9.6.08

Negar o negro

Jornalismo de ficção e democracia racial: mentiras da Globo (Vermelho online, 12/5): «Um pesadelo aterroriza a alta cúpula da "Fábrica de Sonhos". Se aprovado o Estatuto da Igualdade Racial, todas as empresas de comunicação - inclusive as Organizações Globo - serão obrigadas a abrir 20% de seus postos de trabalho aos afrodescendentes. É possível que as telenovelas não comportem tamanha oferta de mão-de-obra. Afinal, não há tantos banheiros a serem lavados nem tanta grama a ser aparada no setor de figuração.

(…)

«A prepotência das Organizações Globo atingiu um nível tão "elevado" que o ilusionista e chefe de jornalismo Ali Kamel tenta, por meio de um trabalho especulatório, refutar o que o cineasta Joel Zito Araújo prova cientificamente. O primeiro lançou uma coletânea de artigos publicados no jornal O Globo na qual ataca e tenta desqualificar toda tentativa de se promover a inclusão social de negros por meio da ação afirmativa. Ironicamente, Não Somos Racistas é o título do livro.

«De maneira desavergonhada, a personagem Gislaine, da telenovela Duas Caras (exibida depois do Jornal Nacional), apareceu mais de uma vez lendo esse mesmo livro. Gislaine, interpretada pela atriz Juliana Alves, é vista como uma jovem politicamente engajada e contrária a qualquer forma de preconceito. Definitivamente, não sabemos onde termina o Jornal Nacional e onde começa a "novela das oito". É uma fronteira tênue que só pode ser percebida graças aos "reclames do plim-plim".

«No campo da Ciência, Joel Zito Araújo - em sua pesquisa de doutorado em Ciências da Comunicação que virou livro - prova (usando estatísticas e fatos concretos) que os negros têm sido ignorados na televisão brasileira ou são retratados de maneira estereotipada. A Negação do Brasil - O Negro na Telenovela Brasileira mostra que, num período de duas décadas, apenas 29 das 98 tramas exibidas possuíam personagens negros.

«Zito dá destaque a uma das maiores violências morais já sofridas pela população afrodescendente do país. No ano de 1969, a Rede Globo exibiu a telenovela A Cabana do Pai Tomás. O protagonista era um negro interpretado por Sérgio Cardoso, branco de nascimento. Para viver o personagem, o ator e também roteirista (que na época era considerado um dos maiores galãs da telinha) teve seu corpo pintado de tinta preta e usou rolhas para alargar o nariz e o beiço.»

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