15.1.06

Bocage, a RTP e a questão do 'Serviço Público'

Titula o CM: "Azar em noite de sexta-feira, 13. Bocage estreia fora do top": "‘Bocage’ teve azar na noite de estreia, anteontem, sexta-feira, 13. O primeiro episódio da série histórica, protagonizada por Miguel Guilherme, não conseguiu posicionar-se entre os 20 programas mais vistos do dia: apenas cerca de 440 mil pessoas assistiram à estreia na RTP 1, registando-se um ‘share’ de 15,9%."

Comparando com as audiências das séries da TVI, este parece um valor menor. Mas se compararmos com as melhores 'audiências' de sempre do cinema português, em sala, 440 mil telespectadores é quase o dobro dos mais altos valores de sempre...

De facto, há uma certa 'paranóia' quando se fala neste país de audiências e de serviço público de televisão. Em vez de se exigir qualidade e rigor à RTP pede-se, de certa maneira, o seu contrário: mais e mais público. Se há uma margem nessa relação que é possível conquistar, a verdade é que o serviço público existe acima disso, para ser uma referência para a Cidadania. E quanto mais se afirmar consistentemente e coerentemente nessa matéria, mais e mais público ganhará. O problema é que a RTP tem 50 anos de história de inconsistência e de incoerências graves em matéria de serviço público de televisão, e não pode querer que o Milhão de telespectadores que tem com O Preço Certo em Euros (um programa que não tem nada de 'Serviço Público', bem pelo contrário) passe depois para a série histórica da noite, ainda por cima com Bocage a começar às 22h59! (horário anunciado pela RTP: 22h15, já de si muito tardio).

Trocando por miúdos: ou a RTP começa dedicada e humildemente a formar Cidadãos neste país, com um Serviço Público de qualidade, reconhecido por um Regulador forte e exigente e por uma opinião pública competente nesta matéria - e identificar-se-á com o que todos ambicionamos para o futuro deste país -, ou prefere manter, diariamente, num slot fundamental para a afirmação da estratégia de qualidade e de diversidade da programação (a que, aliás, o Contrato de Concessão obriga), uma grelha 'comercial' que começa no Preço Certo em Euros, prossegue com um Telejornal-'mealheiro' de 1 hora de duração e continua com um suporífero 'Cofre', todas elas razões que 'tilintam', mas que não cumprem a lei e a concessão de serviço público de televisão.
Site Meter