7.6.09

"O que se ataca, quando se ataca Manuela Moura Guedes?"

O que se ataca, quando se ataca Manuela Moura Guedes? (Luís Carmelo, Expresso online, 7/6): «Manuela Moura Guedes tornou-se, em Portugal, num alvo a abater. Poucos outros casos encarnariam melhor a metáfora futebolística e grotesca do "tiro ao boneco". Sei que é fácil, numa comunidade de pouca escala ('conhecemo-nos todos...'), mitificar as figuras públicas de modo binário, sumário e cruel. Raras vezes, a imagem hipócrita dos brandos costumes tem sido tão arrasada. Nestas condenações públicas e abrangentes, o que está em causa não é tanto a figura que suscita o 'ódio', mas qualquer outra ferida maior, de que ela - neste caso Manuela Moura Guedes - se terá tornado moeda de troca. Creio que é isso que está a acontecer. Caberá aos psicanalistas da 'coisa pública' entender a patologia. Ao cronista, restará uma analogia e uma breve conclusão, pois não pode correr o risco de influenciar os portugueses em dia de voto e reflexão. E, já agora, de muita abstenção.

«(...) Ao abordar, numa entrevista ao jornal "i" (do último sábado de Maio) o vórtice polémico em que se tem visto envolvida, devido ao telejornal das sextas-feiras na TVI, a jornalista confessou: "Não ando aqui num campeonato de simpatia". Por trás do estilo, dos modos e das disputas de isenção, Manuela Moura Guedes alegaria ainda um princípio essencial: os jornalistas não podem apenas "ser um eco", mas sim o "descodificador".

«Talvez seja a falsa mansidão e a simulação generalizada do discurso político (um 'diz que sim' que vale por um 'diz que não') que mais irrita, hoje em dia, o grande público. E o que é opaco na relação entre nomes quase enigmáticos - como Casa Pia, BPN, Freeport, BCP, Eurojust - é o que melhor caracteriza a mornidão e a correcção instaladas. A falta de clareza, o sorriso mole e o estado geral de apatia em que se encontra o país (não apenas a que se traduz através do voto) são uma face deste abismo. A outra face é o alvo fácil. A palavra rápida. A chama acusadora e recôndita que herdamos da inquisição. Goste-se ou não, Manuela Moura Guedes está lá, atrás do balcão da feira, a levar uns tirinhos. Há foguetes, há circo, há palhaços e há sobretudo uma fila enorme de carabina na mão. Em nome da empatia. E da simpatia. Claro está.»

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