Das dependências de reguladores, dos mediáticos silêncios & etc.
A SIC Notícias (e depois a SIC, a Lusa, o Portugal Diário, etc.) noticiaram que "o actual presidente da Autoridade da Concorrência foi procurador privado de Manuel Pinho, quando o actual ministro era um alto dirigente do Banco Espírito Santo. À época, Manuel Sebastião integrava a equipa de «administradores que acompanhavam Vítor Constâncio no Banco de Portugal», refere a SIC Notícias.
"Manuel Sebastião entrou para a administração do Banco de Portugal com Vítor Constâncio e manteve-se na equipa do actual governador até ao último mês de Março quando foi indicado pelo mesmo Manuel Pinho (já na qualidade de ministro da Economia) para presidente da Autoridade da Concorrência, de acordo com a SIC-Notícias."
Aguarda-se agora a investigação jornalística aprofundada (se é que lá existe disso) da redacção RTP1, principal canal do serviço público de televisão. Para já, no dia em que a oposição requereu a audição, em separado, do ministro da Economia e do presidente da Autoridade da Concorrência, "considerando que faltam explicações que assegurem a 'transparência' das relações entre aquele ministério e o regulador", o Telejornal disse nada. Zero. Como já é hábito, aliás.
Para monitorizar a saúde da independência da RTP face ao governo, se é que alguma existe, é por esta porta que se deve entrar. Ver, por exemplo, como a RTP1 aborda nos seus telejornais os temas que ensombram gravemente a transparência do sistema de governo e do Estado: a começar, justamente, por um dos eixos "garantes" da experiência democrática visto nas (in)dependências dos reguladores face ao governo ou a ministros; seguindo, por exemplo, pelo abuso de poder em contratualizações sem concurso público, Liscont, NovAlcântara; mais o hiper novo-riquismo do Office Park judiciário (e os milhões que estão a ser deitados à rua) face à degradação e "catástrofe" do parque escolar público básico e secundário em Lisboa; TGV's, betão e alcatrão em fuga para a frente, face, por exemplo, ao declínio e à grave crise da Universidade pública (denunciada hoje mesmo pela Associação Europeia de Universidades); intimidação dos jornalistas e contratualização de estratégias de propaganda e de agência de comunicação corporativa e institucional sem concurso; o "governo-sombra" de ministros-comentadores, obsessivos, hiperactivos; a degradação do muito precário sistema de media com lançamento de novo canal televisivo para destruir o resto que ainda vai estando de pé; ver que jornalismo de investigação se está efectivamente a fazer nos media públicos; ver e aprofundar que sistema jurídico e de controlo e monitorização da corrupção existe; os autismos múltiplos face às reivindicações da larga maioria dos professores do secundário; ver como e quando o sistema de media do Estado dá voz ao pensamento português contemporâneo, às vozes dissonantes do establishment, aos intelectuais independentes, etc., etc., etc... Mas entrar por aqui parece não interessar muito nem aos media públicos nem aos supervisores... Melhor, antes, um bom estudo inconsequente sobre os tempos da oposição e do governo na querida RTP...
Manuel Maria Carrilho escrevia há dias (SUBIR, PUXANDO PELOS CABELOS?, DN, 1.11.08), que "o que falta fazer é gigantesco". E é, sem dúvida, mas seguramente ao lado daquilo que os media públicos estão a ajudar a vender. "A começar pelo que nunca houve: uma estratégia global que articule as apostas nos três vectores nucleares da qualificação, o território, as instituições e as pessoas. E que, na qualificação das pessoas, dê meios, coerência e ambição às suas cinco dimensões essenciais: a educação básica e secundária, a cultura, as universidades e a investigação, a formação (técnica, profissional, artística) e a comunicação." Assim mesmo. Agora, descubram as diferenças...
Etiquetas: Controlo dos Media, Regulação, Serviço Público
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