12.4.07

A entrevista

38% dos portugueses que viam televisão ontem à hora da entrevista seguiram as explicações de José Sócrates na RTP1. Foram cerca de 1,6 milhões de portugueses. Mais de 60% optaram por ver outros programas. Em termos do todo nacional, a habitual minoria "esclarecida" quis prestar atenção ao tema. De entre essa, ouve uma evidente partição: os que não ficaram nada convencidos e os que ficaram totalmente convencidos. Entre os primeiros ouvimos logo Pacheco Pereira, Lobo Xavier, Joaquim Aguiar e os líderes da oposição à direita. Entre os segundos, os socialistas, de um modo geral. Significa que o assunto não ficou arrumado. Veremos se será assim e os reflexos da questão na opinião pública, na política e nos media.

Um dos argumentos recorrentes foi então o de que nem todas as perguntas foram feitas. Concordo. Algumas não tiveram razão de ser, outras porventura não chegaram sequer ao guião dos jornalistas. E a verdade é que depois do 'tornado' de Gondomar, que aniquilou Judite de Sousa, ontem tivemos um quase tornado que deixou os jornalistas perante algumas das suas próprias perplexidades. Mas Judite de Sousa fez ali falta, claramente.

Reconheça-se em todo o caso o empenho de José Alberto de Carvalho e Maria Flor Pedroso em cumprirem o seu guião relativo a muitas das perguntas que todos nos fazíamos. Mas os próprios reconhecem que fizeram as suas opções: Entrevistadores dizem que tiveram de "fazer opções" (Expresso online/Lusa): «Os entrevistadores do primeiro-ministro, José Alberto de Carvalho e Maria Flor Pedroso, admitiram hoje que poderiam ser necessários mais esclarecimentos sobre o percurso académico de José Sócrates mas justificaram que tiveram de "fazer opções".

«A quantidade de temas que foram discutidos exigiria mais detalhes talvez sobre algumas questões, mas houve que fazer opções", afirmou José Alberto Carvalho, no final da entrevista conjunta da RTP e RDP ao primeiro-ministro. A entrevista, que durou cerca de 90 minutos, dedicou metade deste tempo ao percurso académico do primeiro-ministro, servindo o restante para fazer um balanço dos dois anos do Governo.

«Identificámos as questões que era imperativo colocar, independentemente de serem agradáveis e desagradáveis", acrescentou o jornalista da RTP. José Alberto de Carvalho considerou ainda que esta foi das entrevistas onde os entrevistadores foram "mais condicionados" por outros órgãos de comunicação social.»


Sobre o discurso propriamente dito, reconheço agora eu próprio as minhas próprias perplexidades. Vai daí dei-me confrontado com "A concepção socrática da verdade" pensada por Donald Davidson sobre o Sócrates originário: "Por que Sócrates praticava o método da refutação? Uma das respostas é a que diz que ele pensava que usando-o seria conduzido às verdades morais." Voltemos então ao Sócrates originário.

Ainda:

Jorge Mourinha (Público online) Diálogos Socráticos.

José Miguel Júdice
(Público, 13.4.07) "A borboleta de Pequim ou o delta do Nilo": "(...) E com isto entramos nas coisas verdadeiramente importantes. O problema sociopolítico de Clinton foi o sexo, mas o problema relevante - o jurídico-político - foi outro, foi ter mentido perante um grande júri (não, não é um concurso de televisão...), falta tão grave que veio a ser suspenso por causa disso durante cinco anos na sua profissão de advogado.
"A comparação não é original, mas nem por isso é irrelevante. A grande questão que está em cima da mesa é a de saber se Sócrates na quarta-feira mentiu, ou se disse a verdade. Se disse a verdade (ou, se formos cínicos, como são em regra os povos velhos como os portugueses, se não se provar que mentiu), vai sair deste problema, melhor ou pior, como adiante se explicitará. Se vier a confirmar-se que mentiu, prevejo muito graves consequências (...)"

Filipe Luís (Visão online), O que resta do ‘UNIgate’: "Pelo menos três pontos ficaram por esclarecer na entrevista de José Sócrates à RTP e Antena 1. Mas deve reconhecer-se que o primeiro-ministro tem a sorte de se ter transformado num verdadeiro animal de televisão (...) A sensação final é a de que, mau grado a nebulosidade que permanece em várias questões, o primeiro-ministro terá desarmadilhado a bomba. Ora, para uma coisa dessas, é preciso ter dotes, se não de engenheiro, pelo menos, de sapador."

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