Confirmou-se a Vergonha na RTP1: Salazar venceu os 'Grandes Portugueses' (act.)
O poder do botão on /off (Conceição Branco): " (...) Para vergonha da Nação, a estação pública de televisão abriu as portas à manipulação, fez da História um produto ao nível do Big Brother e programas semelhantes, e acabou a eleger como o melhor português de todos os tempos um ditador."
El País online (26.3.07): "Los telespectadores de Portugal eligen al dictador Salazar como la figura histórica más importante del país - 160.000 personas participaron en la polémica votación popular de la Radio Televisión Portuguesa".
José Medeiros Ferreira, O ano zero do neo-salazarismo (DN, 27.3.07): "(...) Estes últimos meses assistiram a um curioso plurimovimento de culto dessa personalidade que ligou, numa linha invisível, o casticismo de Santa Comba Dão à RTP sediada em Lisboa na Avenida Marechal Gomes da Costa - este um nome bem apropriado para anunciações salazaristas, como se verifica".
Fernando Rosas, Os Grandes Portugueses (CM, 27.3.07): "Para o historiador Fernando Rosas, que se recusou a participar em qualquer evento do concurso ‘Os Grandes Portugueses’, o resultado final foi “o consumar da farsa manipulatória que se viu desde o lançamento do programa, com o esperado primeiro lugar de Salazar”. O docente universitário responsável pelo Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa considera que “ a RTP prestou um péssimo serviço à historiografia e contribuiu apenas para a mistificação e deturpação do que é a História’, o que podia ser evitado."
Comunistas e bloquistas revoltados com a RTP (DN, 27.3.07): "Reacções indignadas à esquerda, centradas na RTP. Desvalorização à direita. E o PS dividido entre os que se confessam preocupados e os que encolhem os ombros, dizendo que se tratou apenas de um concurso. Foi assim que a classe política reagiu ao facto de Oliveira Salazar ter sido eleito o "melhor português de sempre" pelos espectadores do canal público."
Emídio Rangel (24 Horas, 27.3.07): "Aquilo é uma vergonha para o serviço público. É estupidez. Nem o serviço público nem as televisões privadas se deviam sujeitar a estas burlas. Só por idiotice é que é possível escolher o melhor português assim".
Diana Andringa (24 Horas, 27.3.07): "esta eleição é 'o resultado provável do mau jornalismo feito por nós nos últimos anos, deixámos apagar a memória do fascismo. Demitimo-nos de ser os historiadores que os jornalistas também têm de ser'."
Mário Negreiros, Os grandes e os portugueses (Jornal de Negócios, 27.3.07): "O melhor disto tudo? A constatação de que há mesmo uma enorme distância entre o povo português e aquilo que a televisão apresenta como tal. Há muito que a televisão para mim não passa de um aparelho transmissor de jogos de futebol. Fora disso está desligada, caladinha, para não fazer barulho. Na última vez em que vi um telenoticiário (já lá se vão uns dois meses), a última notícia, dada em tom de "olha só que engraçado", era o nascimento, algures na América Latina, de um desgraçado de um bezerro com cinco patas e dois sexos, uma deformação horrível, um animal em sofrimento, atracção engraçada de um circo de horrores. (...)"
José Vitor Malheiros, A única eleição que Salazar ganhou (Público, 27.3.07): «Diga-se que há algo no formato do concurso que é desagradável em si e é lamentável que a estação pública de televisão tenha querido ser o seu promotor. O formato dos Grandes Portugueses e a eleição do "maior" de todos eles (com o repugnante slogan "Só há lugar para um!", à maneira da pior cultura popular americana), não se pode considerar que exalte os valores da cidadania.»
Luis Sobral, Grandes portugueses: aquilo é serviço público? (Portugal Diário, 26.3.07): "(...) os 'grandes portugueses' não foi uma oportunidade para saber mais sobre as principais figuras da nossa história. Se fosse essa a ideia, a RTP teria andado melhor se encomendasse documentários, sérios e reflectidos, e os complementasse com debates serenos e profundos.
"Aquilo, os 'grandes portugueses', foi tempo perdido. Não educou, não permitiu a reflexão. Se alguma coisa conseguiu foi dividir, criar polémica estéril, como se eleger o melhor de entre os nascidos por cá tivesse algum significado. Isso e a infeliz possibilidade de alguém, distraído, ter ficado convencido de que 'Salazar é que era'.
"Depois de ter gasto ninguém sabe quanto para nos dar futebol em doses nunca vistas, a RTP encerra o mês em que comemora 50 anos de vida a promover Salazar, a mais tenebrosa figura da história portuguesa dos últimos 100 anos. Lamentável é pagarmos para isto."
Revisão da matéria:
Salazar e a RTP: ele é concurso, ele é sondagem, só falta mesmo a História
Memória e Esquecimento (Grandes Portugueses, RTP1)
Aí está a RTP1 quase no seu esplendor...
Pensar a RTP sem "branquear" é a melhor prenda que se lhe pode dar
RTP, 50: "Não se devia comemorar"
Grandes portugueses que exercem o direito à indignação (act.)
Historiadores contra ‘Os grandes portugueses’. Mais de 90 professores e investigadores fizeram um abaixo-assinado contra o programa da RTP (MIC, 3.3.07)
Grandes Portugueses: RTP «manipulou» História. «Por meras razões de audiência», acusa Movimento de Intervenção e Cidadania (Portugal Diário, 4.3.07)
Motivos de indignação (Público P2, 02.03.2007): "Historiadores criticam o tratamento dado às figuras históricas e já lançaram abaixo-assinado contra programa da RTP."
Professores de História contra 'Grandes Portugueses' (Sol online, 28.2.07)
"Vote Salazar!" num canal público perto de si (e pago por si)
A bem da Nação, Carla Machado, Público, 20.2.07.
Soares: «Grandes Portugueses» é um disparate (Portugal Diário, 7.2.07)
Eduardo Cintra Torres, sobre os Grandes Portugueses (Público, 4.2.07): "(...) mais uma insuportável campanha de psicanálise colectiva de pacotilha"
"Só há lugar para um" outro Serviço Público (João Lopes, no DN)
SMS anónimo apela ao voto em Salazar (DN, 30.1.07)
Miguel Sousa Tavares e o concurso 'idiota'
Mário Soares: "Um concurso impossível, sem critérios e pouco inteligente, mas fez-se"
A RTP, a "ressalarização" e o 'espectáculo abominável'
Fantasmas de Salazar, madrugada dentro, na RTP1 (ou as novas formas de censura)
"Censurar" Salazar, ou promover o Ditador a "Grande Português"?
A Televisão e a Ditadura (1957-1974)
Salazar, o regime e a televisão
A Comunicação Social em Portugal no Século XX - Fragmentos para a História de um Servidor de dois Amos
Etiquetas: RTP/Salazar, Serviço Público
5 Comments:
Caro F. Rui Cádima,
Tenho estima pelo seu blogue, de outra forma não o "linkaria" no meu.
Mas que eu saiba, quem elegeu Salazar foi o povo português, numa votação auditada pela PricewaterhouseCoopers (PWC). Se acredita ter existido manipulação, branqueamento, fraude ou outros métodos pouco democráticos por parte da RTP ou da PWC, gostava muito de ver as provas que o levaram a essa conclusão.
A História não é submissível, desta forma, a concursite televisiva, muito menos num Serviço Público de Televisão digno desse nome. O branqueamento é o da História de Portugal, feito pela RTP ao longo da sua história, por defeito. Neste sentido, quem "elegeu" Salazar foi a RTP1.
É importante ter presente que num método onde a amostra é "auto-seleccionada" a validade científica é nula. Talvez por isso, a RTP tenha encomendado uma sondagem (real) em que o vencedor foi D. Afonso Henriques.
Acho que este (espantoso) resultado é mais revelador dos portugueses do que da RTP. Basta olhar para os resultados deste mesmo concurso nos outros países.
Professor, vergonha é o que sinto agora.Só demonstra que os portugueses não sabem votar e são altamente manipuláveis. ELEGER UM DITADOR UM GRANDE HOMEM? Vamos ser motivo de chacota por aí afora e por um bom tempo...
Infelizmente concretizou-se o cenário que previ, num comentário aqui neste mesmo blogue, de que Salazar (que a terra lhe seja leve como chumbo) podia ser o escolhido.
Já agora elega-se Hitler, não como melhor austríaco ou alemão, mas como melhor europeu... ou Pinochet como melhor sul-americano. E porque não George W. Bush como o melhor ser humano?
Lamentável o dinheiro que eu pago (obrigatóriamente) para o serviço público de radiodifusão. Preferia dar 10 vezes mais para terminar com a fome em África.
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