8.2.08

"O inútil quarto poder" segundo Manuel António Pina

Subscrevendo por baixo: «Às vezes sou levado a pensar que a liberdade de imprensa e, em geral, a liberdade de expressão são uma espécie de "fast food" do regime democrático, engordam mas pouco alimentam, tantas notícias chocantes saem todos os dias nos jornais e não têm consequência alguma. Indignam durante um dia e são rapidamente substituídas por outras no dia seguinte; e estas por outras, e por outras, como Sísifo carregando a mesma inútil pedra. O famoso quarto poder é, como o chamou Mário Mesquita, um quarto equívoco. O poder do jornalismo é a face visível do poder das fontes, isto é, do poder político e do poder económico (mais o dos dispersos poderes fácticos que se desenvolvem nos seus interstícios). Por isso, há zonas do funcionamento do regime democrático onde o jornalismo não mete o nariz a não ser que sejam palco de conflitos de interesses onde possa ser usado como arma de arremesso. O barulho à volta do BCP e o persistente silêncio em torno da "Operação Furacão" são bons exemplos disso. O resto, mesmo a desgraça, é entretenimento. A caixa televisiva mudou o Mundo justamente pela sua capacidade de transformar em entretenimento tudo o que toca, jornalismo incluído. Somos "entretainers", contadores de histórias verdadeiras. Mas a verdade já não tem poder nenhum.» (Manuel António Pina, JN, 11.1.08)

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