25.2.05


Telos, Cuaderno Central (TDT) Oct.-Dec. 2003


Da Caverna de Platão à Caverna da Televisão (I)
O diálogo entre Sócrates e Glauco (Platão, República, Livro VII), na alegoria da caverna, retrata o pensamento de Platão quando pretendia dizer que era do interior de nós e não das ‘mediatizações’ que se alcançavam os ‘verdadeiros objectos’.
Tal como se retira do Fedro: confiando na escrita é do exterior de si e não de si próprios que os homens se recordarão das coisas. O código de escrita seria para Platão, efectivamente, um simulacro do real, uma 'arte da ilusão'. Platão via assim o acto de delegação do saber na escrita como uma perda, dado os caracteres obrigarem a uma mnemotécnica, a um 'conhecimento técnico’ que desabituava do 'esforço interior' e que, portanto, engendrava a ilusão de um saber não crítico e facilmente adquirido para ser solidamente fundado.
Vejamos o princípio da alegoria da caverna, do Livro VII, do República, onde Platão abre esse diálogo. Diz Sócrates:
- (…) Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro, no género dos tapumes que os homens dos «robertos» colocam diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles.
(…)
- Visiona também ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie de objectos, que o ultrapassam: estatuetas de homens e de animais, de pedra e de madeira, de toda a espécie de lavor; como é natural, dos que os transportam, uns falam, outros seguem calados.
- Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas - observou ele.
- Semelhantes a nós - continuei. Em primeiro lugar, pensas que, nestas condições, eles tenham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras projectadas pelo fogo na parede oposta da caverna?

(...)
(continua)
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