21.12.05

Soares contra ‘ele’ (próprio)

Eu, tu, ele, nós, vós, eles… Quando num debate televisivo entre dois candidatos um deles trata o outro por ‘ele’, fica muito para além de qualquer relação de subordinação aceitável no processo de comunicação entre enunciador e destinatário. E fica aquém do que é razoável no plano ético. Excede a regra da delicadeza. Uma tal lamentável estratégia só pode ser entendida por um quase desesperado ‘tour de force’ para levar Cavaco à irritação e eventualmente a cometer enormes ‘gaffes’ ou mesmo um acto irreflectido. Uma estratégia que claramente se voltou contra o próprio Soares, por muito que custe a todos os que acham que ele é a grande figura do Portugal do pós-25 de Abril. Soares deveria ter sido poupado a esta estratégia ('Este não é o Soares que eu conheço e estimo', dizia Maria João Avillez na SIC Notícias).

Valha que muitos mais telespectadores do que se pensaria (esta uma grande questão sobre o debate) estavam a ver outros programas! O share do debate foi de 34,6% (14,6% de audiência média, ou seja, 1,381 milhões de telespectadores, em média), mas sensivelmente no mesmo ‘slot’, o Jornal Nacional da TVI teve 31,1% e o Jornal da Noite da SIC teve 25,4%, para além dos 40,6% da novela Dei-te Quase Tudo, que arrancou às 21h19, com o debate a decorrer. Para se ter uma ideia de como vai a ‘cidadania’ política dos telespectadores, anote-se que o último episódio da novela Ninguém Como Tu obtinha na mesma noite 25,9% de audiência média e 67,2% de share! (2,450 milhões de telespectadores!). Refira-se que de todos os 10, o debate entre Cavaco e Soares foi o 4º mais visto pelos telespectadores, o que não deixa de colocar novas interrogações...

Não me venham agora dizer que a Televisão não precisa de ser fortemente regulada (pela - e para a - Política; pelo - e para o - Conhecimento; pela - e para a - Cidadania).
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