14.10.04

A informação televisiva, a opinião e o pluralismo – o caso MRS

O fim da coluna de opinião de MRS na TVI, ainda não cabalmente esclarecido, levanta um conjunto de questões, muitas delas não devidamente tratadas, apesar dos rios de tinta entretanto derramados nos media.

Para já, sabe-se que o ministro dos Assuntos Parlamentares teceu considerações inadequadas sobre o conteúdo da ‘coluna de opinião’ de MRS (o que não se ajusta claramente ao cargo que ocupa) não tendo assim evitado as acusações de ‘censor’ do camarada de partido, entretanto surgidas.

Sabe-se que MRS, num primeiro momento, se preparava para responder ao ministro nessa mesma ‘coluna’, mas que, entretanto, e após uma conversa com o presidente da TVI, decidia abandonar essa colaboração.

Conhecem-se as consequências: os líderes de opinião, alguns políticos sociais-democratas, as oposições, o cidadão comum, todos, de uma forma geral, vieram a terreiro, dizendo de alguma forma: ‘aqui-d’el rei, que a liberdade não está a passar por aqui’...

E não estava, claramente.

Importará talvez questionarmo-nos de forma um pouco mais profunda sobre o tema, no sentido de se salvaguardar que o caso MRS e todo o ruído à sua volta não pode acabar por esconder, ou iludir mesmo, a grande ferida que os media têm em permanência aberta.

Ou, dito de outro modo, e citando Lyotard, importa sobretudo questionarmo-nos sobre algo mais complexo, algo que está contido no seu aforismo que alerta para o facto de a transparência dos media ser, hoje, o novo cárcere.

Esta será a discussão que porventura os media não poderão ter, não poderão fazer.


E este é, sim, um motivo maior de preocupação.

Sem este debate ser feito, liberdade e cidadania não deixarão porventura de ser palavras vãs.
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