RTP: 50 anos de História, 50 anos de desencontros com 'o que está a acontecer'
Até 1974, sob a batuta de Salazar e Caetano. Do 25 de Abril à AD, com um controlo desmesurado, por vezes surreal, por vezes absurdo, quer do PC, quer da esquerda revolucionária. Durante a AD e nos governos do ‘bloco central’, primeiro com Cunha Rego e depois com Proença de Carvalho, a RTP foi submetida a um dos momentos mais negros da sua história em matéria de controlo político da informação. Antes das privadas, com Cavaco Silva, os tempos do PSD e do Governo (do PSD) no Telejornal, superavam mais de 50% do total do tempo do sistema político-partidário, incluindo o referente aos parceiros sociais.
De Cavaco para cá, na era da concorrência, a manipulação, ou o controlo mais grosseiro, dão lugar a formas não menos problemáticas de agendamento e alinhamentos televisivos, a saber: a actualidade trágica, os múltiplos telelixos informativos, os acidentes e as catástrofes, histórias pessoais do foro criminal que os jornais tratam como 'breves', o fogo como espectáculo, os fait-divers, os telejornais de 1 e mesmo 2 horas de duração ‘enchidos’ como chouriços, etc., etc.
Uma estratégia informativa que se instalou nas TV’s generalistas (e mesmo nas temáticas) como uma para-Censura, na medida em que, através destas práticas burocráticas, protocolares e miméticas, através do ‘jornalismo sentado’ e da via aberta aos porta-vozes oficiais e ao mundo do futebol, foi-se continuando a excluir aquilo que verdadeiramente ‘está a acontecer’, substituindo o valor-notícia da virtude civil, da experiência social e da Cidadania, pelo ‘infotainment’, pelo tabloidismo e por vezes mesmo pelo sensacionalismo.
Instituiu-se assim um modelo - que está aí - mais determinado pelos ‘people-meters’ do que pela ética do jornalismo e de antena. Pelo que, esta ‘comunicação’ serve, sobretudo, para a dissimulação da informação.
É altura, pois, de trazer este (dito) 'jornalismo' à razão, levando a RTP, o Serviço Público de Televisão, a erradicar esta estratégia perversa, de modo a recusar definitivamente o país do 'people meter', adoptando as boas práticas da ética profissional e do desígnio do jornalismo cívico e de serviço público, e começando a olhar, através de um olhar verdadeiramente à altura dos homens, para Portugal e para a sua pulsão de futuro. Não será tarefa fácil. Mas essa é a sua missão, é afinal essa a dimensão maior do jornalismo, a sua grande responsabilidade social.
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