7.11.05

O que escreveria Roland Barthes, hoje, nas novas barricadas de Paris?

O El Mundo dava, a 4.11, notícia dos incêndios de Paris e arredores (titulada NO QUIEREN ECHAR MÁS LEÑA AL FUEGO) através de um despacho da AFP:

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"El problema es saber cuántos minutos de imágenes podemos emitir para no ser instrumentalizados", señaló en declaraciones a France Presse Paul Nahon, director general adjunto de la cadena de televisión pública France 3, quien estaba a cargo de la información. "Mostramos lo mínimo indispensable. Mostramos unas imágenes solamente cuando se registran importantes cambios en la evolución de los acontecimientos, como el pasado jueves por la noche, cuando no hubo enfrentamientos, pero se causaron daños muy graves", añadió Nahon.

“Robert Namias, director de información de TF1, la primera cadena televisiva privada del país, expresó el mismo deseo de encontrar la justa medida, explicando la necesidad de tener mucho cuidado para no enardecer "unas situaciones que ya conllevan muchas dificultades y peligrosidad".

"Para Arlette Chabot, directora de información de la cadena pública France 2, es preciso ‘no pisar demasiado el acelerador para no publicitar acciones que son evidentemente condenables’ ".

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Maio de 1968, Paris. Escreve Roland Barthes («L' écriture de l'événement», Communications, nº 12, Paris, EHESS, 1968): “«Ia parole devient l'événement même» (…) «La parole informative (du reporter) a été si étroitement mêlée à l'événement, à l'opacité même de son présent (il suffit de songer à certaines nuits de barricades), qu'elle était son sens immédiat et consubstantiel, sa façon d'accéder à un intelligible instantané; cela veut dire que, dans les termes de Ia culture occidentale, où rien ne peut être perçu privé de sens, elle était l'événement même.»

Paris, 2005 (AFP, via El Mundo) : «Los mismos periodistas que están cubriendo los acontecimientos están siendo víctimas de la violencia de los manifestantes de las zonas periféricas más pobres, donde viven importantes comunidades de origen inmigrante que se sienten excluidas por la sociedad gala».

O que escreveria Roland Barthes, hoje?

O mais certo era estar do lado de lá, em Seine-Saint Denis, explicando a um qualquer canal de televisão que de 1968 para cá, nestes quase 40 anos passados, a Televisão não tinha ainda aprendido a escolher os enquadramentos apropriados nas suas reportagens… Não tinha sequer aprendido a fazer as perguntas certas… Não tinha, enfim, descoberto a Cidadania. E isto porque existe uma espécie de censura que leva a não ser reconhecido que as novas e velhas representações mediáticas do acontecimento e do quotidiano, não fazem mais do que fantasmar e dissimular o real latente, os diferendos e a virtude civil, em troca por um real manifesto e pelas manifestações de superfície de uma realidade construída a soldo do 'people-meter'.

Recorde-se, a propósito, a peça do Jornal da Tarde da RTP1, dia 30.9.05, vista aqui no Irreal TV no post «Jornalismo (e autarquias) do Fim do Mundo»: «Ontem, o Jornal da Tarde da RTP abria com mais uma tragédia (no Bairro do Fim do Mundo) - aparato policial no local, uma barraca ardida, uma família de emigrantes atingida, crianças entre as vítimas, etc. Pergunta do jornalista para a câmara, em directo: «Como é que é possível que em Cascais exista um bairro destes?» ??????

«Pois, exactamente, essa é a pergunta que nós, telespectadores, fazemos, para que os jornalistas nos consigam dar resposta...»

Mas, afinal, onde está (onde esteve) a resposta do jornalismo? Ailleurs, ailleurs..
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