27.11.08

Débil democracia, medo, media: hard times

A edição 2006 do Inquérito Social Europeu coloca os portugueses entre os mais descontentes com a qualidade da democracia e desinteressados da política (Expresso, 27/11), notícia que no serviço público, inclusive na RTP/2, apareceu associada ao "bem estar" dos portugueses... Pois, pois...

Algumas leituras, a propósito:

Vasco Pulido Valente, "Sinais do tempo" (Público, 23/11/08): «Uma pessoa abre o jornal, ou liga a televisão e revê, pasmado, a velha propaganda antidemocrática de 1930. Umas vezes subtil; outras vezes, muito taxativa e franca. Umas vezes melancólica, outras vezes, quase triunfante. A miséria geral e perspectiva de uma miséria maior, a fraqueza do regime e uma irritação crescente anunciam o caos (...)».

José Pacheco Pereira, "Tempos sombrios" (Público, 22/11/2008): «Não, não são tempos fáceis estes em que o espaço público se encolhe e por isso fica mais miasmático, menos saudável, mais claustrofóbico, mais conflituoso nas minudências e menos atento às grandes questões vistas com impotência, menos sensível aos valores da liberdade e do espírito crítico. São bons tempos para os governos autoritários e para o populismo e maus para a liberdade, a independência e autonomia do espírito.»

Fernando Dacosta, "Há medo, muito medo no meu país" (Jornal de Notícias, 21/11/08): «A maior parte dos nossos políticos, jovens, dinâmicos e pós-modernos ainda não repararam que estão todos no século XIX e não no XXI. Enquanto isto, o grosso das pessoas recusa pensar, sonhar e agarrasse à sua existência como se não houvesse vida paralela. Há medo, nunca vi tanto medo no meu país.»

Vasco Graça Moura: "A torpe ditadura da maioria" (DN, 19/11/2008): «Este Governo é de uma insensibilidade total aos problemas dos portugueses. Quer concentrar o poder e perpetuá-lo nas suas mãos. Não recua perante nada para atingir esses objectivos. Vivemos numa torpe ditadura da maioria. Mas ela começa a meter água por todos os lados.»

José Gil, "A domesticação da sociedade" (Visão, 2/10/2008): «(…) Um só mecanismo que o Governo utiliza: a ausência total de resposta a todo o tipo de protesto. Cem mil pessoas na rua? Que se manifestem, têm todo o direito - quanto a nós, continuaremos a enviar-lhes directivas, portarias, regulamentos a cumprir sob pena de... (existe a lei). Ausentando-se da contenda, tornando-se ausente, o poder torna a realidade ausente e pendura o adversário num limbo irreal. Deixando intactos os meios da contestação mas fazendo desaparecer o seu alvo, desinscreve-os do real. É urna técnica de não-inscrição. Ao separar os meios do alvo, faz-se do protesto uma brincadeira de crianças, uma não-acção (…). No processo de domesticação da sociedade, a teimosia do primeiro-ministro e da sua ministra da Educação representam muito mais do que simples traços psicológicos. São técnicas terríveis de dominação, de castração e de esmagamento, e de fabricação de subjectividades obedientes. Conviria chamar a este mecanismo tão eficaz, «a desactivação da acção». E a não-inscrição elevada ao estatuto sofisticado de uma técnica política, à maneira de certos processos psicóticos».

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