"Censurar" Salazar, ou promover o Ditador a "Grande Português"?
José Pacheco Pereira: Por que razão a democracia tem medo de Salazar? (Público online, 12.10.06, só assinantes) : "A RTP vai realizar uma espécie de concurso reality show intitulado Os Grandes Portugueses, que inclui como prato principal a escolha pelo voto dos "portugueses" da personalidade preferida de toda a nossa história. (...) na sua escolha a RTP preparou uma "lista de sugestões" que incluía nomes que só com absoluta surpresa e estupor poderiam passar por personalidades centrais da nossa história milenária (...) a lista de sugestões é muito interessante também nas suas omissões, sendo uma gritante de significado. Na versão original da lista não vem António de Oliveira Salazar, o que imediatamente suscitou protestos nessa parte muito viva e atenta da comunicação, que são os blogues. A lista foi entretanto corrigida, com a inclusão de Salazar, mas a ausência inicial só pode ter sido de natureza censória e não um lapso (...) uma lista deste tipo sem Salazar não tem pés nem cabeça. É interessante de ver que, mais de 30 anos após o fim do regime ditatorial do Estado Novo, a democracia ainda lida mal com a figura de Salazar (...) o peso de muitas instituições salazaristas continuar intacto e a reproduzir-se em muitos "costumes" democráticos [sublinhado/comentário nosso: mas não será por isso mesmo que o nome do ditador lá foi parar?] (...) há uma razão muito simples, que ninguém quer admitir, e que tem a ver com a permanência nos valores mentais, nos hábitos da nossa democracia, dos quadros do Portugal de Salazar. Valores como o "respeitinho", a hipocrisia pública, a retórica antipolítica, a tentação de considerar que o suprapartidário é bom, a obsessão pelo "consenso", o medo da controvérsia, a cunha e a clientela, mesmo a corrupção pequena, a falta de espírito crítico desde as artes e letras até à imprensa e Igreja, tudo vem do quadro do salazarismo e reprodu-lo. (...) O medo do conflito, essa tenebrosa herança de 48 anos de censura, permanece embrenhado na vida política da democracia e isso dá vida à nostalgia da pasmaceira vigiada de Salazar. Por tudo isto não espanta a censura do nome de Salazar (...) O que me interessa é recensear que atitudes, nostalgias, hábitos, costumes, práticas, que ninguém associa a Salazar, mas vêm directamente dele e do Estado Novo, continuam vivos, adoecendo a nossa democracia. Isso sim, é importante."Se ser "grande português" não se medirá à partida nem pela altura, nem pelo peso, nem pelos anos da modorra, então que fossem dados critérios, fossem traçados perfis, houvesse uma proposta de base científica, através de uma comissão interdisciplinar de intelectuais e cientistas, por exemplo. A aceitarem-se "todos os critérios", incluindo o de "ditador", "assassino", etc., faz-se, no fundo, uma espécie de plebiscito selvagem cuja regra parece estar a assentar na desinformação e na grande confusão de princípios e valores.Numa lista daquelas, e entre os vivos, como se sentirão aqueles que sujeitam o seu nome, hoje (se é que vão sujeitar), a uma disputa lado a lado com o homem que submeteu Portugal e os portugueses durante quase 50 anos, à modorra, à perseguição, ao silêncio, ao isolamento, ao definhamento, à morte? Será minimamente sensato e aceitável que na mesma lista esteja o "carrasco" (Salazar), uma das suas vítimas mortais (Delgado) e alguns dos que com risco das próprias vidas o enfrentaram para trazer Portugal de novo ao Mundo (Soares)?Ana Sá Lopes: Salazar entre os grandes (DN, 13.10.06).
5 Comments:
Se o Salazar lá está, também devia estar o Zé do Telhado...
Concordo com o comentário anterior. E, já agora, porque não Alves dos Reis? Mas, na verdade, Salazar (como diz a minha mãe:«que a terra lhe seja leve como chumbo») até pode vencer. Porque eleger um "Grande Português" pode ser uma falácia.
Não é a "democracia" (seja lá o que isso for) que tem medo de Salazar - são os defensores do actual regime. E porquê? Do que têm medo? Que os portugueses descubram a verdade? Que descubram que estão a ser enganados há mais de 30 anos?
O Francisco Rui Cádima tem aqui uma boa apresentação de "formas de censura em Portugal no pós-25 de Abril", que no fundo é apenas uma ponta do icebergue da realidade actual. No entanto está de acordo com a censura politicamente correcta da figura de Salazar desta votação. Quer dizer que quando são vocês a censurar, já é aceitável? Para mim não é.
Esse mesmo FRC ainda não percebeu que nunca na História de Portugal existiu tanta manipulação e censura da informação como nesta república do pós-25 de Abril? Que já não é feita for nenhuma "Direcção Geral dos Serviços de Censura à Imprensa" mas sim pela própria comunicação social e pelos grandes grupos e agências de informação, com resultados muito mais nocivos para a liberdade de expressão? Que é com base nesse controlo da informação que se justificam guerras, genocídios e os Crimes mais hediondos contra a Humanidade?
Quando é que pessoas inteligentes como o Francisco Rui Cádima acordam para a realidade?
Acho impressinante os argumentos de patriota. É verdade, censura, omissões, etc. existem em todos os regimes. Mas hoje em dia posso falar à vontade sem ter medo de ser preso a meio da noite. O Sr. Salazar foi um ditador (útil no início, para limpar a casa) de vistas curtas, provinciano que teve uma visão tacanha de Portugal (apesar de todas a propaganda do Império, etc.) Se hoje ainda discutimos os interesses corporativos, devemo-lo a Salazar. Se ainda hoje somos um povo timido, com medo de se afirmar, devemo-lo a Salazar.
Acho que devemos falar sem medos de Salazar, só assim será possível desmontar os mitos construídos à volta deste homem
Anonymous, acha tão impressionantes os meus argumentos que não conseguiu refutar um único. É por serem factos indesmentíveis. Pode martelar propaganda barata (sei bem que ninguém era preso por falar), mas já ninguém ouve essa cassete comunista.
Você é que fala com medo, vive complexado, tímido, com medo de se afirmar e visão tacanha. Salazar reconstruiu o país e combateu as duas grandes potências mundiais. É por isso que de cobardes como você não reza a História.
Enviar um comentário
<< Home