23.12.04

a não perder

é o comentário de hoje, no Público, ‘O Coelho e a Cartola’ de Rui Baptista, que deveria ter outro destaque nas páginas de media.

Fica aqui na íntegra:

«Para a longa galeria de imagens de 2004 vai ficar, de certeza, a do ministro Bagão Félix a exibir nas televisões uma página rasgada do "Financial Times" na conferência de imprensa em que tentou explicar ao país as razões da chamada "crise do défice".

«Minutos depois, foi a vez do primeiro-ministro mostrar aos portugueses um recorte de um jornal francês, tentando demonstrar que não estamos sozinhos nesta história de arranjar umas receitas extraordinária que permitam manter o défice público abaixo dos três por cento, como impõe o Pacto de Estabilidade e Crescimento.

«O par de governantes parecia uma dupla mal ensaiada de um espectáculo de "vaudeville", confundindo as deixas.. A pose de estadista do primeiro-ministro começou a desfazer-se quando foi interrompido (duas vezes!) por Bagão Félix, e desapareceu de vez com a trapalhada dos jornais.

«Durante mais de 15 minutos, as televisões aguentaram o directo, à espera que dali saísse algo mais do que queixas e explicações esfarrapadas. À espera, talvez, de que da tal cartola estampada no "Financial Times" tremulamente seguro por Bagão Félix saísse um coelhinho branco e fofo. Mas quando a RTP desistiu e devolveu a emissão para o estúdio, por exemplo, Santana Lopes ainda nem sequer tinha anunciado que daí a dois dias iria anunciar uma solução para o défice. Tanto falatório e tanta exibição de jornais acabou por proporcionar apenas um par de "sound bytes" e a imagem penosa de dois políticos perdidos no seu labirinto.»

A isto chama-se jornalismo/comentário atento e inteligente.
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