5.3.07

Segunda-feira 'rosa' na RTP1

A passada segunda-feira, 26 de Fevereiro, segundo Eduardo Cintra Torres, só deu "rosa" ("Sessões de esclarecimento", Público, 3.3.07, só assinantes)

"O governo enfrentava duas situações desagradáveis. Anunciou nesse dia umas estatísticas dos tribunais, que logo foram desmentidas tecnicamente pelas estruturas do mundo judicial e politicamente pelo PSD. Como tratou o Telejornal do assunto? Deu a posição do governo em 2m28, depois as posições contrárias em 3m14. Tudo bem... mas dar os dois lados da questão era mau para o governo. E, assim, para desempatar, voltou o ministro da Justiça ao Telejornal, desta vez em directo e em estúdio durante 6m33, esperando dessa forma desmentir os desmentidos dos juizes, funcionários, advogados e oposição. Nesta intervenção cirúrgica, o governo ficou a ganhar com o triplo do tempo e a última palavra.

"Mas por vezes a democracia complica a vida dos que a querem moldar com a sua propaganda. Em estúdio, estava de serviço José Rodrigues dos Santos, cuja independência está acima de qualquer suspeita, e o ministro Alberto Costa teve de enfrentar perguntas como deve ser. A sessão não resultou como o governo queria.

"Logo a seguir, às nove em ponto, veio o programa Notas Soltas, o mais aviltante programa de propaganda governamental pós-moderna da actualidade. António Vitorino, o nº 2 do partido do governo, respondeu durante 17m16s às perguntas sobre os temas que combinou previamente com a jornalista. Este programa é uma espécie de Acção Socialista em versão dialogada. Através dele, o governo dá instruções ideológicas aos seus militantes pelo país fora -- pagas pelos contribuintes e consumidores de electricidade. Como sempre, Vitorino largou algumas opiniões genuinamente individuais, mas largou também algumas posições acabadinhas de sair de São Bento ou do Largo do Rato. E nós a pagarmos.

"A noite ainda era uma criança, porém. Menos de duas horas depois, o Prós & Contras cumpria uma vez mais a sua missão cirúrgica: dar horas a fio a um ministro aflito de explicar medidas. Neste caso, Correia de Campos, quase vítima duma Maria da Fonte, dispôs de muitos de 189 minutos favoráveis à sua política.

"Vital Moreira, insuspeito de praticar a ironia, escreveu no blogue Causa Nossa que neste Prós & Contras "Correia de Campos beneficiou da melhor sessão de esclarecimento que poderia ter". Eu não saberia definir melhor o programa. Na verdade, houve três "sessões de esclarecimento" na RTP1 na mesma noite: uma para Alberto Costa, outra para António Vitorino e a apoteose para Correia de Campos. Será que nas longas comemorações e programas sobre os seus 50 anos a RTP celebrará também a sua subserviência histórica ao poder político?"

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