14.12.05

Apontamentos sobre o debate televisivo Jerónimo x Cavaco

O que mais se estranha nestes debates – e no de Jerónimo x Cavaco também -, é a má reciclagem de desempenho televisivo de Cavaco Silva. Neste último debate, alguns progressos se realizaram pelo candidato favorito, mas a imagem da Pietà sem menino nos braços reaparece sempre, sobretudo quando aguarda o contra-ataque, ou quando colocado sobre tensão/insinuação, ou mesmo quando pretende ‘mimar’ a sinceridade e representar a convicção.

As mãos de Cavaco quase lhe tapam o rosto. No seu caso, os olhos dizem sim, mas as mãos dizem talvez… Aparece como o catedrático que ainda recorre às cábulas, tendo ao lado o operário cuja maior ferramenta é tratar as cábulas como um catedrático.

Cavaco mantém-se tenso, até quando está na razão. Qualquer olhar mal reciclado custa-lhe milhares de votos e deixam-no na linha de água da 2ª volta. Para Cavaco, neste debate (como nos outros, afinal), o ideal teria sido trocar o corpo pelo de Jerónimo e pedir-lhe ainda as mãos emprestadas, mantendo a matéria cinzenta. Teríamos então um Cavaco novo, um Cavaco solto, crente em si próprio. Nesta medida, nestes debates, a excelência da prestação e da performance podem fundar a legitimidade. A televisão está aí para dar uma mão. Alguém que a agarre… [publicado no DN de hoje]
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