Santos Silva como Moniz, ou os 'ghettos' da RTP
Quem tem alguma memória destas coisas lembrar-se-á que esta é uma velha estratégia dos anos mais negros da RTP no pós 25 de Abril (anos 80), de má memória, estratégia que foi essencialmente a responsável pela forte descaracterização do serviço público de televisão em Portugal. Com marcas evidentes, ainda hoje, na RTP1, quase trinta anos depois. A degradação do conceito de 'serviço público' e bem assim das práticas da RTP1 ao longo destas quase três décadas, fez-se sempre com base nesse álibi, que, vendo bem, é uma evidente perversidade: um canal para o 'grande público', outro para os 'públicos específicos', este que é, aliás, um conceito que não existe verdadeiramente em televisão generalista.
Desta forma mantém-se uma dupla discriminação, negando-se o conceito de 'serviço público' de forma idêntica, equilibrada e qualitativamente coerente para todos os telespectadores em ambos os canais: ao dito 'grande público' são-lhe fornecidas na RTP1 grelhas de programação de reduzida diversidade e de forte fidelização vertical e horizontal, e se estes quiserem "desgraçar-se" no ghetto da cultura, do documentário, da ficção, da divulgação etc., etc., (dir-se-ia, de um verdadeiro serviço público) então que mudem de canal, que há um ghetto cultural para isso mesmo...
Que esta estratégia se tivesse imposto nos anos 80, ao tempo do programador José Eduardo Moniz, nada se estranharia. Que ela regresse muito requentada, ainda uma vez, e desta feita pelas mãos de um homem de cultura, ministro socialista (mas não propriamente director de programas), Santos Silva de sua graça, já é algo, aparentemente, um pouco mais insondável. O homem faz, o monólito televisivo do Estado desfaz…
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