4.5.07

O acessório e o essencial

Outra vez a "sargeta", ou esquecer o essencial (a independência dos media) para discutir o acessório. Vasco Pulido Valente volta ao "Jornalismo de sarjeta", no Público de 04.05.2007: «Para justificar a "Entidade" e os poderes da "Comissão de Carteira", o ministro Santos Silva andou por aí a bramir contra o que ele chama "jornalismo da sarjeta". "Jornalismo de sarjeta" é a tradução literal da expressão inglesa gutter press, o que estaria muito bem se em Portugal existisse ou, pelo menos, tivesse existido, uma verdadeira gutter press. Mas nunca existiu. Segundo o dicionário, o que define a gutter press é a sua extrema vulgaridade e baixeza. Por outras palavras, o interesse pelo crime (quanto mais sórdido melhor), pela vida íntima das celebridades (mesmo de ocasião) e por qualquer escândalo que meta sexo e dinheiro, de preferência com algum horror à mistura. Manifestamente, o ministro Santos Silva não conhece a gutter press inglesa ou americana (que, de resto, em geral não se distingue por ser difamatória) e fala em "jornalismo de sarjeta" para agredir e promover o descrédito do jornalismo de que ele não gosta.

«Há duas faces nesta questão do "jornalismo de sarjeta". A primeira é a de saber se o Estado o deve reprimir ou permitir, porque a repressão do "jornalismo de sarjeta" quase sempre degenera em repressão do jornalismo tout court. Em Inglaterra e na América, o Estado e o poder judicial toleram a "sarjeta" em nome da liberdade. Os países de tradição autoritária fazem o contrário e acabam invariavelmente por limitar a liberdade: o ministro Santos Silva pertence a esta escola.»

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