Do choque eléctrico ao telechoque
"(...) Já não há muitas coisas que me surpreendam depois de uns bons aninhos passados no jornalismo político. (...) Mas este último mês tem sido, no mínimo, extraordinário. Já sabíamos que o Mundo estava perigoso. Mas agora também está louco.
"O caso da campanha das “Novas oportunidades” é dos mais estúpidos e sintomáticos. O assunto já foi muito dissecado nos jornais e por razões que se resumem em poucas perguntas: cabe na cabeça de alguém fazer uma campanha destas quando o País inteiro discute os estudos do primeiro-ministro? (...) O problema é que por detrás de um cartaz ‘clean’ está uma mensagem errada, feita no momento errado e que não atingiu nenhum dos objectivos pretendidos".
"Se por acaso o Governo ainda quer continuar a campanha das Novas Oportunidades pode fazer um cartaz com Pina Moura que diga isto: “Este é o Joaquim Pina Moura que não saiu do PCP”. Conheço-o há muitos anos e gosto dele. Sei que é um tipo brilhante, culto, trabalhador e ultradisplinado e nunca o desvalorizei. Mas não percebo como é que ele aceita convites embaraçosos uns atrás dos outros. Convidar Pina Moura para presidir a um grupo de Media é uma ideia muito rebuscada e ligeiramente cómica. Pensar que ele pode aceitar faz-nos sorrir. Saber que ele aceitou faz-nos pensar bastante e ficar preocupados.
"O principal defeito de Pina Moura é não pensar antes de dar resposta aos convites que lhe dirigem. Foi isso que o fez cair em desgraça na política: aceitou ser ministro das Finanças e da Economia ao mesmo tempo e deixou de ser levado a sério; aceitou ser presidente da Iberdrola quando tinha sido ministro da Economia (e condicionado a EDP) e passou a ser olhado de forma suspeita; resolveu ficar sentado no Parlamento, onde não fazia nenhum, e deixou que as suspeitas crescessem. E agora aceitou ser presidente da Media Capital, o grupo de comunicação social com maior capitalização bolsista, dono de uma das duas licenças de televisão hertziana, numa altura em que o Governo é acusado de tentar controlar a comunicação social e quando está (mesmo) a criar um quadro legislativo e normativo que deixaria Estaline tranquilo. (sublinhado da redacção, recordando um virulento Vasco Pulido Valente e a última crónica "A nova censura", no Público, 15.4.07: "Em última análise, a Comissão de Carteira, como antigamente a de Censura, determinará o que é lícito ler, ouvir e ler num Portugal ao gosto do dr. Santos Silva e do primeiro-ministro.")
"Tudo isto acontece a convite da PRISA, o maior grupo de comunicação social da Península Ibérica, que tem uma relação com o PSOE muito perigosa, que no Governo Durão Barroso não conseguiu comprar a Lusomundo (três jornais, uma rádio e mais uns trocos) mas que no Governo Sócrates comprou uma das duas televisões e um ‘portfolio’ de rádios sem que o PS pestanejasse.
"Nem falo de José Lemos, que é do PS há mais tempo que Pina Moura, que foi duas vezes eleito deputado do PS, e que o acompanha para a administração depois de uma trapalhada gravíssima no CBI e na Caixa de Crédito Agrícola. Nem preciso de dizer que o homem forte da Prisa em Portugal, Miguel Gíl, foi secretário de Estado da Presidência de Felipe González e era o seu braço-direito durante muitos anos. (...)
"Ricardo Costa, Director da SIC Notícias"
Etiquetas: Controlo dos Media
1 Comments:
E nem preciso de dizer que o dono de um dos canais, é militante nº1 do PSD.
Ora tenham juizo.
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