime time de ‘informação-enchido’, com telejornais que chegam a ter 2 horas de duração, ensanduichados por novelas e concursos (no antes e no depois) é o primeiro impedimento ao desabrochar de uma cultura de Conhecimento nas faixas horárias de maior audiência.


Com excepção da RTP2, todos os canais generalistas estão comprometidos neste sistema perverso.

No fundo, a telenovela está para a televisão de referência, tal como a literatura de cordel está para a própria literatura…

Tão grave quanto isto, é o facto de se ter instalado ao longo destas últimas décadas, na RTP – operador que se deveria pautar por uma lógica inequívoca de serviço público –, uma cultura do mimetismo, primeiro de um modelo «para-Globo», depois do modelo comercial da TV’s privadas, não tendo ainda hoje encontrado o seu caminho inequívoco de referência e de não-mimetismo face às privadas.

24.12.04

TVE avança com Provedor

A directora-geral da TVE, Carmen Caffarel, anunciou para breve a entrada em funções do ‘Defensor del Telespectador y del Radioyente’.

Na sua esfera de acção estarão programas e publicidade discriminatória que não respeitem a dignidade ou o pluralismo ou que atentem contra os menores. E também a salvaguarda dos princípios de transparência e democracia.

«Culebrones, não, jamais, em tempo algum», terá dito Carmen Caffarel, alto e em bom castelhano, perante a Comissão de Controlo da TVE, anunciando concursos e telenovelas "de servicio público" para todos os públicos, nas tardes de TVE.

O que significa o fim das telenovelas latino-americanas no horário infantil de TVE, em consequência da aprovação do código de auto-regulação no audiovisual espanhol. E ainda o retirar de programas pouco idóneos no segmento horário das 17h00 às 20h00.

Santana quase que duplica Durão

Segundo uma notícia da Marktest.com, o Governo foi tema de mais de seis mil notícias televisivas em 2004: «De 1 de Janeiro a 19 de Dezembro de 2004, foram 6094 as peças jornalísticas tendo como tema central o Governo, que passaram nos serviços informativos regulares da RTP1, 2:, SIC e TVI.».

O Governo foi objecto de 222 horas de informação, com uma média diária de 37 minutos e 37 segundos nos jornais televisivos, notícias que tiveram uma duração média de 2 minutos e 11 segundos cada.

De referir que depois de Julho deste ano,
após a tomada de posse do Governo de Santana Lopes, a categoria governo aparece com largo destaque, quase que duplicando o tempo médio face à informação com referências ao Governo de Durão Barroso.

A questão essencial aqui não é, de facto, a soma dos tempos, mas sim uma análise do conteúdo da cada notícia. E aí julgo que uma das conclusões a retirar seria que, de facto, independentemente do maior tempo de exposição à TV, Santana Lopes foi mais penalizado que o seu antecessor, em termos de notoriedade e de referências positivas.

23.12.04

a não perder

é o comentário de hoje, no Público, ‘O Coelho e a Cartola’ de Rui Baptista, que deveria ter outro destaque nas páginas de media.

Fica aqui na íntegra:

«Para a longa galeria de imagens de 2004 vai ficar, de certeza, a do ministro Bagão Félix a exibir nas televisões uma página rasgada do "Financial Times" na conferência de imprensa em que tentou explicar ao país as razões da chamada "crise do défice".

«Minutos depois, foi a vez do primeiro-ministro mostrar aos portugueses um recorte de um jornal francês, tentando demonstrar que não estamos sozinhos nesta história de arranjar umas receitas extraordinária que permitam manter o défice público abaixo dos três por cento, como impõe o Pacto de Estabilidade e Crescimento.

«O par de governantes parecia uma dupla mal ensaiada de um espectáculo de "vaudeville", confundindo as deixas.. A pose de estadista do primeiro-ministro começou a desfazer-se quando foi interrompido (duas vezes!) por Bagão Félix, e desapareceu de vez com a trapalhada dos jornais.

«Durante mais de 15 minutos, as televisões aguentaram o directo, à espera que dali saísse algo mais do que queixas e explicações esfarrapadas. À espera, talvez, de que da tal cartola estampada no "Financial Times" tremulamente seguro por Bagão Félix saísse um coelhinho branco e fofo. Mas quando a RTP desistiu e devolveu a emissão para o estúdio, por exemplo, Santana Lopes ainda nem sequer tinha anunciado que daí a dois dias iria anunciar uma solução para o défice. Tanto falatório e tanta exibição de jornais acabou por proporcionar apenas um par de "sound bytes" e a imagem penosa de dois políticos perdidos no seu labirinto.»

A isto chama-se jornalismo/comentário atento e inteligente.

falta ainda o arquivo da emissão de ar

Há dias referíamos aqui a necessidade de convocar o melhor de nós para a questão dos arquivos do audiovisual (em defesa dos arquivos de rádio e tv)

Chegaram agora algumas boas notícias:

Foi ontem assinado o protocolo entre a RTP e a Cinemateca para que uma parte significativa do Arquivo Histórico da RTP seja depositado e tratado no Arquivo Nacional de Imagens em Movimento (ANIM) da Cinemateca Portuguesa.

Por outro lado, a ministra da Cultura anunciou que até ao final do ano será assinado um acordo entre o ministério e a Cinemateca Portuguesa para a extensão das instalações do Arquivo Nacional de Imagens em Movimento (ANIM).

Na assinatura do protocolo, o presidente da Cinemateca, João Bénard da Costa, afirmava com inteira razão: «com a assinatura deste protocolo começa para a Cinemateca, para a RTP e sobretudo para a história da arte inscrita em imagens moventes uma nova era».


O processo de transferência das 25 mil horas de conteúdos vai demorar dois ou três anos e envolverá cerca de 300 mil documentos, originais e em suporte fílmico. A operação vai custar 120 milhões de euros ao Estado.

Convém dizer que em Portugal se tem trabalhado de forma séria nesta área, sendo que ainda há um longo caminho a trilhar no sentido de se obter um arquivo condigno da emissão de ar, pelo menos dos canais generalistas.


22.12.04

da RAI ao Pacto de Estabilidade

Manuela Paixão, no DN de ontem, refere que o Presidente italiano, Carlo Ciampi, «apelou ao Governo para não destruir o serviço público de radiotelevisão e para salvaguardar a missão da RAI, não permitindo que sejam comercializados os conteúdos dos programas» (…) e defendendo que deve ser melhorada «a qualidade nos conteúdos editoriais e culturais, na informação e no estilo, seguindo as indicações da UE para as questões dos serviços públicos radiotelevisivos».

Em causa está a lei de privatização parcial da RAI , que deverá permitir a venda de 25 a 30% da estação, sendo que se prevê que 75% dos resultados serão destinados aos fundos de amortização das acções do Tesouro e 25% ao financiamento dos incentivos para a recepção do sistema digital terrestre.

Ou de como ainda poderemos ver as televisões públicas europeias a ajudarem a União Europeia e os seus Estados-membros a cumprir o Pacto de Estabilidade…

Ora aqui está uma boa razão para explicar a existência de Serviços Públicos de Televisão que nunca o foram, ou que o tendo sido, aqui e ali, acabaram por desrespeitar o que afinal deram do melhor de si.

21.12.04

televisão-drama ou o anestésico pós-laboral (I)

Sendo certo que o dispositivo da TV generalista, na sua lógica de interacção com as grandes audiências e a sua subserviência aos people-meters, não é compaginável nem com a Ciência nem com a virtude civil, importará pensar quais as modalidades e as acções que poderão contribuir para que a TV generalista seja mais um apelo à Vida e à experiência da Cidadania e menos uma concessão aos anestésicos pós-laborais.

E se aproxime mais da Ciência, da Cultura e do Conhecimento e menos dos desvarios do infotainment, da violência gratuita, do sensacionalismo e do fait-divers.

Naturalmente, em Portugal, desde meados dos anos 90, alguma coisa mudou em termos de Televisão, nomeadamente com a chegada do Cabo.


No contexto dos conteúdos televisivos, pode dizer-se que a recepção de canais como o Discovery, o Odisseia, o História e o Arte (agora infelizmente retirado do pacote básico da TV Cabo) introduziram uma mutação qualitativa muito significativa.

E pode dizer-se também que, em relação à RTP2, estão de algum modo criadas as condições para um reforço da programação científica e cultural, muito embora isso possa vir a acontecer - e nalguns casos está mesmo a acontecer - mais na área do documentário do que em matéria de ficção televisiva.

Mas voltando à televisão generalista e designadamente à questão específica da ficção e dos teledramáticos - também enquanto «janela singular sobre a Vida na Ciência» (a propósito do recente Festival Europeu de Teledrama Científico realizado no Auditório do Pavilhão do Conhecimento – Ciência Viva – no Parque das Nações em Lisboa), importa centrar a atenção sobre as práticas efectivas dos três canais de maior audiência – RTP1, SIC e TVI.

O primeiro, público. Os outros, privados. Um com obrigações de serviço público, os outros não.

(continua)

20.12.04

quando o telefone toca… na TVE

Sabe-se agora que Carmen Caffarel, ‘directora general’ da Radiotelevisión Española (RTVE), foi ao Parlamento para afiançar que os ministros do governo de Zapatero não telefonam para a redacção do Serviço Público de TV.

Apenas concedeu que são os gabinetes de imprensa dos ministérios que o fazem…

"En cuanto a la pregunta concreta de su señoría, la respuesta es también concreta: Los miembros del Gobierno no llaman a los Servicios Informativo de TVE", disse, em resposta à porta-voz do PP na Comissão de Controlo da RTVE no Congresso, Macarena Montesinos.

Tudo não deverá ter passado de uma confusão de vozes…

dúvidas inquietantes

Sobre o «Tempo televisivo das crianças portuguesas em 2004: algumas perguntas», Manuel Pinto, no webjornal de hoje, coloca algumas dúvidas inquietantes, que merecem toda a atenção:

- «como explicar uma tão significativa audiência infantil durante a manhã? Não era suposto a esmagadora maioria das crianças deste grupo de idade estar na escola?

- «que consequências decorrem da hora tardia de deitar para inúmeras crianças, bem visível na gravura junta, mesmo tendo em conta que as idades de 12 a 14 anos se não podem comparar aos quatro, cinco ou seis anos?
- «que grau de articulação existe entre os programas para a infância e os horários e interesses das crianças?- «onde está o serviço público de televisão, em particular as responsabilidades contratualizadas relativamente aos mais pequenos, tendo em conta o seu lugar na audiência? (segundo a Marktest, "por canais, as crianças vêem mais a TVI, que no período regista 3.3% de audiência média, seguida da SIC, com 2.5% e do Panda, com 1.8%".»

Estas são matérias em que os investigadores e inclusivamente o operador público, ou mesmo a AACS, devem intervir.

Um tema a seguir de perto, provavelmente já com a nova entidade reguladora.

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19.12.04

nunca é de mais falar sobre TV e Criança

Um bom trabalho no DN de hoje, assinado por Ana Pago, sobre a televisão e a criança, onde se fala de «(…) telenovelas e séries que estruturam mais a personalidade infantil que os próprios laços filiais.»

Refere-se ainda a necessidade de acompanhamento «neste processo de apreensão e explicação». «O papel dos pais e educadores é fundamental para ajudar as crianças a enquadrar o que lhes chega pela TV», refere Sara Pereira.

Uma outra investigadora, Teresa Andrade, considera que «Já são poucas as crianças que vêem os desenhos animados e programas próprios para a idade.»

No fundo, retoma-se o que McLuhan já havia referido nos anos 60 – que ao ver televisão a criança entra directamente no mundo dos adultos…

Como referi no texto A televisão, a criança, a publicidade, «A criança e a televisão encerram na sua complexa interacção o segredo do paradigma mais generalizado da televisão clássica no que concerne ao modelo de criação do vínculo e do «consenso» social imposto como norma de conduta, como referente cultural, social e comportamental».

Sobre estes temas veja-se um interessante estudo «Infancia, violencia y televisión: usos televisivos y percepción infantil de la violencia en la televisión», desenvolvido por investigadores catalães.

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alô AACS – ainda está aí alguém?...

Passou um mês desde que o primeiro-ministro explicitou mais declaradamente a sua cruzada contra aquilo que ele considera ser a ‘infiel’ comunicação social.

Reporto-me, nomeadamente, ao período pós-congresso do PSD de Barcelos.

Não me refiro a «casos» anteriores, como o de Marcelo Rebelo de Sousa (abordado neste blogue), que já teve o seu percurso na AACS - Alta Autoridade para a Comunicação Social (nomeadamente através da DELIBERAÇÃO SOBRE O PROCESSO REFERENTE ÀS RELAÇÕES
ENTRE OS PODERES POLÍTICO E ECONÓMICO E OS ÓRGÃOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
).

Ainda em Barcelos, no Congresso do PSD, em Novembro passado, o primeiro-ministro esgrimiu, com gravidade, contra ‘centrais de informação’ que controlam os ‘fóruns’ da comunicação social (TSF e SIC Notícias em causa, nomeadamente).

Depois, num jantar-comício na Póvoa do Varzim, acusa a agência Lusa de «se recusar a fazer uma notícia com declarações a defender o primeiro-ministro», dizendo: «"Nós temos os nomes das pessoas, sabemos quem foram"… O Conselho de Redacção da Lusa considerou «inadmissível» a frase proferida, referindo que «indicia uma ameaça e uma atitude persecutória que o Conselho não só rejeita como repudia».

Na Assembleia da República, no dia da votação do Orçamento de Estado, Santana Lopes referiu-se várias vezes, muito criticamente, às «centrais de intoxicação» em que se teriam tornado os media portugueses.

Na entrevista a Judite de Sousa, na RTP1, o primeiro ministro encarnou a vítima de todas as perseguições mediáticas, não deixando de invectivar a RTP por acolher nos telejornais um director de jornal que se havia oposto à nomeação do seu governo por parte do PR.

Perante este conjunto de suspeitas e de gravíssimas acusações do primeiro-ministro à comunicação social portuguesa, a AACS mantém o seu silêncio.

E de duas uma:

ou o primeiro-ministro tem razão e as denúncias e/ou suspeitas por si levantadas conduzirão à conclusão de que existe uma grave situação de pluralismo nos media portugueses, que exige a intervenção da AACS, desde logo no processo de averiguações.

ou o primeiro-ministro não tem razão e as denúncias e/ou suspeitas por si levantadas levarão eventualmente a pensar que ele já não fará eventualmente questão de intervir no sentido de dar aos portugueses e às portuguesas uma comunicação social eventualmente... verdadeiramente livre e pluralista...


E todos dormiremos mais felizes. Eventualmente...

Alô AACS – está aí alguém?...

18.12.04

canal Rangel

Numa entrevista ao Clube dos Jornalistas da RTP2, na quinta-feira passada – numa espécie de provas académicas do actual confesso guionista, tendo como júri Estrela Serrano, Mário Crespo e Ribeiro Cardoso – Emídio Rangel declarou a sua estranheza pela decisão de Durão Barroso em colocá-lo fora da RTP.

Confessou que para ele, o percurso de Morais Sarmento demonstra a vontade deste governo «em controlar as estações de televisão».

E que as conversações do ministro da Presidência com os operadores privados «conduziram a um entendimento que dava garantia de tranquilidade ao governo» (…) «o que ajuda a perceber fenómenos como o caso Marcelo Rebelo de Sousa».

Também disse que hoje, em Portugal, se revê sobretudo num projecto de Serviço Público, o que significa que a trabalhar, trabalharia de preferência na RTP.

A sua passagem na RTP fica, no entanto, marcada por uma estratégia de informação típica de um canal comercial, bem como por ter lançado programas, como o Prós e Contras, com um cariz fortemente sensacionalista (na altura, o que, felizmente, não sucede agora).

De qualquer modo, este Clube dos Jornalistas bem merecia ter passado no prime-time da RTP1.

Isso chamar-se-ia «prestar Serviço Público».

(ver post
«fidelização horizontal e vertical na grelha da RTP1»)

liberdade de expressão e conteúdos nocivos

Liberdade de expressão e conteúdos nocivos na Rede são os temas centrais do livro que acaba de ser apresentado em Viena, pela OSCE – Organização para a Segurança e Cooperação na Europa.

A obra em questão -
The Media Freedom Internet Cookbook - está disponível online.

O poeta húngaro Miklos Haraszti representante da OSCE e do programa Freedom of the Media apresentou a referida obra como «um guia para lutar contra os conteúdos nocivos, sem que isso viole a liberdade de expressão.»

Haraszti considerou ainda que uma regulação cega nesta área pode conduzir a práticas censórias, tal como no passado se verificou na imprensa e no audiovisual.

17.12.04

qualimetria vs. audimetria

Pensando sobretudo numa lógica de televisão pública, é sabido que o estudo das estratégias de programação não se pode confinar exclusivamente à audimetria. É, portanto, nas alternativas que se colocam a este método «de mercado» que se pode encontrar uma primeira pista no sentido da «qualimetria»: análise de conteúdo, estudos multivariados, análise de motivações, apreciação e atitudes, estudos qualitativos, estudos de consumo, estudos culturais, etc.

Portanto, na perspectiva do «interesse público», mais do que saber quantos telespectadores viram um programa importará saber, por exemplo, a reacção ao que viram, ou a multiplicidade de sugestões para coisas que não viram... Convém insistir neste ponto.

É fundamental, portanto, que a televisão pública possua dados sobre o agrado do público, quer em relação às grelhas de programação, quer em relação à filosofia do canal, procurando definir o modelo de programação que encontre o equilíbrio entre o agrado dos telespectadores - sem conceder ao «comercial» e à guerra de audiências - e a responsabilidade de fornecer um serviço público.

Os estudos qualitativos são aqui fundamentais. Só com essa complementaridade a TV pública pode ambicionar emancipar-se à lógica comercial da audimetria.

16.12.04

auto-regulação a quanto obrigas…

Na sequência da assinatura do código de auto-regulação em Espanha, um estudo realizado pela ATC (Asociación de Telespectadores de Cataluña) conclui que a TVE e a Antena 3 terão que retirar quase 100% da sua programação da tarde se querem cumprir de facto o dito acordo para proteger os menores… (ver post de 10.12.04 - «crianças mais protegidas na TV espanhola»)

Nomeadamente, a TVE terá que retirar da programação da tarde as telenovelas 'Te voy a enseñar a querer', 'Prisionera' y 'Esto es vida'.

É o que se chama ‘ir à lã e vir de lá tosquiado’…

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15.12.04

seguir o exemplo francês e defender o valor social e cultural da TDT

Em França, o governo francês acaba de confirmar o calendário do CSA para o lançamento de canais gratuitos de Televisão Digital Terrestre (TDT), em Mpeg 2 e não em Mpeg 4.

Será em Março de 2005 que os franceses poderão dispor de mais 14 canais de TV gratuitos (para além dos actuais 5), sem necessidade de mudar de televisor, embora necessitando de um descodificador que deverá custar cerca de 50 Euros.

Trata-se de uma importante conquista da sociedade francesa e de todos os telespectadores franceses, que assim não terão de se envolver no pagamento de «pay TV».

O princípio da TDT como «uma televisão digital para todos» parece assim salvaguardado em França.

Venceu uma lógica de cidadania.

Resta esperar que os conteúdos correspondam…

HDTV sobre ADSL

A televisão pública francesa - France Télévisions - e o fornecedor de acesso Free (1) fizeram anteontem, em Paris, uma demonstração experimental de HDTV sobre ADSL 2+ de muito alto débito.

Tratou-se, segundo os intervenientes, de uma estreia mundial. O operador público francês afirmou entretanto que o grupo France Télévisions pretende lançar em 2006 emissões em HDTV sobre
ADSL 2+, com uma qualidade de som e imagem superiores à actual norma da TV generalista.

(1) Este operador funciona no mercado francês em regime de triple play, fornecendo simultaneamente Internet de alto débito, Telefone e 100 canais digitais de TV, pelo preço de 29,99 Euros – compare-se com os preços no mercado português (!) e entenda-se o que pode originar uma mistura quase explosiva que junta a falta de concorrência, o monopólio sectorial e o abuso de posição dominante.



14.12.04

telejornal-salsicha-de-serviço-público

No documentário de Mariana Otero sobre a SIC (*), em plena reunião de redacção, José Alberto Carvalho toma a palavra para mostrar o seu direito à indignação face à prática então vigente da sua estação estender os Telejornais para além do tempo normal (30’), chegando à hora e por vezes mesmo à hora e meia e mais.

No
RELATÓRIO DO GRUPO DE TRABALHO SOBRE O SERVIÇO PÚBLICO DE TELEVISÃO, criado em Setembro de 2002, através de Despacho conjunto dos Ministros da Presidência e das Finanças, com o objectivo de apresentar a “definição de conteúdo e obrigações do novo Serviço Público de Televisão”, no ponto sobre Os Conteúdos de Serviço Público, é recomendado o seguinte:

«O Serviço Público de Televisão deve apresentar boletins informativos gerais diários (os telejornais), a horas certas, com uma duração adequada que, no principal boletim (Telejornal), deve aproximar-se dos 30 minutos sem cortes de publicidade.»

De que se está à espera para acabar com os telejornais-salsicha no Serviço Público de Televisão?

(*) SIC - Esta Televisão é a Vossa, Texto e Realização de Mariana Otero, Co-Produção: La Sept Arte, Archipel 33, SP Filmes, França, 1997.

jornalistas ou porta-vozes?

Como se sabe, o governo holandês decidiu recentemente impedir a lógica de vasos comunicantes, ou melhor, a promiscuidade entre o exercício da prática jornalística e as assessorias de comunicação – institucional, empresarial, corporativa.

Esta prática em nada dignifica o jornalismo nem as instituições que a praticam. Penso que é altura de introduzir este debate e procurar seguir o exemplo holandês assim que possível.

Temos já em Portugal milhares de licenciados em comunicação empresarial e institucional que deverão – esses sim, ser chamados ao exercício desse tipo de funções.

Enquanto continuarem a ser os jornalistas os porta-vozes das estratégias corporativas e políticas continuaremos com essa delicada pecha na sociedade portuguesa.

SÓ POR ACASO na FCSH

Quarta-feira, 15 de Dezembro, pelas 15h30, no âmbito da cadeira de História e Teoria da Televisão, passa o filme "Só Por Acaso" de Rita Nunes, no Auditório 3 da FCSH

Este telefilme teve o Prix Europa especial do Festival de Berlim 2004, na categoria de Ficção Televisiva.

« A natureza humana não é linear, e por isso as personagens passam ao longo deste filme por sentimentos contraditórios, enganos e desenganos que fazem parte da vida de toda a gente.


«Com base no pressuposto de que o mundo não é pequeno e que existem sim, uma série de coincidências, este filme é uma encruzilhada de acasos que muitas vezes se podem considerar um pouco forçados ou exagerados mas que, na realidade podiam muito bem acontecer... » Rita Nunes

A sessão contará com a presença da realizadora e dos argumentistas e haverá debate no final

A entrada é livre

Apoio: CECL – Centro de Estudo de Comunicação e Linguagens

13.12.04

fidelização horizontal e vertical na grelha da RTP1

É gritante a contínua prática na RTP1 – de segunda a sexta – de uma estratégia de fidelização horizontal e vertical na grelha de programas, que não se coaduna com o perfil traçado no Contrato de Concessão que o Estado impõe ao operador público.

Essa é claramente uma estratégia comercial e importa também aqui corrigir o que transgride face à lei.

Veja-se por exemplo a «concursite» comercial da RTP1, de que falámos no anterior post, com os Preços Certos e os Quem Quer Ser Milionário, todos os dias, antes e depois do Telejornal - que já em si é uma espécie de um Telejornal-salsicha.

Um «prime-time», que é, enfim, face ao
Contrato de Concessão, um «crime-time».

um Livro Aberto

Francisco José Viegas esteve particularmente feliz em duas das mais recentes edições do seu Livro Aberto na RTPn (Sábados 23 horas).

Primeiro com Pacheco Pereira e agora (Sábado, 11 de Dez.) com Fernando Lima, a propósito do seu livro O Meu Tempo com Cavaco Silva.

Daqui se propõe, então, que Livro Aberto seja um potencial substituto, num qualquer dia da semana, da «concursite» comercial da RTP1, com os Preço Certo e os Quem Quer Ser Milionário a descaracterizarem, de segunda a sexta, o Serviço Público que todos pagamos e a que todos temos direito.

12.12.04

o que NÃO se deveria saber sobre a comunicação social

Neste tempo em que alguns políticos têm prazeres suicidários face aos media, diria que há dois livros de cabeceira. Desde logo, para todos os iniciados nesta obscura área da comunicação social:

um, é «O Meu Tempo com Cavaco Silva» (Bertrand, 2004), de Fernando Lima, que relata fundamentalmente o que se pode saber sobre a sua assessoria a Cavaco Silva enquanto primeiro-ministro

outro é «As Presidências Abertas de Mário Soares - As estratégias e o aparelho de comunicação do Presidente da República» de Estrela Serrano (Minerva Coimbra, 2002)

qualquer deles aborda as perigosas relações entre a política e o jornalismo e acabam por ser excelentes manuais sobre dispensáveis concubinagens entre a política e a comunicação social e vice-versa

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ombudsman: cabe à RTP dar o primeiro passo

uma televisão pública brasileira – a TV Cultura – acaba de dar um grande exemplo: nomeou o seu ‘ombudsman’ – o seu provedor do telespectador, o jornalista Osvaldo Martins, de 64 anos

na peça de hoje do Público, assinada por Paulo Vasconcelos, o primeiro provedor da TV brasileira refere: "Uma emissora pública está dando o exemplo que, até por exigência da audiência, deveria ser adoptado por todas as emissoras privadas."

em Portugal, cabe à RTP dar o primeiro passo.

quando for dado, virá com muitos anos de atraso.

11.12.04

em defesa dos arquivos de Rádio e TV

Está online no site da IFTA (International Federation of Television Archives) uma petição - que todos deveremos assinar – através da qual se pretende chamar a atenção para a necessidade dos poderes públicos e das políticas públicas se concertarem, no sentido de ser dada uma resposta urgente à defesa dos arquivos audiovisuais.

Nesse sentido foi redigido o «Apelo de Paris», bastante claro em relação a esta matéria, definindo-a aliás como central e referindo que estes arquivos são de facto «uma parte essencial da memória colectiva do Século XX».

Esta petição foi lançada pela IFTA, com o apoio de outras entidades, a saber:

IASA - International Association of Sound and Audiovisual Archives
ICA - International Council on Archives
IFLA - International Federation of Library Associations and Institutions
FIAF - International Federation of Film Archives
SEAPAVAA - Southeast Asia Pacific Audiovisual Archive Association

Não se esqueçam de assinar e de dar a mais ampla divulgação a esta questão estratégica para sociedade do nosso tempo.
E sobretudo para os vindouros.

privadas espanholas querem TDT já

Responsáveis das TV’s privadas espanholas Antena 3 e Telecinco voltaram a pressionar o governo de Zapatero exigindo uma alteração da lei da TDT de 1999 no sentido da permissão do arranque a curto prazo da TDT, com plenitude de uso do espectro e da totalidade dos canais dos multiplex.

Ambos pretendem lançar canais temáticos o mais rapidamente possível, de forma a que em 2007 haja uma penetração da rede em cerca de 50% dos lares. Só assim consideram possível fechar a rede analógica em 2012, tal como prevê a lei de 1999.

10.12.04

crianças mais protegidas na TV espanhola

Acaba de ser assinado em Espanha o acordo de autoregulação que tem por objectivo moralizar as emissões de TV no day-time (ver posts de dia 3).

Assinaram, para além do governo, a TVE, Telecinco, Antena 3 e a Sogecable e foi feito um apelo para que as redes autonómicas e as TV’s locais se juntem a este compromisso.

Assim, entre as 6h00 e as 22h00, não é permitido passar conteúdos considerados para maiores de 18 anos.

De segunda a sexta haverá um horário de protecção reforçada entre as 8h00 e as 9h00 da manhã e entre as 17h00 e as 20h00 (não deverão ser emitidos programas não aconselhados a menores de 13 anos naqueles espaços).

Ao fim de semana e feriados a programação fica também com protecção reforçada entre as 9h00 e as 12h00.


À atenção da AACS…

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9.12.04

concluir a democratização do sistema de media

É tempo de concluir a democratização do sistema de media em Portugal.

É tempo de debater, em Portugal, designadamente no plano regional, a questão da televisão local e preparar a consagração na lei da possibilidade de desenvolvimento de projectos de televisão em mercados locais/regionais.

Esse debate é fundamental para a experiência e o exercício da cidadania e para a consolidação da comunicação social, nomeadamente dos media de proximidade e dos seus operadores no plano regional e local, mas, mais importante que isso, contribuirá para um ganho acrescentado e decisivo no plano do desenvolvimento social, cultural e económico do litoral e interior de Portugal.

Não se pretende, naturalmente, uma liberalização anarquizante, nem a cacofonia televisiva, mas sim a concretização constitucional de um modelo de comunicação audiovisual pleno.

As rádios locais e a imprensa regional serão certamente agentes interessados na abertura da legislação às televisões locais e regionais. Se há jornais e rádios locais, por que não, pois, um canal de televisão, eventualmente participado por esses mesmos jornais e rádios, pelos investidores locais, associações, universidades, enfim, uma televisão à escala da região, com emissores de baixa potência, para uma zona de cobertura limitada?

O que será que continua a obstar uma tal consagração legal?

8.12.04

o mistério da TV local

Diz a Lusa (07-12-2004) que uma empresa luso-americana, a Finanzza Investments, prepara o lançamento de um canal de televisão por cabo dedicado inteiramente ao Norte de Portugal. As emissões experimentais do canal vão decorrer entre 15 de Janeiro e 15 de Fevereiro e, numa primeira fase o canal só será transmitido nesta região através do operador TVTel. O responsável da Finanzza Investments, empresa sedeada em Washington (EUA) é Vítor Fernandes, empresário natural de Bragança, que detém ainda o Grupo Norte Rádio e Televisão, estrutura que gere actualmente quatro rádios locais.

Como se sabe, em Portugal, a lei não permite TV Local hertziana, o que se configura, naturalmente, como um claro impedimento da liberdade de expressão através deste meio.

Para efeitos de comparação vejam-se alguns aspectos do caso espanhol:

- Existem cerca de 900 TV’s locais em Espanha

- Existem inclusivamente várias plataformas integradas de TV’s Locais, como a Próxima TV(200 emissoras), a Localia TV (60), a Popular TV e outras.

- Recentemente o Conselho de Ministros espanhol aprovou o «Plan Técnico Nacional de la Televisión Digital Local» que estabelece 266 canais multiplex para o total dos distritos (4 canais cada de TV Digital), o que permitirá mais de mil pequenas emissoras de TV Local que poderão operar legalmente em Espanha, chegando a 87% da população.

Pode dizer-se que nesta matéria Portugal está a anos-luz de Espanha…

7.12.04

sinal de perigo

o Conselho de Redacção da Lusa considerou «inadmissível» a frase proferida pelo primeiro-ministro na sexta-feira, na Póvoa do Varzim: «"Nós temos os nomes das pessoas, sabemos quem foram". Tal frase, no contexto em que foi dita, indicia uma ameaça e uma atitude persecutória que o Conselho não só rejeita como repudia»

o CR da Lusa reagia assim às declarações de Santana Lopes num jantar-comício na Póvoa do Varzim onde o presidente do PSD acusou a agência de «se recusar a fazer uma notícia com declarações a defender o primeiro-ministro». O CR, em comunicado desmentiu, com factos e referência a textos da agência, as muito graves acusações de PSL

Ponto Media

Parabéns a António Granado pelo prémio de ouro dos Deutsche Welle International Weblog Awards 2004

O Ponto Media (www.ciberjornalismo.com/pontomedia.htm) foi considerado pelo júri o melhor blogue jornalístico em português

Net ganha tempo de consumo à TV

Marina Almeida, hoje, no DN: «A Jupiter Research analisou o impacto dos media online, comparando-os com os media tradicionais em seis países europeus: Reino Unido, Alemanha, França, Suécia, Espanha e Itália. O universo, de 3800 pessoas, permitiu aos investigadores concluir que 27% dos inquiridos reduziu o tempo de consumo dos outros media canalizando-o para a Web. Este número aumentou dez por cento nos últimos quatro anos. O autor do relatório, Olivier Beauvillian, acredita que a variação pode ascender aos 40% já nos próximos três anos.

«Detalhando os dados, é possível perceber que 27 por cento dos cibernautas daqueles seis países europeus cortaram no tempo que gastavam a ver televisão, canalizando-o para a Internet. O estudo frisa que a «troca» da TV pela Net é mais marcada no Reino Unido, Espanha e França, onde a banda larga está fortemente implantada.

Gustavo Cardoso, que coordenou em Portugal o estudo A Sociedade em Rede, mostra que, em média, os utilizadores de Internet gastam menos 40 minutos por dia a ver televisão do que os não utilizadores.


Sobre este estudo ver: www.cies.iscte.pt/linhas/linha2/sociedade_rede/index.jsp

6.12.04

central de intoxicação da central de comunicação

as televisões, quais centrais de intoxicação, veicularam o desassossego de Santana Lopes, na AR, face aos media e a virulência do líder parlamentar do PSD face à PR

umas melhor, outras pior


a RTP deu escassos segundos a Guilherme Silva uma hora depois do início do Telejornal

a TVI deu-lhe destaque de abertura

teria uma delas sido uma central de comunicação e a outra uma central de intoxicação?

seria a central de comunicação de Santana Lopes uma central de intoxicação da central de comunicação?


será a central de intoxicação uma central de comunicação da desintoxicação?

será a intoxicação a comunicação?

será a...


à atenção do marketing político

Dizem os media que mais de dois milhões de espectadores assistiram ao primeiro episódio da versão alemã do reality show «O Cisne», da cadeia norte-americana Fox.

«O Cisne» é um programa de cirurgia plástica, onde 16 mulheres jovens com problemas estéticos e de auto-estima se submetem durante três meses a várias operações e a um intenso treino físico.

«Todas as semanas duas candidatas concorrem entre si, sendo que uma delas será a vencedora. Das oito finalistas será escolhida aquela que melhor representa a humanização da fábula infantil sobre o patinho feio que se transformou num cisne.»

nunca se sabe se os marketeers da política podem pegar nisto...

contra o esquecimento

Paradoxo: uma grande notícia contra o esquecimento vem-nos do governo de George Bush

A administração americana acaba de anunciar que a iniciativa We the People e o National Digital Newspaper Program, em parceria com a Biblioteca do Congresso, vão lançar na Net mais de 30 milhões de páginas da imprensa norte-americana referente ao período 1836-1922.

É uma notícia histórica. Muito embora haja uma grande distância entre o discurso dos media e a própria História.

5.12.04

abandonadas à TV

Céu Neves, no DN de hoje, refere o estudo European Toy Survey, desenvolvido pela Duracell há cinco anos em nove países (Bélgica, França, Itália, Alemanha, Holanda, Portugal, Espanha e Suécia e Reino Unido) e conclui que são as as mais influenciadas pela TV e pelos 'shoppings': «Os pedidos de presentes são essencialmente influenciados pelos anúncios da televisão, o que se verifica sobretudo nos países do Sul, 71% das crianças desta região dizem que foram informados pela «caixa mágica», contra 55% do Norte. Em Portugal, a percentagem sobe para 74%, seguindo-se as visitas às lojas, 69%. Em contrapartida, os amigos (23%) e as revistas e catálogos (19%) têm um menor peso junto dos mais novos.»

este é o tipo de Top nada recomendável, que vem reforçar a necessidade de intervir através dos mecanismos de regulação e da envolvência dos pais

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3.12.04

a protecção das crianças e a TV em Portugal

em Portugal, a AACS aprovou uma Directiva sobre o mesmo tema do post anterior. Referindo que «Os programas televisivos "susceptíveis de influirem de modo negativo na formação da personalidade das crianças ou de adolescentes" só podem "ser transmitidos entre as 23 e as 6 horas e acompanhados da difusão permanente de um identificativo visual apropriado." (Nº2 do artigo 24º da Lei da Televisão, Lei nº 32/2003, de 22 de Agosto)», a AACS decidiu elaborar uma Directiva Genérica, na qual, refere nomeadamente que «promoções de programas susceptíveis de influir de modo negativo na formação das crianças, no sentido que decorre do nº 2 do artigo 24º da Lei da Televisão, não poderão nunca ter lugar durante os períodos programativos infanto/juvenis, independentemente da sua estrutura de imagem e som.»

recomenda-se à AACS uma adenda à directiva, seguindo o exemplo espanhol

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a protecção das crianças e a TV em Espanha

em Espanha há um acordo entre reguladores e operadores para estabelecer um "código de auto-regulação sobre conteúdos televisivos para a infância" com uma nova classificação dos programas e uma protecção reforçada dos públicos mais jovens.

Diz a peça de Nuno Ribeiro, no Público de hoje, que «de segunda a sexta-feira e aos feriados, das oito às nove e das 17 às 20 horas, e aos sábados e domingos, das nove às 12. Neste horário de protecção reforçada, não podem ser emitidos programas não aptos para crianças com idades inferiores aos 13 anos, enquanto entre as seis e as 22 horas se mantém a actual disposição europeia que proíbe a programação não recomendável a menores de 18 anos.»

«a programação passa a ser classificada por novos itens etários de público: para todos, não recomendada a menores de sete anos, de 13 anos e de 18 anos. Em cada programa, mesmo no espaço de protecção reforçada, será exibido um sistema de sinalização de programação, para orientação do telespectador e dos pais.
Por exemplo, para a faixa dos menores de 7 anos, não é recomendada "a presença, mesmo esporádica, de violência verbal ou física, tendo em consideração se os personagens ou as situações fazem parte do imaginário infantil” . Nos programas não recomendáveis a menores de 13 anos são referidos os comportamentos que "incitem à imitação de atitudes intolerantes, racistas, sexistas e violentas". Violência e sexo são outras das matérias presentes no acordo.

«Para assegurar o cumprimento deste Código de Protecção do Menor é criado um comité integrado por representantes dos operadores, produtoras e jornalistas, que apreciarão as queixas apresentadas. Por outro lado, a uma comissão mista, formada por uma representação paritária do comité e de organizações da sociedade civil, que se reúne trimestralmente, caberá a elaboração de um relatório anual, cujo conteúdo será tornado público.»


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legislou-se sobre concentração horizontal…

(ainda sobre o anterior post, clarificando o parecer da AACS de 16 de Janeiro de 2001.)

de acordo com a AACS, «o legislador define preocupações, no âmbito da concentração dos "media", que se limitam, aparentemente, ao âmbito horizontal, isto é, sector a sector. A concentração vertical, assim como a chamada concentração multimedia, envolvendo a junção empresarial de meios distintos mas todos envolvendo instrumentalizações mediáticas, incluindo as laterais ou acessórias, não mereceram normatizações específicas». De acordo com o clausulado, a AACS, consultada pelo Conselho da Concorrência sobre eventual concentração horizontal na imprensa ou na TV, deve dar «parecer prévio vinculativo, o qual deverá ser negativo quando estiver comprovadamente em causa a livre expressão e confronto das diversas correntes de opinião», sendo ainda salvaguardadas situações que configurem abuso de posição dominante nos respectivos mercados».

…mas não sobre concentração vertical

(continuação do post anterior, ainda sobre o parecer da AACS de 16 de Janeiro de 2001.)

no caso concreto (compra da Lusomundo pela PT), a AACS considera de facto haver «uma lacuna do quadro legal que se pode revelar gravosa para essa avaliação»: «É que, inexistindo no nosso direito limites especificamente aplicáveis à concentração horizontal dos órgãos de comunicação social - em especial nos sectores da imprensa e da televisão -, e sendo as concentrações vertical e multimédia, como já se referiu, desconhecidas do legislador, os parâmetros forçosamente seguidos pela Direcção-Geral do Comércio e Concorrência, no seu "julgamento", serão os genericamente estabelecidos, para qualquer sector da actividade económica, pelo D.L. nº 371/93, de 29 de Outubro.
«O que, assentando numa visão apenas geometrista do Estado, lhe não permite ter em consideração os aspectos essencialmente qualitativos do campo mediático, e muito menos a sua dimensão verdadeiramente política.
«Pode, em suma, reiterar-se aquilo que o aludido comunicado havia já evidenciado, precisamente a propósito da operação agora submetida a parecer deste Órgão: A Alta Autoridade verifica que os mecanismos legais referentes à concentração empresarial, nomeadamente os que possam determinar os seus razoáveis limites, são insuficientes para responder aos novos desafios da concentração multimédia, bem como às exigências de um Estado democrático em matéria de pluralismo e confronto de opiniões.
«A própria intervenção correctora da AACS, tal como prevista nas leis de imprensa e da televisão, encontra-se condicionada por apenas ter obrigatoriamente lugar nos casos de concentração horizontal sujeitos a pronunciamento do Conselho da Concorrência, sabendo-se que compete ao membro do Governo com a tutela sectorial decidir, casuisticamente, se deve consultar, ou não, este Órgão.
«Ou seja: a Alta Autoridade para a Comunicação Social, para exercer as suas funções de defesa de valores com consagração constitucional, encontra-se refém de iniciativas que lhe são completamente exteriores.
«E, quando lhe é dado fazê-lo, só pode emitir parecer negativo sobre as operações de concentração "quando estiver comprovadamente em causa a livre expressão e confronto das diversas correntes de opinião" (art. 4º, nº4, da Lei de Imprensa, e art.3º, nº3, da Lei da Televisão), sendo certo que o requisito assim formulado é de problemática verificação. Não só pela dificuldade da "comprovação", em si mesma, como pelo vício lógico da lei: exige-se a realização, a priori (antes de a operação produzir efeitos), de uma avaliação que só deveria ter lugar, por natureza, a posteriori (porque carecida de demonstração)»

os media não estavam lá

em Comunicado de 19 de Novembro a AACS veio esclarecer matéria em torno de «intervenções relativas à aquisição pela PT do Grupo Lusomundo»: «A Alta Autoridade para a Comunicação Social, tendo tomado conhecimento de declarações que questionam, nomeadamente, o seu posicionamento face à aquisição pela Portugal Telecom do Grupo Lusomundo e que referem alegadas omissões e silenciamentos relativos a nomeações para a RTP ao tempo dos últimos Governos do Partido Socialista, considera necessário esclarecer o seguinte: i) Os efeitos da aquisição da Lusomundo foram referidos num comunicado, de 8 de Novembro de 2000, e foram objecto de um “Parecer”, de 5 de Janeiro de 2001, solicitado pela Direcção Geral do Comércio e da Concorrência. Ambos assinalavam, em síntese, que as incidências empresariais e de mercado, no plano da salvaguarda da concorrência, se encontravam sob a alçada de outros órgãos do Estado e manifestavam preocupação pela inexistência, no ordenamento jurídico português, de normas reguladoras da concentração horizontal, vertical e multimédia, que possibilitassem a intervenção adequada deste órgão regulador. A Alta Autoridade para a Comunicação Social afirmava, ainda, a sua disponibilidade para participar na definição de um quadro legal enquadrador do espaço multimédia – quadro que continua, aliás, a não existir. »

disseram

mas os media não estavam lá

2.12.04

um princípio de Serviço Público de TV

a RTP emendou a mão e dois dias depois da decisão de Jorge Sampaio fez o seu primeiro debate sobre a situação política, no Estado da Nação, programa coordenado por José Alberto Carvalho, com os convidados habituais – representantes dos partidos da AR

e com uma vantagem a não desperdiçar: o programa foi antecipado para o horário a seguir ao Telejornal, o que é, já em si, um princípio de Serviço Público

na mesma noite, em duas situações diferentes, a SIC Notícias continuava a levar vantagem sobre a RTP1: presentes estiveram João Soares e Duarte Lima, com Mário Crespo e Mira Amaral, António Carrapatoso e Augusto Mateus, no Negócios da Semana

Serviço Público de TV em «avaliação»

completamente de acordo com Luciano Alvarez, no texto « Mais Uma Surpresa da RTP », que o Público edita hoje, 2 de Dezembro: «… mais uma vez, a RTP seguiu a lógica das audiências e não a lógica de serviço público, razão pela qual é paga por todos os portugueses. Qual debate político qual carapuça, a RTP optou por transmitir em diferido do jogo da Liga Inglesa entre o Fulham e o Chelsea. Repito: no dia em que o país ficou a saber que ia para eleições, o canal público em vez de oferecer aos portugueses um debate que lhes permitisse perceber melhor o que acontecera transmitiu em DIFERIDO o jogo da LIGA INGLESA entre o FULHAM e o CHELSEA. O debate ficou a cargo SIC Notícias, que, sendo transmitida por cabo, não chega a todos os lares.

«Para isto mais vale privatizarem a RTP. E acabar de vez com a obscenidade de os portugueses serem obrigados a pagar disparates e incompetências.»


compreendo perfeitamente

o serviço público de televisão ou luta por sê-lo, ou tem que começar a ser «avaliado»

1.12.04

o homem do outdoor

«demitido» Santana Lopes pelo PR, fica, em matéria de media, um histórico de conflitos como nunca se havia registado desde o 25 de Abril, mesmo quando, por exemplo com o governo Balsemão, eram os seus próprios media que o «avaliavam»

nesta legislatura, PSL foi assim o último homem «em avaliação», sobretudo depois de MRS, depois de Granadeiro, depois de Fernando Lima, depois de Rodrigues dos Santos, depois de…

e depois de dois momentos a todos os títulos espantosos: no Congresso do PSD em Novembro passado, PSL esgrima contra as centrais de informação que controlam os fóruns da comunicação social (TSF e SIC Notícias em causa, sem que até hoje a AACS interviesse sobre tão grave afirmação); na entrevista da passada semana a Judite de Sousa, PSL encarnou a vítima de todas as perseguições mediáticas, como que dizendo, provavelmente, que já nem os Outdoors lhe eram favoráveis...


ou seja: o homem do outdoor está de regresso, ou melhor, o homem está de regresso ao outdoor

duas AACS's

diz o Público de hoje que a Alta-Autoridade dá razão a Rodrigues dos Santos: «A Alta-Autoridade para a Comunicação Social (AACS) criticou ontem violentamente o procedimento da administração da RTP no concurso para a nomeação de um correspondente em Madrid, que levou à demissão da direcção de informação da estação pública de televisão, em termos que põem também em causa a actuação do Governo cessante no caso. A posição de Rodrigues dos Santos e restante direcção de informação é acolhida sem reservas»

para além de a AACS «acolher sem reservas a posição de Rodrigues dos Santos», no mesmo dia também é dito – agora no DN – que a AACS «aprovou ontem as nomeações de Luís Marinho e José Alberto de Carvalho para os cargos de director e director-adjunto de informação da RTP»

estarão a falar de aacs’s diferentes?

as pechas do jornalismo

no seu artigo de 29 de Novembro, intitulado ‘O Jornalismo como fonte de esperança’, o Provedor do DN, José Carlos Abrantes, cita o professor Claude-Jean Bertrand, que identificava as grandes pechas do jornalismo em três pontos: i) o lado «icebergue» do jornalismo, que apenas dá atenção a uma pequena parte da realidade, cobrindo sobretudo alguns campos, como o político e os acontecimentos espectaculares; ii) a confusão entre a informação e o entretenimento; e iii) o negativismo, que consiste em julgar desinteressantes as coisas positivas

todo um programa, no fundo, para uma nova cidadania no século XXI…

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