21.11.07

Pensar a Televisão (e as suas alternativas)

Hoje comemora-se o dia mundial da televisão. Boa altura para algumas breves ruminações...

No seu último livro, “O Ataque à Razão”, Al Gore defende uma nova “meritocracia das ideias” fundada em redes de sociabilidade e de debate, na crítica da informação mediática e instrumental e na revitalização do sistema político por acção das múltiplas comunidades da rede, da interacção e da cidadania.

Tal como para Karl Popper, também para Gore a democracia (americana, neste caso) corre perigo. Os media clássicos, sobretudo a televisão, têm aqui – neste regime da indiferença e do “incaracterístico” – um papel determinante. Porque a televisão americana e o ‘infotainment’, para Gore, têm impedido o debate político no espaço público norte-americano. Para além disso, não tem sido mais do que um obstáculo à própria expressão da experiência social e à voz da cidadania. Solução? Para Gore, “Regime change begins at home”, sobretudo através da Net e da sociedade em rede...

Numa outra dimensão, mas não tão longe assim, António Bracinha Vieira, etólogo, psiquiatra, em entrevista a Alexandra Lucas Coelho, falava da crise da contemporaneidade e das suas invisibilidades e conformismos, marcadas em boa parte pelo dispositivo televisivo: «(…) O incaracterístico (…) é um homem sem horizonte, terrivelmente degradado, sem princípios, sem escrúpulo. (…) Se um milhão de pessoas ouve uma mensagem televisiva sedutora pode perder completamente a liberdade crítica. (…) Suponha uma pessoa que vive cinco horas diante da televisão. São cinco horas de escravatura. (…) Alguém que tenha potencialmente capacidades para um novo horizonte e que fique um dia perante a televisão, seguramente é um ser alienado e é a primeira vítima dessa alienação.»

Não tão longe de ambos, leia-se João de Almeida Santos, em referência ao livro “Spin”, de Giancarlo Bosetti, director da revista italiana “Reset” (Venezia, Marsilio, 2007): «Giancarlo Bosetti propõe-nos uma terceira fase nas relações entre intelectuais, cultura e política: a fase ‘spin’. Ou seja: o ‘spinning’ como “ópio do século XXI”. Trata-se de uma “tecnologia invasiva”, ou política com “efeito”. O discurso político é aqui emitido com efeitos de distorção capazes de induzir no receptor leituras e comportamentos vantajosos para o emissor. Trata-se, agora, de uma comunicação meramente instrumental, sem dimensão ontológica, visando a obtenção de “efeitos” eficazes, sem quaisquer pretensões de validade cognitiva.»

Dir-se-ia que, por oposição, quer Al Gore, quer Bracinha Vieira, quer João Almeida Santos, centram o seu discurso em torno de conceitos decisivos para pensar a televisão, a sociedade e conhecimento. A saber, nomeadamente, a questão da cidadania e da participação activa dos cidadãos na vida pública, a instrumentalização do sistema de media, a crítica da alienação e das distorções cognitivas do real, etc., etc., todos eles bons temas para reflectir no dia mundial da televisão.

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