3.3.08

M. M. Carrilho escreve sobre a reforma que se aguarda na TV pública

Manuel Maria Carrilho - A VER TV (DN, 3.3.08): «O que "passa" na TV é o principal tema de conversa das pessoas: seja sobre os seus problemas ou expectativas, seja sobre o seu mundo ou bairro, seja sobre desporto, política ou mundaneidades. A televisão, é na sociedade atomizada e fragmentada de hoje, o principal meio de ligação social, federador dos cidadãos e constitutivo do espaço público, permitindo-nos interagir e comunicar uns com os outros.

«Convém lembrar isto na semana em que se falou tanto de financiamento da televisão, e se iniciou o processo de passagem para a televisão do futuro, a televisão digital terrestre, que vai trazer mais um canal generalista, alterar o panorama da televisão por cabo e multiplicar os usos que se podem fazer de um aparelho de TV.

«Apesar de crescentemente desafiada por novas tecnologias e pela Internet, a televisão continua a dominar: os portugueses consomem entre três e quatro horas diárias de TV, média que varia conforme as idades e os estratos sociais. Os canais privados, que representaram um desafio competitivo quando apareceram, já mostraram do que são capazes, mas também os seus limites. Vivendo fundamentalmente das receitas da publicidade, eles encontram-se na estrita dependência das lógicas de mercado, o que os leva a fazer das audiências o parâmetro central das suas opções.

«Mas o modo como se pensa a televisão revela bem a concepção que se tem da sociedade. Por isso, quem pense que os cidadãos têm direitos (no domínio da informação, do entretenimento e da formação) que a oferta de mercado não garante, não pode deixar de reconhecer a necessidade de financiamento público neste sector. E também não pode deixar de exigir uma programação bem diferenciada, com missões específicas: impulsionar o pluralismo e a diversidade, alavancar a criação e aumentar a produção nacional de conteúdos (filmes, séries, documentários, reportagens), tudo isto com uma incontornável exigência de qualidade.

«É este o salto que agora se impõe, conjugando estes objectivos numa reforma que conduza a uma maior diferenciação qualitativa da RTP 1, a uma maior identidade do Canal 2, à inadiável transformação da RTP Internacional, e à reestruturação da RTP África e do canal "memória". É a reforma que se aguarda.»

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