8.3.07

Apesar de tudo, merecia melhor prenda

Jorge Mourinha escreve hoje no Público (P2) sobre o "objecto comemorativo" O Primeiro Olhar (RTP-1, terça 6, 23h00), dizendo que " desperdiçou um trabalho extraordinário de pesquisa e montagem de imagens no que pouco mais foi do que uma auto-promoção alargada. Em vez da hora convencional e certinha que eu (talvez ingenuamente) esperava, sai-me um rebuscado objecto multimedia, afogado em pretensiosas metáforas poéticas. O impacto visual da montagem era de tal ordem que dispensava por completo o infeliz texto acompanhante, responsável pela redução do programa a um audiovisual empresarial desequilibrado, indeciso entre celebrar o aniversário da RTP e reduzir a uma hora 50 anos da história do mundo. Não era isto o que eu esperava do anunciado 'documentário sobre a história da RTP'. E acho, sinceramente, que a aniversariante merecia melhor 'prenda'."

Foi um pouco isso que se repetiu no dia de ontem, com as diferentes emissões ao longo do dia. Diria que a festa esteve à altura da própria história da RTP. Não soube distanciar-se do discurso laudatório, comezinho, de uma auto-celebração sem espírito inovador, sem ruptura, sem crítica e sem rasgo. É evidente que há emoções no ar quando se revêem as velhas figuras mais populares, os festivais da canção, os jingles e as músicas da pub, etc. Mas ficar só por aí, sejamos realistas, é pouco. E aqui também acho que a RTP, apesar de tudo, merecia melhor prenda.

Ficaram alguns (poucos) apontamentos certeiros ditos por Carlos Pinto Coelho (mais serviço público na RTP1), Fernando Tordo (mais música portuguesa), a 'charge' do Gato Fedorento sobre o telefone vermelho ligado a S. Bento (depois de proibidos pela RTP de o fazer no estúdio do Telejornal), ficaram, enfim, as palavras do PR: "especiais exigências de rigor, de imparcialidade e de qualidade da programação".

Exigências que vão directas para a RTP1 e para a necessidade de reconversão da sua grelha numa oferta diversificada no prime time, com inequívoca prestação de serviço público ao país: na cultura, nas artes, nos espectáculos, na economia, na educação, na saúde, no ambiente, no entretenimento de qualidade, na música portuguesa, na ficção portuguesa, no documentário, no debate público a horas decentes, no comentário plural, etc., etc.

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