26.12.04

televisão-drama ou o anestésico pós-laboral (II)

(continuação do post de 21 de Dez.)

É conhecida uma velha pecha da televisão portuguesa – pública e privada – , no domínio da produção de ficção de época e histórica.

É conhecido também que, designadamente a TVI, desde 2000 inovou na área de ficção de grande público, conseguindo um feito significativo, ao fazer da novela e da série produzida em Portugal líderes de audiência, justamente contra uma produtora mundial de referência – a Rede Globo.

É sabido, também, que em resultado da boa receptividade do público às novelas (portuguesas e brasileiras), a televisão portuguesa tem desde praticamente 1977 (vai para 3 décadas…) um prime-time que não encontra paralelo na Europa e que na sua lógica de fidelização vertical e horizontal dos públicos é semelhante ao das TV’s sul-americanas.

Por muito que a ficção possa trazer segmentos, episódios, que tenham alguma piscadela de olho à Ciência e à Vida (e algumas delas têm um apelo à vida, quanto mais não seja pelo prazer de ver e por um certo hedonismo ou mesmo erotismo que sobretudo as novelas brasileiras há muito integram), o certo é que a fidelização em si mesma dos públicos a um prime time de ‘informação-enchido’, com telejornais que chegam a ter 2 horas de duração, ensanduichados por novelas e concursos (no antes e no depois) é o primeiro impedimento ao desabrochar de uma cultura de Conhecimento nas faixas horárias de maior audiência.


Com excepção da RTP2, todos os canais generalistas estão comprometidos neste sistema perverso.

No fundo, a telenovela está para a televisão de referência, tal como a literatura de cordel está para a própria literatura…

Tão grave quanto isto, é o facto de se ter instalado ao longo destas últimas décadas, na RTP – operador que se deveria pautar por uma lógica inequívoca de serviço público –, uma cultura do mimetismo, primeiro de um modelo «para-Globo», depois do modelo comercial da TV’s privadas, não tendo ainda hoje encontrado o seu caminho inequívoco de referência e de não-mimetismo face às privadas.

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