15.9.09

O gato, o diácono e o animal feroz

Quando a política e os partidos se demitiram do seu papel de oposição, era por vezes no Gato Fedorento (GF) e no Contra Informação que o telespectador encontrava as vozes críticas, mais ou menos ácidas, mais ou menos satíricas, que pretendia ouvir.

O GF foi, por isso, um marco nesta legislatura, por vezes foi mesmo a verdadeira “oposição”. Lembrem-se as “charges” sobre o Aeroporto na Ota, sobre a licenciatura do PM, as relações com o PR, a visita de Chávez, o Magalhães, etc.

Em todos esses sketches Ricardo Araújo Pereira (RAP) foi uma espécie de duplo de Sócrates no GF. Ele reencarnou Sócrates, dissecou-lhe o corpo político-televisivo, digamos que lhe esmiuçou o “homo loquens”, isto é, o actor comunicante enfatuado e arrogante que Sócrates indelevelmente carrega.

Ora o reencontro entre Sócrates e RAP mais pareceu, de facto, um acto de contrição do actor político em relação ao seu caricaturista (com a contrária também a verificar-se), mas foi um pouco também um parêntesis no humor e na caricatura mais ácidos, para salvar, ou humanizar, talvez mesmo redimir, quer o ser, quer a aparência, do animal político feroz, que vinha bem instruído para a sua actual versão doce e soft. Evidentemente que esta humanização do político não se faz sem custos, sobretudo para o humor.

Claro que neste actos de contrição, RAP encarna não o duplo de Sócrates, mas, aliás como já havia dito, o Diácono Remédios.

Teria sido interessante, por exemplo, ver o PM a comentar a charge do GF (da última série – Zé Carlos) sobre o seu encontro em Lisboa com Hugo Chávez, sobretudo aquela passagem em que Sócrates (RAP) se vira para Chávez (Zé Diogo) e diz-lhe que aqui na Europa não se chama nomes aos jornalistas, aqui adopta-se um sistema mais simples: despedem-se, simplesmente…

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